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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Burnley 1973-74: O último grande momento dos Clarets na elite antes da atual campanha

Atualizado: 4 de mai. de 2018


O time dos Clarets que chegou em sexto na liga em 1973-74. Em pé: Geoff Nulty, Keith Newton, Jim Thomson, Alan Stevenson, Colin Waldron, Ray Hankin e Doug Collins. Sentados: Billy Ingham, Mick Docherty, Paul Fletcher, Martin Dobson, Frank Casper, Leighton James e Peter Noble.

Com os resultados deste sábado na Premier League, o Burnley praticamente garantiu uma ótima sétima colocação na atual temporada, sua melhor em mais de 40 anos. A campanha também deve leva-lo de volta às competições europeias, as quais disputou apenas a Copa dos Campeões em 1960-61 e a Copa das Feiras em 1966-67, chegando em ambas as ocasiões às quartas de final. É uma boa oportunidade para recordar o último grande momento dos Clarets na primeira divisão inglesa, em 1973-74, quando saltaram do acesso direto para um surpreendente sexto lugar, alcançando ainda a semifinal da FA Cup.


NO COMANDO, UM VELHO ÍDOLO


Treinava aquele time um velho ídolo do clube de Lancashire: Jimmy Adamson, médio-direito do time campeão inglês de 1960 e sexto jogador com mais partidas pelo Burnley na história (486 jogos). Adamson, que só defendeu os Clarets em toda a carreira, não chegou a entrar em campo pela seleção inglesa (apenas uma vez pela equipe B), mas esteve entre os 22 convocados para a Copa do Mundo de 1962 – mesmo ano em que foi eleito o jogador do ano pela associação de cronistas esportivos ingleses.


No Chile, aos 33 anos, cumpriu ainda o papel de auxiliar do técnico Walter Winterbottom nos treinamentos. Foi tão bem na função (embora os ingleses tenham caído nas quartas de final diante do Brasil) que chegou a ser convidado pela Football Association a assumir o comando quando Winterbottom deixou o cargo, no fim daquele ano. Sua negativa levou à contratação de Alf Ramsey. Adamson ainda seguiu jogando pelos Clarets por mais duas temporadas, antes de enfim pendurar as chuteiras.


Em fevereiro de 1970, quem passava por mudanças era o Burnley, que vinha de campanhas discretas desde um ótimo terceiro lugar obtido em 1966. Harry Potts, lendário técnico campeão uma década antes, subia de posto para assumir funções de supervisão, enquanto Adamson era apontado como novo treinador. Ao fim daquela temporada, o time ficaria pela quarta temporada consecutiva na 14ª colocação.


A primeira campanha completa de Jimmy Adamson no comando não foi melhor. Pelo contrário: o Burnley ficou em penúltimo e acabou rebaixado após 24 temporadas seguidas na elite. A posterior também não começou bem, e o clube ocupou a metade inferior da tabela durante grande parte da temporada. Adamson balançou, mas foi mantido no cargo, e o time venceu seus seis últimos jogos, terminou em sétimo e pegou o embalo: em 1972-73 conquistaria o título da segunda divisão coroando uma ótima campanha (62 pontos ganhos e só quatro derrotas em 42 jogos), conquistando o acesso junto com o Queens Park Rangers.


A EQUIPE


O armador Martin Dobson: referência do jogo da equipe.

O time que retornou à elite girava em torno do talentoso meia Martin Dobson, armador de ótimo passe e visão de jogo, e que no início de 1974 (portanto, metade daquela temporada da volta) chegaria à seleção inglesa. Naquele elenco, havia ainda outro jogador de experiência internacional entre os titulares: o lateral Keith Newton, 32 anos, ex-Blackburn e Everton, que havia defendido o English Team em 27 partidas entre 1966 e 1970, incluindo três jogos na Copa do Mundo do México.


Além deles, o time-base para 1973-74 começava pelo jovem goleiro Alan Stevenson. Na lateral direita, o dono da posição deveria ser Mick Docherty, titular nas duas campanhas anteriores. Mas ele se lesionou na estreia, contra o Sheffield United fora de casa. Na época, apenas um jogador ficava no banco, o que forçou o técnico Jimmy Adamson a lançar na posição o atacante reserva Peter Noble. E ele se saiu tão bem que entrou de início já na partida seguinte e acabou tomando conta da camisa 2 pelo resto da competição.


A dupla de zaga era formada por dois ex-jogadores do Chelsea, mas que não chegaram a se firmar em Stamford Bridge: o escocês Jim Thomson, revelado pelo clube londrino e trazido em setembro de 1968, e o capitão Colin Waldron, que se converteria em um dos principais nomes do elenco e um dos jogadores mais respeitados pela torcida pouco depois de chegar, em outubro de 1967.


