Um dos campeonatos mais cosmopolitas do mundo na atualidade, o Inglês provavelmente é o que reúne a maior quantidade de astros internacionais em seus clubes, tomando o bastão que já foi das ligas italiana e espanhola. Mas nem sempre foi assim. Por um longo período do século XX, o futebol da ilha foi, precisamente, insular (como bem definiu um dos personagens deste texto, o ex-meia argentino Osvaldo Ardiles). A mudança – lenta, mas crucial – começou a acontecer há exatos 40 anos, em julho de 1978, quando foi definitivamente levantada pela Football Association a proibição da contratação de jogadores estrangeiros pelos clubes ingleses.
A medida já datava de quase meio século quando foi posta abaixo. Em agosto de 1930, o lendário Herbert Chapman, técnico do Arsenal, negociava a contratação do goleiro austríaco Rudi Hiden, titular do não menos histórico “Wunderteam” de seu país. Após acertarem todos os detalhes, o arqueiro teve sua entrada no Reino Unido negada pelas autoridades. Paralelamente, Charles Sutcliffe, presidente do Burnley e homem com grande influência na FA, liderava uma campanha pela proibição da importação de talentos.
“Sinto que a ideia de trazer estrangeiros para jogar na liga de futebol é repulsiva aos clubes, ofensiva aos jogadores britânicos e uma terrível confissão de fraqueza na administração dos clubes”, vociferou o cartola. O Ministro do Trabalho concordou com ele e vetou a transferência de Hiden. A FA impôs em seguida a proibição: dali em diante, apenas atletas com pelo menos dois anos de residência no Reino Unido poderiam atuar profissionalmente pelos clubes da liga.
O que não impediu, porém, o chileno Jorge (ou George) Robledo – que emigrara com a família para a Inglaterra aos cinco anos de idade – de jogar pelo Newcastle nos anos 50 (ainda que defendesse a seleção de seu país natal na Copa do Mundo do Brasil, em 1950). Ou mesmo que o alemão Bert Trautmann, ex-prisioneiro de guerra que se recusou a voltar para seu país, mais tarde fizesse história defendendo a meta do Manchester City.
Havia também algumas brechas. Os jogadores nascidos em países que haviam sido colônias britânicas (os da chamada Commonwealth), como Austrália, Canadá, Jamaica ou África do Sul, não contavam como estrangeiros. Assim como os atletas oriundos de países onde o futebol era oficialmente amador (caso dos países nórdicos por um certo período). Ainda assim, as ocorrências foram bem pontuais entre 1930 e 1978.
Em 1º de janeiro de 1973, o Reino Unido aderiu ao Mercado Comum Europeu (atual União Europeia). Cinco anos depois, em fevereiro de 1978, a organização decidiu que as federações de futebol de seus países membros não poderiam sobrepor barreiras à transferência de atletas com base em suas nacionalidades – o que forçava diretamente a Football Association inglesa a rever sua legislação. Após a Copa do Mundo, da qual a Inglaterra ficou de fora pela segunda edição seguida, o entrave foi enfim suspenso.
Em todo caso, de 1978 até os anos 90, poucos nomes de relevo verdadeiramente internacional foram atraídos pela liga inglesa (ainda que alguns tenham se tornado ídolos em seus clubes). Num momento em que ainda não existiam os polpudos contratos de televisão, os grandes patrocínios (por um tempo, nem mesmo os de camisa) ou os magnatas de outros continentes bancando clubes, o poderio econômico das equipes ainda era bastante limitado em comparação com o de outras ligas, como a Espanha ou a Itália (que só reabriria seus portos em 1980).
Porém, vale lembrar os nomes e as trajetórias dos pioneiros nessa reabertura, que aos poucos foram pavimentando o caminho para uma liga global.
Osvaldo Ardiles (Tottenham) País: Argentina Data de chegada: julho de 1978 Procedência: Huracán (Argentina)
Maior símbolo da reabertura dos portos ingleses, assinou com os Spurs duas semanas depois de se sagrar campeão do mundo com a seleção argentina. Ao chegar a White Hart Lane, foi recepcionado (juntamente com seu compatriota Ricardo Villa) com serpentinas pela torcida do Tottenham, bem ao estilo platino.
Meia-armador de futebol refinado, foi a maior contratação do técnico Keith Burkinshaw para a temporada de retorno do clube à elite depois de um ano na segunda divisão. Ao lado do jovem Glenn Hoddle, começaria a formar uma espetacular dupla de meio-campo com talento acima da média do futebol inglês de então.
