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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

A trajetória de Frank Lampard pai, nome histórico do West Ham


O nome Frank Lampard já fazia história no futebol inglês antes mesmo da era Premier League e da virada para o século atual. Se o meia assim batizado se fez ídolo no Chelsea nos anos 2000, marcando a época mais vitoriosa dos Blues até aqui e se tornou uma das referências do English Team em três Copas do Mundo, seu pai, também chamado Frank Lampard, e que completa 70 anos nesta quinta-feira, eternizou-se como lenda no West Ham, atravessando três décadas como dono da camisa 3 de lateral-esquerdo dos Hammers e levantando taças. Tem, portanto, uma longa história própria para contar.


O West Ham não é chamado de “Academia” à toa: suas categorias de base revelaram vários nomes históricos do futebol inglês (não só jogadores como também futuro treinadores), a começar pelo trio campeão do mundo com o English Team em 1966: o zagueiro e capitão Bobby Moore, o meia Martin Peters e o atacante Geoff Hurst. Naquele fim dos anos 60, Ron Greenwood, técnico do time de cima e mais tarde comandante da seleção na Copa de 1982, tinha em suas mãos uma nova e ótima safra prestes a despontar em Upton Park.


Um dos mais bem-acabados produtos daquela escola de talentos era Frank Richard George Lampard, nascido em 20 de setembro de 1948, curiosamente na cidade de East Ham, em Essex. Embora destro, atuava com desenvoltura pela lateral-esquerda, sua posição favorita e na qual rapidamente se firmaria e logo se consagraria. Era ágil, dinâmico, bom no apoio e competente na marcação, além de dono de um chute muito potente. E tinha como marca o hábito de atuar com os meiões abaixados, revelando um estilo aguerrido e descomplicado.


Sua estreia no time de cima dos Hammers viria em novembro de 1967, na derrota em casa pela liga para o futuro campeão Manchester City. Na mesma temporada, debutariam ainda outros dois nomes lendários do clube: o zagueiro e volante Billy Bonds – vindo do Charlton ainda jovem e que ficaria até 1988 em Upton Park, tornando-se o jogador a atuar mais vezes com a camisa claret and blue – e o elegante armador Trevor Brooking, que dentro de algum tempo se transformaria em nome de referência também na seleção da Inglaterra.


Além dos novos talentos e do trio campeão do mundo, também compunham naquele elenco nomes como o goleiro escocês Bobby Ferguson, o centroavante Peter Brabrook (ex-Chelsea e seleção inglesa) e um meia que mais tarde também teria carreira longa como treinador, além de vir a ser concunhado de Frank Lampard: um certo Harry Redknapp. Naquela primeira temporada, ele atuaria em 22 partidas oficiais. Mas na seguinte só entraria em campo no último jogo: o dono da posição então era John “Charlo” Charles, um dos raros jogadores negros na liga.


As frequentes lesões de Charlo, no entanto, dariam a Lampard sua chance de afirmação a partir de 1969-70. E ele não a desperdiçou: na campanha seguinte, ficaria de fora de apenas um jogo na liga. E em 1971-72, somaria 53 partidas por todas as competições. A boa forma chamaria a atenção do técnico da seleção, Alf Ramsey. Convocado de início para a sub-23, faria seu primeiro jogo pelo time principal em outubro de 1972, contra a Iugoslávia em Wembley. Não decepcionou, mas teve de aguardar alguns anos até voltar a ser convocado.


Embora não chegasse a ser um lateral artilheiro, Lampard se notabilizou por marcar alguns gols importantes, incluindo um em cada uma das três grandes campanhas copeiras dos Hammers durante seu período no clube. A primeira foi a que culminou no título da FA Cup em 1975, agora com John Lyall no comando do time. Na estreia naquele torneio, contra o Southampton fora de casa, no velho estádio de The Dell pela terceira fase, o lateral abriu o caminho para a vitória por 2 a 1 cobrando falta com um chute violento, que o goleiro Eric Martin não conseguiu deter.



Os londrinos em seguida superariam Swindon, Queens Park Rangers, Arsenal, Ipswich e, na final em Wembley, um Fulham que disputava a segunda divisão e tinha como nome mais conhecido justamente um velho ídolo dos Hammers: o veterano Bobby Moore, um dos mais experientes ao lado do meia Alan Mullery, ex-Tottenham e seleção inglesa. A vitória por 2 a 0 valeu a segunda conquista na competição ao time de Upton Park, 11 anos após a primeira.


No ano seguinte, Lampard voltaria a marcar um gol crucial para o West Ham na trajetória que levaria o clube a sua última final europeia, na Recopa. Nas quartas de final, a equipe havia visitado os holandeses do Den Haag e, depois de sofrer quatro gols no primeiro tempo, conseguiu diminuir o prejuízo da volta para 4 a 2. Apesar de enfrentar momento ruim, o time se habilitou a tentar um milagre em Londres, que pareceu mais plausível depois de Alan Taylor abrir o placar.


