top of page
  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Antes da Premier League, Fulham teve vida discreta na elite


O Fulham da temporada 1959-60, décimo colocado na primeira divisão.

Ao derrotar o Aston Villa por 1 a 0 em Wembley neste sábado, o Fulham, clube da zona oeste de Londres, comemora mais um retorno à elite do futebol inglês. O time alvinegro vinha jogando a Championship (segunda divisão), desde a queda em 2014, a qual encerrou uma sequência de 13 campanhas na Premier League. Este período foi o melhor de sua história na categoria maior. Antes dele, os Cottagers haviam cumprido 12 campanhas bastante discretas entre as décadas de 1940 e 1960.


Clube mais antigo de Londres a pertencer ou já ter pertencido à Football League, o Fulham foi fundado em 1879 e admitido na liga em 1907. E até pouco depois da Segunda Guerra Mundial, havia disputado quase todas as temporadas na segunda divisão, exceto por quatro campanhas na terceira, entre 1928-29 e 1931-32. A chegada à elite se deu apenas em 1949, quando o clube venceu a categoria de acesso após briga ferrenha com West Bromwich Albion (que também subiu) e Southampton.


Nesta primeira passagem, sob o comando de Bill Dodgin, ficaria apenas três temporadas, sempre na parte de baixo da tabela: foi 17º em 1950, 18º em 1951 e finalmente 22º, ou lanterna, em 1952, retornando à segunda divisão. Logo após esta queda, no entanto, o clube começaria a reunir um bom grupo de jogadores, que não só seria importante no retorno à elite como também se tornaria célebre no futebol britânico. Este segundo acesso, em 1959, foi conquistado sob o comando de Bedford Jezzard, ex-jogador do clube de apenas 32 anos.


No elenco, nomes como o lateral-direito George Cohen, que seria o dono da posição na seleção inglesa campeã do mundo em 1966. O jovem volante Alan Mullery, que mais tarde defenderia o Tottenham e o bom English Team que disputou o Mundial de 1970. O meia Johnny Haynes, exímio passador, que se tornaria uma bandeira do clube pelo qual atuou por 18 anos. E o atacante Jimmy Hill, um homem da Renascença do futebol: foi presidente da associação de jogadores e, mais tarde, técnico, presidente de clube, jornalista e apresentador de programas esportivos na TV.


Johnny Haynes (em primeiro plano): o "Maestro", considerado o maior jogador e ídolo da história dos Cottagers.

A campanha logo após o retorno foi a melhor do clube em sua história pré-Premier League. Foi a única vez no século XX em que terminaram entre os dez primeiros (exatamente em décimo), registrando boas vitórias, com um 3 a 0 sobre o Arsenal, e goleadas sobre o Manchester City (5 a 2) e o rebaixado Leeds (5 a 0). Por outro lado, também sofreu pesadas derrotas, como um 5 a 0 em casa diante do Manchester United e um avassalador 9 a 0 para o Wolverhampton, o maior placar da primeira divisão naquela temporada.


Daí em diante, acomodou-se de vez na parte inferior da tabela. Foi 17º colocado em 1961 (com 95 gols sofridos na conta), salvou-se por um ponto do rebaixamento em 1962 (que condenou Cardiff City e o rival Chelsea), foi 16º em 1963, 15º em 1964 (em campanha marcada por outra goleada absurda, agora a favor: 10 a 1 em cima do lanterna Ipswich), 20º em 1965 e também em 1966 – nesta, empreendendo uma grande escapada da degola, que levou o Northampton em seu lugar, como lembramos aqui no post anterior – e 18º em 1967.


O maior período do clube na elite antes da Premier League terminaria na temporada 1967-68, quando os Cottagers – tendo na época o popular comediante inglês Tommy Trinder entre seus dirigentes – fariam campanha um tanto lastimável, ainda que fossem comandados em parte da temporada pelo experiente Vic Buckingham (substituído por um novato Bobby Robson, ex-atleta do clube) e contassem com Cohen, Haynes e o jovem atacante Allan Clarke (futuro Leeds).


A equipe somou apenas 27 pontos, seis a menos que o antepenúltimo (e salvo) Coventry City. Em 42 partidas, sofreu 25 derrotas e 98 gols, superando a marca negativa de 1961. A queda para a segunda divisão foi logo seguida por outra, para a terceira, já em 1969. Embora retornasse à segundona dois anos depois, o clube somente voltaria a chamar a atenção do grande público e da imprensa em 1975, em meio a uma campanha histórica na FA Cup.