Na meia-direita, assim como na lateral por aquele lado, havia outro atacante de origem, Geoff Nulty, que teve mais liberdade para atestar seu faro de gol, marcando nove vezes na liga e terminando como o vice-artilheiro do clube naquela campanha. Pelo centro, ao lado do já citado Martin Dobson, atuava outro armador, o experiente Doug Collins. E pela esquerda, o ofensivo ponta galês Leighton James confirmava suas qualidades após ter sido uma das revelações da equipe nas duas campanhas na segunda divisão.


Na frente, havia o goleador Paul Fletcher, trazido do Bolton em 1971 pela soma recorde paga até então pelos Clarets. Já seu companheiro da temporada anterior, Frank Casper, seria outro a se lesionar no início da campanha. O substituto seria Ray Hankin, um garoto da base de apenas 17 anos, e que havia feito seu primeiro jogo pelos profissionais (e o único até o começo daquela temporada) em abril daquele ano.


O BOM COMEÇO


A temporada foi aberta com uma surpresa. Como campeão da segunda divisão, o clube foi convidado para jogar a Charity Shield, a “supercopa” inglesa, devido às desistências tanto do Liverpool, vencedor da liga, quanto do Sunderland, detentor da FA Cup. Seu adversário seria o Manchester City, que disputara e conquistara a Charity Shield no ano anterior nas mesmas circunstâncias. Mesmo tendo de jogar a partida única no campo do adversário, em Maine Road, o Burnley bateu o City por 1 a 0, gol de cabeça do zagueiro Colin Waldron, e levantou o troféu, num bom presságio para aquela campanha.


E, de fato, a equipe largou muito bem no retorno à elite: nas primeiras cinco partidas, venceu quatro e empatou uma – incluindo três triunfos como visitante diante de Sheffield United (na estreia), Tottenham e Wolverhampton. Só não se manteve na liderança pelo excepcional início do Leeds, que tinha 100% de aproveitamento àquela altura. Durante o mês de setembro, porém, ficou três jogos seguidos sem vencer, descendo para o sexto lugar e recuperando-se apenas no último jogo, ao aplicar 3 a 0 no Manchester City.


Ray Hankin marca de cabeça contra o Derby no Turf Moor.

A vitória de 1 a 0 sobre o West Ham em Upton Park no jogo seguinte, com gol de Colin Waldron, recolocou o time na vice-liderança, retomando a perseguição ao Leeds. E outro resultado positivo – 2 a 1 em casa diante do Queens Park Rangers – diminuiu a diferença na ponta para dois pontos. No entanto, em seguida o time foi ao Goodison Park e perdeu para o Everton (outro que entrava na briga) por 1 a 0. E perdeu também o embalo: empatou os três jogos seguintes, sendo dois em casa (um contra o claudicante Manchester United e outro contra o ponteiro Leeds), e perdeu para o Leicester em Filbert Street.


Os maus resultados tornaram a derrubar a posição do time – ainda que não tanto, graças ao equilíbrio na classificação (três pontos separavam o vice-líder momentâneo Newcastle do nono colocado Derby County). A tabela, porém, dava uma boa chance de mais uma recuperação: dos seis jogos que os Clarets fariam até o fim do ano, cinco seriam no Turf Moor. E a equipe aproveitou a chance: bateu o Stoke, o Norwich (ambos por 1 a 0), o Arsenal e, na rodada de Boxing Day, o Liverpool (estes, por 2 a 1), empatando apenas o último, contra os Wolves (1 a 1). Foi o suficiente para terminar o ano de 1973 em terceiro.


APÓS O PIOR MOMENTO, O GRANDE RESULTADO


Entretanto, 1974 não começou bem: logo no segundo jogo do ano pela liga, a campanha sofreu um grande abalo com a goleada de 5 a 1 sofrida diante do Derby County na casa do adversário. Tanto que uma semana depois viria a primeira derrota em casa na competição, 2 a 1 para o mesmo Sheffield United batido dentro de Bramall Lane na estreia dos Clarets. A equipe se arrastaria sem vitórias pela liga em 1974 até meados de março. Seriam nove jogos sem triunfo no novo ano, sendo três empates e seis derrotas.


Com a derrota para o Chelsea por 3 a 0 em Stamford Bridge no dia 13 de março, a equipe desceria ao oitavo posto, sua pior classificação naquela temporada. A derrocada só seria interrompida três dias depois, com a vitória diante do Everton por 3 a 1 no Turf Moor. Mas a tempo de propiciar um dos resultados mais chocantes daquela temporada, dali a uma semana.


Paul Fletcher acerta a antológica bicicleta contra o Leeds em Elland Road.