Logo depois, Trevor Brooking conduziu a bola pelo meio e abriu na esquerda para Lampard. Da intermediária, o lateral acertou outro petardo, que morreu no ângulo oposto do goleiro Ton Thie. O West Ham ainda ampliaria naquela mesma primeira etapa com Billy Bonds cobrando pênalti. E na etapa final, o Den Haag (dirigido pelo iugoslavo Vujadin Boskov, mais tarde campeão espanhol com o Real Madrid e italiano com a Sampdoria), ainda descontou, mas a vaga nas semifinais ficou mesmo com os londrinos, que acabariam vice-campeões, batidos na final pelo Anderlecht em Heysel.


Aquele momento em meados da década foi o mais artilheiro de Lampard. Naquelas duas temporadas somadas (1974-75 e 1975-76), ele anotou nada menos que nove de seus 22 gols pelo clube. O lateral atravessaria todos os anos 70 como dono da camisa 3 – inclusive após a queda do time para a segunda divisão em 1978 – e asseguraria ali um status de patrimônio do West Ham, juntamente com seus contemporâneos Billy Bonds e Trevor Brooking.


Lampard (de barba, à direita), ergue a FA Cup de 1980 ao lado de Trevor Brooking, autor do gol do título.

Seu terceiro gol fundamental, e talvez o mais lembrado pelos torcedores, viria na campanha histórica que levaria ao último caneco levantado pelos Hammers, o da FA Cup de 1980. Na época, o West Ham ainda estava na segunda divisão, mas derrubou times mais cotados no caminho até a taça. Primeiro bateu o West Bromwich Albion, terceiro colocado na liga na temporada anterior. Em seguida, despachou dois adversários considerados mais fracos, Orient e Swansea.


A campanha seguiu com uma vitória por 1 a 0 (gol de pênalti no último minuto) diante do Aston Villa em Upton Park, levando o time a uma semifinal intensa contra o Everton. No primeiro jogo, em Birmingham, houve empate em 1 a 1 após prorrogação. O replay ficaria para dali a quatro dias em Elland Road, Leeds, onde a partida novamente seguiria para o tempo extra. Um gol de Alan Devonshire em bonita jogada pôs os Hammers em vantagem, mas os Toffees empataram num cruzamento da direita desviado por Bob Latchford.


Até que a dois minutos do fim, quando já se aguardava um segundo replay, Trevor Brooking alçou a bola na área e David Cross escorou para o meio. Lampard, que deixara a lateral para se arriscar como elemento surpresa, mergulhou num peixinho e viu a bola entrar mansamente no canto de Martin Hodge, antes de disparar eufórico numa comemoração que se tornaria inesquecível, dançando e rodopiando em volta da bandeirinha de escanteio. Na decisão, os Hammers bateriam o grande favorito Arsenal (que eliminara o Liverpool) com um gol de Brooking.



A boa fase em Upton Park trouxe o lateral de volta à seleção, agora dirigida pelo seu ex-técnico no clube, Ron Greenwood, que o levou para um amistoso com a Austrália em Sydney após o fim da temporada. Lampard vestiu a camisa 3 do English Team no jogo preparatório para a Eurocopa de 1980, vencido pelos ingleses por 2 a 1. Mas acabaria não figurando entre os convocados para o torneio continental na Itália, e faria apenas duas partidas pela equipe nacional.

A temporada 1980-81 também seria movimentada: o West Ham voltaria a disputar a Recopa europeia, caindo nas quartas de final diante dos soviéticos do Dinamo Tbilisi, futuros campeões; retornaria à elite inglesa ao conquistar o título da segunda divisão; e disputaria mais uma final em Wembley, agora a da Copa da Liga contra o poderoso Liverpool. O empate em 1 a 1 com gols na prorrogação levaria a decisão para um replay no Villa Park, vencido pelos Reds por 2 a 1, de virada ainda no primeiro tempo. Lampard vivenciou todos esses momentos dentro de campo.


O meia conduz a bola contra o Politehnica Timisoara, da Romênia, pela Recopa de 1980-81.

Ele seguiria como titular pelos próximos dois anos, antes de começar a sofrer com problemas físicos em vários momentos ao longo da temporada 1983-84. Naquela ocasião, o West Ham chegou a liderar a tabela no começo da campanha e esteve entre os três primeiros até fevereiro, mas despencou na reta final, terminando apenas em nono. Ainda assim, seria a última temporada com a presença mais ou menos regular do lateral.


Na campanha seguinte, ele atuaria apenas uma vez, na última partida dos Hammers pelo campeonato, uma derrota de 3 a 0 para o Liverpool em Upton Park, nove dias antes da tragédia de Heysel. Curiosamente, no jogo que acabou servindo como sua despedida oficial, Lampard vestiu a camisa 6 e atuou pelo lado esquerdo do meio-campo.


Após 670 partidas pelo time principal do West Ham ao longo de quase 18 anos, o lateral recebeu passe livre ao fim da temporada e assinou com o Southend, na época treinado por seu ex-companheiro de clube Bobby Moore. Mas Lampard ainda retornaria ao West Ham em 1994, exercendo a função de auxiliar técnico de Harry Redknapp por sete anos.

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