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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

O Rotherham nunca jogou a elite - mas já bateu na trave duas vezes


Um time dos Millers para a temporada 1954-55: acesso perdido no "goal average".

Neste domingo, bem no dia em que completou 93 anos de fundação, o Rotherham United superou o Shrewsbury Town por 2 a 1 na prorrogação pelo playoff decisivo de acesso da League One (a terceira divisão inglesa) e confirmou seu retorno à Championship, da qual havia caído na última temporada. O clube de South Yorkshire ganha outra chance de tentar finalmente estrear na elite, o que buscará em 2019. E o que poderá encerrar os traumas de duas grandes histórias de frustração separadas por três décadas, ainda antes do advento da Premier League.


Das 30 temporadas em que os Millers estiveram na segunda divisão em sua história, o período mais duradouro veio entre 1951-52 e 1967-68, totalizando 17 campanhas. O time rondara o acesso em 1953-54, quando terminou na quinta colocação, sete pontos atrás dos promovidos Leicester e Everton. Mas nunca estaria tão perto da elite quanto na campanha seguinte, que registrou um dos desfechos mais dramáticos na disputa pelo acesso.


A MAIOR CHANCE DE TODAS


O time largaria com seis vitórias nos sete primeiros jogos – incluindo dois triunfos sobre o Leeds: 4 a 2 fora de casa e 3 a 0 no seu estádio de Millmoor. E embora registrasse uma campanha bem ao estilo “matar ou morrer” (somaria apenas quatro empates em 42 partidas, com 25 vitórias e 13 derrotas ao fim da temporada), ficaria quase sempre perto das primeiras posições, chegando inclusive a ocupar a ponta da tabela, em meio a uma disputa bastante acirrada.


Após a rodada de 23 de abril de 1955, seis times ainda tinham chance de ocupar as duas vagas de acesso. O Leeds liderava com 51 pontos, mas apenas um jogo por cumprir. O Rotherham vinha em seguida com os mesmos 50 pontos de Luton e Stoke, mas uma partida a mais para fazer em relação aos outros dois. O Birmingham também tinha três jogos pela frente, mas somava um ponto a menos, empatado com o Blackburn (já praticamente descartado por só ter um jogo a cumprir). A briga estava completamente em aberto.


O ponta-esquerda Ian Wilson: goleador contra o Liverpool.

Dois dias depois, os Millers bateram o Swansea Town por 2 a 0, chegando a sua sétima vitória consecutiva, e assumiram a liderança, ao lado do Stoke (que vencera o derby local contra o Port Vale) e eliminando, por tabela, o Blackburn. No dia 27, o Luton se juntava aos dois na ponta, com o Rotherham ainda mantendo a vantagem de um jogo a menos. E a rodada crucial viria no dia 30, a última jornada “cheia” do campeonato”.


O Stoke perdeu seu último jogo em Plymouth e caiu fora da briga. O Birmingham parou num empate em 2 a 2 com o Liverpool em Anfield (com os Reds mordidos pela derrota humilhante por 9 a 1 sofrida em St. Andrew’s no jogo de ida). Mas Luton e Leeds venceram, respectivamente, Doncaster e Fulham como visitantes, obrigando o Rotherham a arrancar pelo menos um empate fora de casa diante de um também mordido Port Vale. Não deu. A derrota por 1 a 0 teria impacto decisivo na campanha dos Millers.


Faltavam apenas duas partidas para o encerramento da disputa. Na primeira, o Rotherham receberia o Liverpool em 2 de maio. Na segunda, dois dias depois, o Birmingham faria uma visita ao Doncaster. Os Millers reiteraram sua disposição de levar uma das vagas do acesso ao golearem impiedosamente os Reds por 6 a 1, com quatro gols do ponta-esquerda Ian Wilson. Mas sofriam por terem o pior goal average entre os contendores (a goleada “insuficiente” ironicamente confirmou o acesso do Luton).


Assim, não tinham outra alternativa que não torcerem por um empate ou derrota do Birmingham em Belle Vue. Mas os Blues também golearam por 5 a 1, selando não só seu acesso como também levantando o título da segunda divisão, feito surpreendente para um clube que até o último jogo não havia ficado nenhuma vez na temporada entre os dois primeiros colocados. Birmingham, Luton e Rotherham terminaram com os mesmos 54 pontos, mas só os dois primeiros subiram.


O SEGUNDO GRANDE “QUASE”


A segunda vez em que o Rotherham andou perto do acesso foi em 1981-82, graças a uma arrancada incrível na segunda metade da campanha. A equipe que vinha do título da terceirona era dirigida por Emlyn Hughes, ex-defensor e ídolo do Liverpool, e que vez por outra também ainda entrava em campo. E contava com nomes que se tornaram ídolos do clube como o ponteiro Tony Towner e o centroavante Ronnie Moore (artilheiro do campeonato com 22 gols), recebendo ainda naquela temporada o reforço do meia escocês Gerry Gow, ex-Manchester City.


Embora estreassem bem, goleando o futuro promovido Norwich por 4 a 1, os Millers fizeram uma campanha bastante irregular na primeira metade da tabela e chegaram a ocupar a 20ª posição. Colheram, entretanto, outro resultado histórico nessa fase ao arrasarem o Chelsea por 6 a 0, com um hat-trick do atacante Rodney Fern. Porém, ao fim de janeiro, o clube havia somado apenas seis triunfos (todos em casa), três empates e 11 derrotas em 20 partidas.



O mês de fevereiro mudaria tudo. E como. A equipe enfileiraria uma inigualável sequência de nove vitórias (oito naquele mês e uma já em março), mesmo jogando numa frequência intensa, praticamente a cada três dias. A décima só não chegaria por um pênalti perdido por Tony Towner nos acréscimos de um empate em 0 a 0 com o Newcastle em casa. Mais adiante, outra penalidade no fim também seria perdida no 2 a 2 contra o Luton. Ambos fariam falta para concretizar o acesso. Mas antes disso, houve outras grandes vitórias.


Uma delas foi o jogo da volta contra o Chelsea, que terminou em goleada de 4 a 1 para os Millers dentro de Stamford Bridge (fazendo com que o placar agregado contra os Blues, então sofrendo séria crise técnica e administrativa, chegasse a hoje inimagináveis 10 a 1). Em seguida, o time bateria o Queens Park Rangers – que também brigava pelo acesso e ainda chegaria à final da FA Cup naquela temporada – e, na penúltima rodada, golearia o Blackburn por 4 a 1.


Com o jogador-técnico Emlyn Hughes (o primeiro em pé), o Rotherham que ficou perto de subir em 1982.

Infelizmente para os Millers, alguns tropeços como os três empates seguidos em casa por 2 a 2, contra Grimsby, Luton e o rival direto pelo acesso Sheffield Wednesday, dariam à goleada sobre os Rovers um gosto amargo: no mesmo dia 8 de maio, o Norwich bateria o rebaixado Orient e confirmaria a terceira vaga na elite. O Rotherham iria para a última rodada na quarta posição, mas já matematicamente sem chances.


Na despedida, uma derrota na visita ao condenado Wrexham anteciparia a melancolia da campanha seguinte, quando os Millers acabariam eles próprios rebaixados à terceira divisão. O clube ainda voltaria a jogar a segundona, já na era Premier League, primeiro entre 2001-02 e 2004-05 e mais tarde entre 2014-15 e 2016-17. O acesso imediato depois de apenas uma temporada na League One traz esperanças de, mantendo o embalo, a sonhada estreia na elite finalmente venha no próximo ano.

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