Na temporada de estreia, atuou em 38 dos 42 jogos da equipe, marcando três gols, todos em White Hart Lane – os dois nos 2 a 0 sobre o Derby em 3 de março e um no empate em 1 a 1 com o Everton em 5 de maio. Apesar de o clube não ter feito uma grande campanha, terminando na 11ª colocação, o meia foi um dos destaques da temporada. Mas o melhor estava por vir.
Ardiles permaneceria por uma década nos Spurs, com apenas um intervalo entre 1982 e 1983, quando foi emprestado ao Paris Saint Germain, num momento em que o clube temia hostilidades ao meia no contexto da Guerra das Malvinas. Pelo Tottenham, levantou a FA Cup em 1981 e 1982 (embora ausente na final desta última) e a Copa da Uefa em 1984, tornando-se um dos grandes ídolos de uma geração inteira de torcedores do clube.
Em seu primeiro título, chegou a ter destaque na canção-tema que embalou a chegada dos Spurs à decisão da FA Cup, “Ossie’s Dream”, ao lado da dupla de músicos Chas & Dave, fanáticos torcedores do clube. Em 1987, o meia chegou a comandar a equipe interinamente quando da demissão de David Pleat. E após pendurar as chuteiras, retornaria como treinador – agora efetivo – em 1993, mas sem o mesmo sucesso dos tempos de jogador.
Ricardo "Ricky" Villa (Tottenham) País: Argentina Data de chegada: julho de 1978 Procedência: Racing (Argentina)
Contratado por indicação de Ardiles, de quem havia sido companheiro de quarto na concentração da seleção argentina na Copa do Mundo de 1978, o meia-direita curiosamente marcou o primeiro gol dos Spurs na temporada (no empate em 1 a 1 diante do Nottingham Forest no City Ground, na rodada de abertura do campeonato, em 19 de agosto) e também o último (na vitória por 1 a 0 sobre o West Bromwich Albion em White Hart Lane, em 14 de maio). Foram seus dois únicos gols naquela primeira campanha, na qual entrou em campo 32 vezes pelo clube.
Apesar de ter um estilo mais veloz e aguerrido que o de Ardiles, “Ricky” Villa demorou mais a deslanchar no Tottenham. Mas quando finalmente aconteceu, na temporada 1980-81, foi para fazer história. A campanha vitoriosa na FA Cup seria sua definitiva afirmação, especialmente pelos gols marcados na reta final – dois deles, golaços. O primeiro, um chutaço de longa distância selando a vitória por 3 a 0 diante do Wolverhampton no replay da semifinal, em Highbury.
O segundo, o mais lembrado de todos, viria em outro replay, na final, contra o Manchester City em Wembley. Na primeira partida, que terminou empatada em 1 a 1, Villa não jogou bem e foi substituído no segundo tempo. Na segunda, no entanto, abriu o placar logo aos oito minutos e, aos 31, entraria em zigue-zague na área do City enfileirando toda a defesa antes de tocar para as redes e decretar a vitória dos Spurs por 3 a 2.
O tento que deu o título ao Tottenham foi eleito em 2001 o gol do século marcado em Wembley. E estendeu a carreira de Villa no clube até 1983 – mesmo durante a Guerra das Malvinas, ele fez questão de ficar em White Hart Lane – antes de seguir para os Estados Unidos, onde defendeu por um breve período o Fort Lauderdale Strikers. Em 2008, entrou para o Hall da Fama dos Spurs.
Alejandro "Alex" Sabella (Sheffield United) País: Argentina Data de chegada: julho de 1978 Procedência: River Plate (Argentina)
Peça importante no River Plate campeão argentino em 1977, o jovem e talentoso armador acabou perdendo o lugar no time portenho com a volta do velho ídolo local Norberto Alonso no ano seguinte. Mas, na esteira da chegada de Ardiles e Villa aos Spurs, também conseguiu uma transferência para o futebol inglês depois que Harry Haslam, técnico do Sheffield United, decidiu não aceitar a pedida considerada alta do Argentinos Juniors por um certo Diego Maradona.
Único da primeira leva de estrangeiros a ser contratado por um clube da segunda divisão, Sabella assinou com os Blades pouco mais de uma semana depois de seus compatriotas do Tottenham e teve sua adaptação facilitada pelo fato de o clube contar com um uruguaio, Danny Bergara, na comissão técnica. Mas, mesmo atuando em 39 dos 42 jogos do United na liga (e marcando três gols), não conseguiu evitar a queda do clube para a terceira divisão.