Naquele 1973-74, o Leeds era o time a ser batido. Ostentou até 23 de fevereiro, quando foi enfim derrotado pelo Stoke no Victoria Ground, uma espantosa invencibilidade de 29 jogos. Até ali, vinha liderando com nove pontos de vantagem sobre o Liverpool (ainda que com um jogo a mais) e nada menos que 16 de frente sobre Derby e Ipswich, que vinham logo depois. O tropeço, no entanto, levou a outros: pouco menos de um mês depois, ao perder o confronto direto contra os Reds em Anfield no dia 16 de março, a vantagem havia sido encurtada para seis pontos, e agora com dois jogos disputados a mais para os Whites.


Assim, o time dirigido por Don Revie encarava a partida com o Burnley em Elland Road como um novo ponto de partida para reafirmar suas credenciais ao título. Mas faltou combinar com os Clarets, que saíram na frente com um gol de Paul Fletcher aos 17 minutos. O Leeds empatou aos 36, com um gol de peixinho de Allan Clarke e pareceu partir para a virada. Mas foi o Burnley quem voltou a marcar cinco minutos depois, outra vez com Fletcher, numa antológica bicicleta.



Com o Leeds mentalmente em frangalhos, o Burnley não teve trabalho para voltar a marcar depois do intervalo: uma saída errada dos Whites resultou numa troca de passes que terminou na conclusão de Doug Collins, encobrindo o goleiro David Harvey aos 17 minutos. E aos 24, Geoff Nulty marcou o quarto, de cabeça, mesmo caído. Apesar da goleada consolidada, houve um momento de raiva e tristeza: Frank Casper, que voltava de lesão no joelho, levou um pontapé fora do lance de Norman Hunter exatamente no mesmo local onde se machucara. Sua carreira praticamente acabaria ali.


O BALANÇO FINAL


Uma semana depois, o Burnley jogaria suas fichas em outra chance de sucesso na temporada, a FA Cup. Porém, depois de ter despachado Grimsby, Oldham, Aston Villa e Wrexham, o sonho de reconquistar a taça vencida apenas uma vez, 60 anos antes, parou no Newcastle, que venceu por 2 a 0, com gols de Malcolm McDonald. Os Clarets ainda bateram o Leicester numa insólita decisão de terceiro lugar que havia então no torneio, mas nem isso amenizou a frustração. Em abril, também diante dos Magpies, viria a derrota na final de outro torneio disputado na época, a Copa Texaco, que reunia equipes inglesas e escocesas.


A extraordinária vitória sobre o Leeds em Elland Road seria mesmo o último grande momento dos Clarets na temporada. Dali em diante, o time voltaria a oscilar: nos últimos nove jogos pela liga, venceu três, empatou quatro e perdeu dois (um deles, goleado por 4 a 0 na visita ao Stoke), flutuando entre a quinta e a sétima posições, e acabando ali no meio, em sexto.


Não foi o suficiente para obter a classificação europeia: o Stoke somou os mesmos 46 pontos, mas levou a melhor no critério do goal average, ficou em quinto e faturou a última vaga na Copa da Uefa. Mas o bom desempenho no geral foi reconhecido também do ponto de vista das individualidades: no começo de abril, Martin Dobson faria sua estreia pela seleção em amistoso contra Portugal em Lisboa, o último jogo sob o comando de Alf Ramsey.


O meia permaneceria no English Team no curto período em que Joe Mercer, ex-técnico do Manchester City, comandaria a equipe interinamente e também disputaria a primeira partida da era Don Revie na seleção. Mas nessa altura, outubro de 1974, já havia sido negociado com o Everton. Geoff Nulty também saiu, vendido ao Newcastle. Sem eles, o time até repetiu o bom início da campanha anterior, mas naufragou na reta final e terminou em décimo.


O declínio começaria mesmo na temporada seguinte, com a 21ª colocação e o novo rebaixamento. Da segunda divisão, o time caiu para a terceira em 1980. Experimentou um breve renascimento ao trazer de volta Martin Dobson e se sagrar campeão desta categoria em 1982, mas cairia novamente no ano seguinte. O pior viria a partir de 1985: rebaixado para a quarta divisão, o clube esteve muito perto de perder a vaga na Football League na temporada 1986-87 – a primeira em que foi instituído o descenso obrigatório para a non-league – escapando com uma vitória na última rodada.


Ainda demoraria mais de duas décadas para que os Clarets fossem resgatados do ostracismo quase completo e trazidos de volta à divisão de elite, o que aconteceria em 2009. Mas mesmo neste período mais recente, a vida na Premier League foi intermitente, participando apenas das temporadas 2009-10, 2014-15 e de 2016 em diante. Agora, com a boa campanha atual, o clube espera se credenciar a uma permanência mais duradoura.

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