NA FA CUP, UMA CAMPANHA MAIS MARCANTE


Os Cottagers já haviam alcançado a semifinal do torneio quatro vezes anteriormente: em 1908, 1936, 1958 e 1962 – curiosamente, apenas na última eram um time da elite. Naquela campanha de 1975, começaram tendo dificuldade exatamente contra companheiros de segunda divisão: precisaram de dois replays para despachar o Hull City e de outros três para eliminar o Nottingham Forest do recém-chegado Brian Clough.


Mas em seguida, bateram Everton e Carlisle (então na elite) de primeira, jogando fora de casa. Na semifinal, houve drama contra o Birmingham, com o gol da classificação vindo no último minuto da prorrogação no jogo-desempate em Maine Road. Já na decisão, o adversário seria o West Ham, num jogo especial para um certo zagueiro do Fulham: o veterano Bobby Moore, 34 anos, 16 deles passados no time principal dos Hammers.


Alan Mullery e Bobby Moore, após a decisão da FA Cup de 1975.

O Fulham também voltava a contar com Alan Mullery, aos 33 anos e agora como capitão. Mas na decisão, o West Ham levou a melhor e venceu por 2 a 0, gols de Alan Taylor, conquistando pela segunda vez o torneio. Cinco anos depois, os Cottagers sofreriam novo rebaixamento à terceira divisão, voltando em 1982. E por pouco não emendaram um novo acesso, agora à elite, no ano seguinte, dirigidos pelo ex-atacante Malcolm Macdonald.


“Supermac” tinha à sua disposição um elenco de bons valores, muitos deles jovens e que se projetariam para clubes maiores pelos próximos anos: o goleiro irlandês Gerry Peyton, o lateral Paul Parker, o zagueiro Tony Gale, o meia Robert Wilson, o ponteiro irlandês Ray Houghton e o atacante galês Gordon Davies. Esteve boa parte da temporada entre os três que subiam, ao lado de Queens Park Rangers e Wolverhampton. Mas na reta final começou a hesitar e jogou fora uma enorme vantagem em relação ao Leicester, da dupla de ataque Gary Lineker-Alan Smith.


Os dois foram empatados para a última rodada, em 14 de maio de 1983. Os Foxes empataram sem gols com o ameaçado Burnley, mas os Cottagers, que visitavam o Derby (outro que precisava de resultado contra a degola), sofreram um gol no fim de um jogo que não chegou a terminar, pela invasão de campo generalizada dos torcedores locais. Ainda que apelassem pela anulação da partida ou pelos pontos do jogo, o resultado foi mantido, com o Leicester subindo.


O Fulham do quase acesso em 1982-83, treinado por Malcolm Macdonald (sentado, de camisa vermelha). O goleiro Gerry Peyton (primeiro de camisa verde) e o meia Ray Houghton (penúltimo em pé) disputaram Copa do Mundo pela Irlanda, enquanto o lateral Paul Parker (penúltimo jogador sentado) jogou o Mundial de 1990 pela Inglaterra.

NA ERA PREMIER LEAGUE, UM PERÍODO MAIS AUDACIOSO


Em 1996, o clube estava no limbo. Disputando a quarta divisão, terminara a temporada em 17ª entre 24 participantes, a pior posição na liga de sua história. Um ano depois, acabaria adquirido pelo magnata egípcio Mohamed Al-Fayed, cujos investimentos maciços em jogadores experientes e em uma comissão técnica de notáveis levariam rapidamente os Cottagers de volta à elite, com uma campanha espetacular na segunda divisão em 2000-01.


Na era Premier League, o Fulham superaria nada menos que quatro vezes sua melhor colocação anterior, terminando em nono lugar em 2004, sétimo em 2009, oitavo em 2011 e novamente nono em 2012. Com um elenco recheado de nomes de nível internacional, chegaria ainda a uma inimaginável final europeia, perdendo para o Atlético de Madrid na decisão da Liga Europa de 2010. Aqueles 13 anos, entre 2001 e 2014, foram os melhores da história do clube londrino na elite.

570 visualizações0 comentário
bottom of page