Depois de rejeitar uma proposta do Sunderland, que havia se mantido na segundona, ele seguiu nos Blades por mais uma temporada, mas o clube esteve longe do acesso, terminando numa modesta 12ª posição na terceira divisão. Sabella, então, conseguiu o salto que pretendia ao ser negociado com o Leeds em meados de 1980. A passagem por Elland Road, no entanto, não foi bem-sucedida. Enquanto ele esteve na equipe, até meados de fevereiro, os Whites fizeram campanha irregular, ocupando a metade de baixo da tabela.
Ao fim da campanha, Sabella disputou 23 partidas, marcando dois gols – curiosamente, contra os dois postulantes ao título (Ipswich e Aston Villa), fora de casa. Dispensado, retornou à Argentina para seguir carreira no Estudiantes.
Ivan Golac (Southampton) País: Iugoslávia Data de chegada: julho de 1978 Procedência: Partizan (Iugoslávia)
Lateral-direito ofensivo, de muita força física e bom chute, Ivan Golac despontou no Partizan antes de chegar aos Saints, assinando com o clube em 29 de julho e estreando em 22 de agosto. Rapidamente se fez dono da posição, atuando em 36 dos 42 jogos da temporada. Sua adaptação também foi pronta: o jogador aprendera inglês com sua coleção de discos de artistas britânicos, como The Who, The Kinks, Dave Clark Five e The Troggs, trazida na mudança de Belgrado.
Primeiro jogador da nova leva de estrangeiros a disputar uma decisão em Wembley (a da Copa da Liga em 1979, perdida para o Nottingham Forest), Golac também não demorou a conquistar a torcida dos Saints. Em 1981, foi escolhido o jogador do ano do clube. E, em fevereiro daquele ano, também marcou um golaço acertando um petardo da ponta direita contra o West Bromwich Albion que receberia o prêmio de Gol do Mês.
O lateral seguiu intocável até o início da temporada 1982-83, quando se desentendeu com o técnico Lawrie McMenemy e foi emprestado ao Bournemouth (então na terceira divisão) e em seguida ao Manchester City. Ao fim da temporada, rescindiria o contrato e voltaria à Iugoslávia para defender o pequeno Belasica. Mas retornaria aos Saints em março de 1984, participando da reta final da campanha do vice-campeonato na liga naquele ano. Antes de pendurar as chuteiras, em 1986, também esteve emprestado ao Portsmouth.
Arnold Mühren (Ipswich) País: Holanda Data de chegada: agosto de 1978 Procedência: Twente (Holanda)
Em meados da década de 70, o Ipswich era um clube promissor e que vinha mantendo uma regularidade de boas colocações na liga, graças ao bom trabalho de Bobby Robson, técnico em ascensão que garimpou talentos e forjou uma boa equipe. Mas faltava um certo “molho” especial para marcar de vez o estilo de mais toque de bola pretendido pelo treinador. Aproveitando a abertura do mercado, Robson foi à Holanda buscar o meia-esquerda de 27 anos.
Revelado pelo Volendam, de sua cidade natal, Arnold Mühren atuou por três temporadas no Ajax, participando da conquista da Copa dos Campeões em 1973. No ano seguinte, transferiu-se para o Twente, chegando à seleção em abril de 1978, num amistoso com a Tunísia, com vistas ao Mundial da Argentina. Acabou não convocado, mas logo a seguir veio a proposta do Ipswich, feita por Bobby Robson em pessoa em sua casa em Volendam.
Mühren estreou na segunda rodada, em 22 de agosto, e daí em diante foi titular em todo o resto da campanha. Foi o artilheiro estrangeiro da liga na primeira temporada com oito gols, dois deles na goleada de 5 a 1 sobre o Chelsea, em 30 de dezembro. Mas o clube tinha ambições maiores: com a taça da FA Cup de 1978 ainda fresquinha, prepararia-se para disputar a Recopa, contando com a experiência de Mühren no cenário continental.
A taça não veio, mas mais adiante, ao retomar no clube a parceria com seu compatriota Frans Thijssen no setor, impulsionaria uma revolução nos Tractor Boys, culminando com a conquista da Copa da Uefa de 1981, título que colocou aquela ótima equipe na história do futebol europeu. Lamentavelmente, por outro lado, o título da liga acabou escapando na última partida em duas temporadas seguidas (1981 e 1982).
