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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

As histórias das quatro Copas da Liga levantadas por Brian Clough

Atualizado: 10 de jan. de 2019


Brian Clough com o zagueiro Kenny Burns, capitão do Forest que levantou a Copa da Liga em 1978.

Técnico do pequeno Burton Albion, da terceira divisão, Nigel Clough tenta o milagre de fazer sua equipe bater o poderoso Manchester City pelas semifinais da Copa da Liga e em seguida levar o clube ao título do torneio. Se conseguir o feito, inscreverá pela quinta vez o nome de sua família no rol dos vencedores. As outras quatro taças foram levantadas por seu pai, o lendário Brian Clough, no comando do Nottingham Forest. E em duas delas, Nigel esteve presente como jogador.


Criada em 1960, a Copa da Liga é um torneio mata-mata restrito aos clubes da chamada Football League, que, na época de sua criação, compreendia as quatro primeiras divisões do futebol inglês. Critério este que não foi alterado nem mesmo com a criação da Premier League, quando os clubes da elite se desvincularam da entidade original, mas seguiram participando da copa. Por esta razão, o Burton Albion – fundado em 1950, mas que só ascendeu à Football League em 2009 – disputa a competição apenas pela décima temporada.


O Nottingham Forest, clube no qual Nigel Clough se profissionalizou como jogador e onde atuou por nove anos como um meia-atacante habilidoso, tem histórico bem mais pesado no torneio. Entre o fim dos anos 70 e o início dos 90, sob a batuta de Brian Clough, o clube de East Midlands chegou seis vezes à final da Copa da Liga e conquistou o caneco em quatro ocasiões.


Nigel Clough, filho de Brian: craque do Forest na virada da década de 80 para a de 90.

Estes números fizeram com que o treinador escrevesse seu nome na história como maior vencedor da competição, ainda que mais recentemente o escocês Alex Ferguson e o português José Mourinho tenham igualado a marca. Contaremos aqui, passo a passo, as quatro conquistas de Clough – as duas últimas contando ainda com a presença de Nigel no time.


1977-78


A primeira conquista do Forest (e de Clough) na Copa da Liga veio na mesma temporada de seu histórico título inglês, com a equipe recém-promovida da segunda divisão. Por ironia, o rival da estreia (já pela segunda fase) fizera o caminho inverso: o West Ham, rebaixado da elite, foi atropelado por 5 a 0 no City Ground, no dia 30 de agosto de 1977. Martin O’Neill abriu o placar, Ian Bowyer anotou duas vezes e Tony Woodcock e Peter White também balançaram as redes.


A partida também foi uma das últimas do jovem John Middleton como goleiro do Forest. Logo no mês seguinte, com a contratação de Peter Shilton (do também rebaixado Stoke), ele seria negociado com o rival Derby, numa troca que trouxe o meia escocês Archie Gemmill para o elenco dirigido por Clough. Tanto Shilton quanto Gemmill, no entanto, não poderiam atuar naquela campanha da Copa da Liga pelo Forest por já o terem feito defendendo seus antigos clubes.


Assim, coube a outro jovem – Chris Woods, de apenas 18 anos – a missão de vestir a camisa 1 do time pelo resto do torneio. E ele não fez feio. Na etapa seguinte, o Forest não teve problemas para despachar outro rival, o Notts County (então na segunda divisão), por 4 a 0. Bowyer outra vez marcou dois gols, depois de John Robertson ter aberto o placar em cobrança de pênalti e Tony Woodcock ter ampliado no primeiro minuto da etapa final.


O primeiro adversário de elite veio na quarta fase: o Aston Villa, atual campeão da Copa da Liga e vencedor de duas das três edições anteriores do torneio. Mesmo com sua tradição copeira recente, não foi páreo para o ótimo momento do Forest, que em 25 minutos de jogo já havia marcado três vezes com Larry Lloyd, Viv Anderson e Peter Withe. No início do segundo tempo, Tony Woodcock ampliou, e só nos dez minutos finais os Villains descontaram para 4 a 2.


Na quinta fase (equivalente às quartas de final), foi a vez de visitar o pequeno Bury, da terceira divisão, e vencer outra vez sem problemas por 3 a 0 (Bowyer, O’Neill e Robertson marcaram). Era um adversário tido como mais leve antes da verdadeira batalha que se anunciava nas semifinais, contra o Leeds, em jogos de ida e volta a serem disputados no mês de fevereiro. Mas, apesar de virem de um bom sexto lugar na liga, os Whites deram menos trabalho que o esperado.


No primeiro jogo, em Elland Road, o Forest abriu dois gols de frente logo no começo, com Peter Withe marcando aos 19 e aos 21 minutos. O Leeds descontou aos 28 com Eddie Gray e ensaiou uma reação, mas ficou nisso: John O’Hare ainda ampliou na etapa final para deixar o time de Brian Clough com um pé na final. O outro foi colocado depois da grande vitória no City Ground na partida de volta – mas não sem certa dificuldade inicial.