A segunda perda da liga, aliás, detonaria um desmonte do time, a começar pela saída do técnico Bobby Robson para comandar a seleção inglesa. Mühren também deixou Portman Road logo em seguida, tomando o rumo de Old Trafford. No Manchester United, levantaria a FA Cup em 1983, título o qual considera um dos mais importantes de sua carreira.
“Joguei a final da Eurocopa em 1988, mas genuinamente acredito que a final da FA Cup era uma partida maior do que quando vencemos a Rússia”, declarou o meia, que fez o cruzamento para o gol antológico de Marco Van Basten na decisão contra a União Soviética. Na ocasião, Mühren já estava de volta ao Ajax, clube em que encerrou a carreira em 1989.
Alberto Tarantini (Birmingham) País: Argentina Data de chegada: outubro de 1978 Procedência: Boca Juniors (Argentina)
Mais um jogador recém-consagrado campeão do mundo a aportar no futebol inglês logo após aquele Mundial, o lateral estava em litígio com seu último clube, o Boca Juniors, quando acertou um contrato cheio de regalias com os Blues. O rendimento, porém, esteve bem abaixo do esperado, embora tenha atuado em várias posições da defesa (principalmente como lateral-direito ou zagueiro, vestindo a camisa 6, mas também de lateral-esquerdo e volante).
Estreou em 14 de outubro, numa derrota para o Tottenham, e fez 23 partidas, todas como titular, marcando um gol no empate em 1 a 1 com o Bristol City em 25 de novembro. Mas ficou mais lembrado pelas confusões que arranjou, como as agressões a um torcedor do próprio clube num jogo em St. Andrew’s e também ao zagueiro Brian Greenhoff, do Manchester United (que gerou até processo), num jogo tumultuado. Aquela seria sua única temporada na Inglaterra.
Kazimierz Deyna (Manchester City) País: Polônia Data de chegada: novembro de 1978 Procedência: Legia Varsóvia (Polônia)
Maestro do meio-campo da grande seleção polonesa que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, e terminou em terceiro lugar na Copa do Mundo da Alemanha Ocidental dois anos depois, Deyna foi eleito o terceiro melhor jogador da Europa em 1974, atrás apenas de Cruyff e Beckenbauer. E aportou no Manchester City já aos 31 anos, depois de capitanear a Polônia no Mundial da Argentina.
Pelo talento, teria tudo para causar tanto impacto quanto os argentinos dos Spurs ou os holandeses dos Tractor Boys. Mas acabou deixando a desejar tanto por problemas de adaptação quanto pela sequência de lesões, além de encontrar o City vivendo período turbulento. Fez sua primeira partida em 25 de novembro, numa derrota em casa para o Ipswich, e atuou ao todo em 13 partidas (a maioria como titular) em sua primeira temporada.
Seu primeiro gol veio em sua única partida europeia pelo clube, o de honra na derrota fora de casa para o Borussia Mönchengladbach por 3 a 1 que decretou a eliminação do clube nas quartas de final da Copa da Uefa. Porém, na reta final da campanha na liga, chegou a impressionar com uma sequência goleadora, balançando as redes seis vezes nos seis últimos jogos.
Na temporada seguinte, sob o comando de Malcolm Allison, atuou mais vezes (22 jogos pela liga) e, dos mesmos seis gols que marcou, alguns garantiram vitórias sobre Leeds, Middlesbrough e Nottingham Forest. Mas os problemas físicos o tiraram de boa parte da campanha e também na terceira, quando entrou em campo apenas três vezes.
Sua última partida seria a derrota para o West Bromwich Albion por 3 a 1 nos Hawtthorns, em 11 de outubro de 1980. Seguiria então para o San Diego Sockers, da NASL norte-americana, onde encerraria a carreira em 1987. Faleceria na mesma cidade californiana dois anos depois, vitimado por um acidente automobilístico aos 41 anos.
Frans Thijssen (Ipswich) País: Holanda Data de chegada: fevereiro de 1979 Procedência: Twente (Holanda)
Depois de ir buscar Arnold Mühren, Bobby Robson voltou a Enschede para preencher a segunda vaga de estrangeiro no time do Ipswich com um jogador que complementasse o estilo do meia-esquerda e que tanto o ajudasse a se ambientar como também ajustasse a equipe ao jogo de passes preferido pela dupla (e pelo treinador). E o escolhido foi o armador Frans Thijssen, revelado pelo NEC Nijmegen e finalista da Copa da Uefa de 1975 com o Twente.
A dupla se combinou perfeitamente no promissor time do Ipswich. E Thijssen foi titular em todos os 16 jogos da equipe na liga a partir de sua estreia, em 28 de fevereiro, contra o Derby. Marcou um gol, o único da vitória no clássico diante do Norwich em Carrow Road em 14 de abril, mas a maior contribuição naquele primeiro momento foi ajudar a delinear o jogo da equipe como um dos mais interessantes da liga inglesa de então.
Seu auge – assim como o do clube – viria na temporada 1980-81, quando marcou um gol em cada um dos jogos da decisão da Copa da Uefa contra seus compatriotas do AZ ’67, ajudando os Tractor Boys a levantarem a taça. Na mesma campanha, o Ipswich foi vice-campeão da liga e semifinalista da FA Cup. E Thijssen foi escolhido pela crônica esportiva o melhor jogador do ano de 1981 na Inglaterra, o primeiro estrangeiro eleito desde o alemão Bert Trautmann em 1956.
O meia ficaria no clube até outubro de 1983, pouco mais de um ano depois da saída de Mühren. E, assim como o ex-companheiro, seguiria no futebol inglês, juntando-se ao Nottingham Forest de Brian Clough. Mas a passagem seria curta: em abril de 1984, ele cruzaria o Atlântico para desembarcar no Vancouver Whitecaps, da liga norte-americana.
Bozo Jankovic (Middlesbrough) País: Iugoslávia Data de chegada: fevereiro de 1979 Procedência: Zeljeznicar (Iugoslávia)
Atacante nascido em Sarajevo, na então república iugoslava da Bósnia, estreou pelo Boro contra o Bristol City em 17 de março. Naquela primeira temporada, fez, ao todo, oito jogos (sendo cinco como titular) e marcou um gol na vitória por 3 a 0 sobre o Derby em Baseball Ground no dia 5 de maio. Também conhecido como “Bosco” ou “Bosko”, permaneceria no clube por outras suas temporadas, sendo a terceira sua melhor.
Em 1980-81, anotou 12 gols em 23 partidas, conquistando a torcida do Boro. Curiosamente, outra torcida inglesa também comemoraria graças a ele naquela temporada: em 2 de maio de 1981, na rodada que decidiu o título da liga em favor do Aston Villa, coube ao atacante marcar os dois gols da vitória de virada do Middlesbrough sobre o Ipswich (o segundo deles a dois minutos do fim do jogo), encerrando as chances do time de Bobby Robson e entregando a taça de bandeja para o Villa, que perdia por 2 a 0 para o Arsenal em Highbury.
Foram seus últimos gols pelo clube de Ayresome Park. Ao final daquela campanha, ele tomaria a decisão surpreendente de pendurar as chuteiras aos 29 anos para se tornar advogado. Porém, logo em seguida ele voltaria atrás, mas retomaria a carreira no Metz, da França, por um ano, de onde voltou para o seu Zeljeznicar de origem (onde enfim se despediu em 1983). Em outubro de 1993, Jankovic faleceria aos 42 anos de causas naturais na cidade de Kotor, em Montenegro.
Petar Borota (Chelsea) País: Iugoslávia Data de chegada: março de 1979 Procedência: Partizan (Iugoslávia)
Outro iugoslavo que foi além da primeira temporada na Inglaterra, Petar Borota foi campeão nacional com o Partizan em 1978 e chegou à seleção, mas perdera o posto no clube após sofrer alguns gols bizarros por desatenção, o que não exatamente o referendava para assumir a camisa 1 de um time que brigava contra a queda, como o Chelsea – ainda que seu clube anterior se encontrasse na mesma situação quando de sua saída.
Nos Blues, porém, teve estreia promissora, segurando o Liverpool com defesas espetaculares (embora se atrapalhasse em outros lances) num empate sem gols em Stamford Bridge, no dia 3 de março. Mas nos 11 jogos restantes em que atuou, sofreu nada menos que 29 gols e não venceu nenhum, com o Chelsea confirmando sua queda antes mesmo do fim da campanha.
Ainda assim, Borota se consolidaria como substituto do lendário Peter Bonetti (que fazia ali a última de suas 20 temporadas no clube que o revelara) e conquistaria a torcida com seu jeito excêntrico. Além de acrobático, gostava de sair jogando até a intermediária e também de interagir com os torcedores atrás de seu gol. Chegou a ser eleito o jogador da temporada 1980-81 do clube, em tempos de penúria ofensiva do clube de Stamford Bridge.