O Leeds saiu na frente aos 13 minutos com o lateral Frank Gray. Aos 18, Withe empatou para os donos da casa, mas logo na saída de bola, Arthur Graham voltou a colocar os visitantes em vantagem. O novo empate só veio no início do segundo tempo, com Ian Bowyer. Aí sim o Forest deslanchou e marcou mais duas vezes com O’Neill e Woodcock para fechar o jogo em 4 a 2 e o placar agregado em categóricos 7 a 3.


Kenny Burns (à esquerda) e Larry Lloyd tomam conta de Kenny Dalglish na decisão com o Liverpool.

Na final contra o Liverpool de Bob Paisley em Wembley, um jogo muito equilibrado e que teve o jovem Chris Woods como destaque no gol do Forest, substituindo Shilton à altura com intervenções decisivas. O empate em 0 a 0 após 120 minutos levou a decisão para um replay em Old Trafford, disputado quatro dias depois e que teria desfecho polêmico. A partida seguia novamente equilibrada e sem gols até um lance aos sete minutos do segundo tempo mudar a história.


John O’Hare, que havia entrado no Forest no lugar do meia e capitão John McGovern, foi lançado no meio da defesa e sairia cara a cara com Ray Clemence, mas foi tocado pelo zagueiro Phil Thompson quando se preparava para entrar na área, a centímetros da linha. Falta indiscutível. Só que o árbitro Pat Partridge entendeu como tendo sido cometida dentro da área e apontou a marca do pênalti. Após protestos, John Robertson bateu e marcou o gol que seria o do título.


1978-79


Desta vez, o time poderia enfim contar com Shilton, Gemmill e também com o zagueiro David Needham, trazido do Queens Park Rangers na metade da temporada anterior. Além deles, pouca coisa mudou no time. No ataque, Peter Withe saiu antes do começo da campanha para o Newcastle, e o jovem Garry Birtles, quase desconhecido até aquele momento, acabaria sendo o escolhido por Brian Clough para vestir a camisa 9.


Garry Birtles chuta para marcar o primeiro de seus dois gols na decisão contra o Southampton.

O novo goleador, no entanto, passaria em branco diante do primeiro rival, o Oldham, da segunda divisão. Um empate sem gols em Boundary Park levou a disputa a um replay, vencido pelo Forest por 4 a 2 no City Ground, com tentos de Needham, Burns, Woodcock e Robertson, cobrando pênalti. Na etapa seguinte, outra goleada encaminharia a vaga: 5 a 0 no Oxford United (da terceira divisão) no Manor Ground, marcando Anderson, McGovern, O’Neill, Birtles e Robertson.


O primeiro duelo contra um time da elite, o Everton no Goodison Park, era o confronto entre os dois únicos times ainda invictos na primeira divisão naquele momento (embora o Liverpool ocupasse a liderança). Numa partida bem disputada, o Forest prevaleceu por 3 a 2, com gols de Anderson, Woodcock e Lloyd, e avançou para receber nas quartas de final o Brighton, que brigava pelo acesso na segundona (o que conseguiria ao fim da temporada).


O Forest não teve trabalho para passar pelos Seagulls, vencendo por 3 a 1 com gols de McGovern, Birtles e Robertson. O time seguia em frente numa edição do torneio marcada por zebras, com muitos favoritos caindo para times de categorias inferiores: o Arsenal havia sido eliminado pelo Rotherham, o Liverpool perdera para o Sheffield United, o Tottenham fora batido pelo Swansea e o Manchester United, pelo Watford, da terceira divisão.


E seria o próprio Watford, líder da terceirona, o adversário do Nottingham Forest nas semifinais em ida e volta. Então já presidido por Elton John e treinado por Graham Taylor, desta vez o clube de Vicarage Road ficou pelo caminho: o Forest venceu no City Ground por 3 a 1 com dois gols de Birtles e um de Robertson e segurou o 0 a 0 na casa do adversário, chegando à decisão contra o Southampton, que despachara o Leeds no outro confronto.


Dias depois de avançar à final, o Forest foi parar novamente nas manchetes de imprensa esportiva pela contratação do atacante Trevor Francis, do Birmingham, pela soma recorde de um milhão de libras, atingida pela primeira vez na história do futebol inglês. Francis, porém, estaria impedido de disputar a decisão pelo mesmo motivo de Shilton no ano anterior: já havia jogado aquela edição por seu ex-clube (que fora eliminado ainda na segunda fase, em agosto).