Na campanha seguinte, porém, entraria em atrito com o técnico John Neal, que o colocara na reserva do garoto Steve Francis, de 17 anos, logo no início da temporada. Retornou ao gol para mais algumas partidas (entre elas, a famosa derrota de 6 a 0 para o Rotherham), mas decidiria sair do clube rumo ao Brentford, em meados de 1982. Em seguida, deixaria o pequeno clube de Griffin Park para se transferir ao futebol português.
Defenderia ainda o Portimonense, o Boavista e o Porto, onde passaria a maior parte do tempo fumando ou lendo revistas no banco de reservas, antes de encerrar a carreira em 1984. Depois de não ter sucesso como treinador, passou a se dedicar à pintura e chegou a ser preso por envolvimento num roubo de obras de arte. Morreu em fevereiro de 2010, aos 57 anos, na cidade italiana de Gênova, onde ganhava a vida como artista plástico. Mas já havia se eternizado como um ídolo “cult” da torcida do Chelsea.
Geert Meijer (Bristol City) País: Holanda Data de chegada: março de 1979 Procedência: Ajax (Holanda)
Ponta-esquerda que se destacou na campanha do FC Amsterdan na Copa da Uefa de 1974-75 e logo seguiu para o Ajax, Meijer aportou no Bristol City de modo surpreendente. Na temporada 1978-79, atuou nove vezes, sempre como titular com a camisa 11, e marcou dois gols: um contra o Birmingham em sua estreia (31 de março) e outro contra o Chelsea (10 de abril).
Na campanha seguinte, embora começasse como titular, rapidamente perderia espaço, fazendo apenas seis partidas (três como titular). Seu último jogo veio na derrota por 3 a 0 para o West Bromwich Albion, na rodada de Boxing Day, quando saiu do banco. Sem lugar no time, acertou seu retorno ao futebol holandês em fevereiro de 1980, seguindo para o Sparta, de Roterdã.
Tadeusz Nowak (Bolton) País: Polônia Data de chegada: março de 1979 Procedência: Legia Varsóvia (Polônia)
Depois de o Manchester City trazer Deyna, foi a vez do Bolton apostar em outro polonês como seu primeiro jogador estrangeiro no pós-Segunda Guerra. O calvo ponta-direita Nowak jogou a maior parte da carreira no Legia e fez duas partidas pela seleção. E na primeira de suas duas temporadas na Inglaterra, atuou apenas duas vezes: entrou durante o jogo com o Ipswich, em 21 de abril, e foi titular contra o Tottenham, em 8 de maio.
Na campanha seguinte, ganhou mais rodagem: fez 20 partidas pela liga e balançou as redes uma vez, contra o Middlesbrough. Apelidado “Ferrari” desde os tempos de futebol polonês por sua velocidade, chegou a ganhar um cântico da torcida dos Trotters, baseado no sucesso “Cool For Cats”, do grupo new wave Squeeze. Mas ele não chegou a se ambientar e deixou o clube pouco depois, encerrando a carreira.
Pertti Jantunen (Bristol City) País: Finlândia Data de chegada: março de 1979 Procedência: IFK Eskilstuna (Suécia)
Embora vindo de um país onde o futebol não era forte, o meia finlandês já contava com uma certa rodagem internacional, além de ser titular de sua seleção (que enfrentou os ingleses pelas Eliminatórias da Copa de 78). Na temporada 1977-78 teve passagem curta (seis meses) pelo Málaga, na segunda divisão espanhola, onde chegou a ser treinado pelo brasileiro Otto Bumbel, antes de seguir para o pequeno IFK Eskilstuna sueco, também da categoria de acesso local.
O Bristol City, que já havia trazido o holandês Meijer, resolveu apostar também em Jantunen. Na primeira temporada, o meia fez apenas uma partida, entrando durante o jogo na derrota por 1 a 0 para o Liverpool em Anfield, no dia 21 de abril. Mas na segunda, o começo foi mais positivo: o finlandês marcou um gol num chute da intermediária logo na primeira rodada, no empate em 2 a 2 com o Leeds em Ashton Gate. Porém, não teve sequência e perdeu espaço: ao fim da campanha atuou sete vezes, fez apenas o gol citado. E foi mandado de volta para o Eskilstuna, entrando para a história como o mais obscuro estrangeiro da primeira leva após a reabertura dos portos ingleses.
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