Na decisão, os Saints foram para o intervalo em vantagem com um gol de David Peach. Mas logo no início da etapa final, o Forest empatou com Garry Birtles aproveitando uma cochilada incrível da defesa do Southampton. O gol perturbou a defesa do time de Hampshire, que quase entregou mais um numa falha do goleiro Terry Gennoe e outro depois de Malcolm Waldron perder a bola para Woodcock e o atacante servir Birtles, num tento anulado por impedimento.


Birtles teria ainda mais um gol anulado por posição irregular, mas aos 34 minutos, em jogada individual, enfim desempataria a partida. Pouco depois, Woodcock receberia de Gemmill na área e bateria cruzado para ampliar. Os Saints descontariam a dois minutos do fim, num chutaço de Nick Holmes da entrada da área. Mas a reação ficou nisso, e o Forest se tornou o primeiro clube a vencer a competição por duas temporadas consecutivas.



1988-89


O Forest chegaria a uma terceira final consecutiva na Copa da Liga em 1980, mas acabaria surpreendido pelo Wolverhampton, vencedor por 1 a 0 com gol de Andy Gray aproveitando falha da defesa. Teria que esperar até o fim dos anos 80 para retornar a uma decisão da competição, então denominada Copa Littlewoods, devido aos naming rights pagos pela empresa de apostas (que também tinha um braço dedicado ao comércio por via postal). Clough seguia no comando do time – completamente renovado, mas outra vez respeitável.


Os destaques da nova safra de talentos eram o ágil e sólido zagueiro Des Walker, o influente lateral-esquerdo Stuart Pearce, o criativo armador Neil Webb, o dinâmico meia Steve Hodge (que teve passagens por Aston Villa e Tottenham antes de retornar ao clube naquela temporada) e o hábil meia-atacante Nigel Clough, filho de Brian. Todos eles, naquele momento, jogadores de seleção inglesa.


Com eles, o time não teve problemas para despachar de saída o Chester, da terceira divisão, fazendo 6 a 0 e 4 a 0 em partidas de ida e volta (de acordo com o novo regulamento para aquela segunda fase). Na etapa posterior, veio um adversário da elite, o Coventry, derrotado por 3 a 2 no City Ground. O Leicester, da segundona, forçou um replay na quarta fase depois de segurar o 0 a 0 em Filbert Street. Mas também foi batido em Nottingham: 2 a 1.


Nas quartas, o jogo contra o bom time do Queens Park Rangers (que incluía David Seaman sob as traves) foi marcante não só pela goleada de 5 a 2, com direito a hat-trick de Lee Chapman, como pela insólita agressão de Brian Clough a alguns torcedores que entraram em campo para comemorar com os jogadores após o apito final. O gesto louco rendeu ao técnico uma multa de £ 5 mil e sua suspensão do banco pelo resto da temporada.


Mesmo sem o treinador à beira do campo, o time fez quatro jogos seguidos de mata-matas entre 15 e 26 de fevereiro e avançou em todos os torneios. O primeiro e o último jogos foram pelas semifinais da Copa da Liga contra o Bristol City, da terceira divisão, que andou perto da zebra: após empate em 1 a 1 no City Ground, o 0 a 0 após 90 minutos na volta levou a decisão para a prorrogação (não havia o critério de gols fora de casa naquela fase). No tempo extra, o meia Garry Parker marcou a seis minutos do fim e levou o Forest à final.


O adversário da decisão de 9 de abril em Wembley seria o Luton, que tentava o bicampeonato depois de surpreender o Arsenal no ano anterior. E esteve perto de repetir a festa ao sair para o intervalo em vantagem, graças a um gol de cabeça de Mick Harford que o goleiro Steve Sutton não conseguiu segurar. Mas o Forest, que teve gol anulado de Lee Chapman no primeiro tempo, foi buscar uma grande vitória na etapa final.


Primeiro, Steve Hodge foi lançado em profundidade, entrou na área do Luton e foi derrubado pelo goleiro Les Sealey. Nigel Clough bateu com segurança e converteu. Depois, o meia-direita Tommy Gaynor alçou a bola à área, e o meia Neil Webb dominou e trocou de pé para bater na saída do arqueiro dos Hatters e virar o jogo. No fim, após outra jogada de Gaynor pela direita, a bola chegou a Nigel Clough, que chutou rasteiro para fechar em 3 a 1.


O Forest vivia fase “copeira”: chegara também às semifinais da FA Cup, pela qual pegaria o Liverpool dali a seis dias no estádio de Hillsborough, em Sheffield. A partida, porém, mal chegou a começar: ficou marcada pela tragédia de superlotação e desorganização por parte das autoridades que culminou na morte de 96 torcedores. Suspensa e adiada, foi disputada somente em 7 de maio, em Old Trafford, com vitória dos Reds por 3 a 1.


Entre os dois eventos, o Forest ainda pôde levantar outra taça em Wembley, a da menos badalada Full Members’ Cup (naquela temporada, chamada de Simod Cup, por motivos de patrocínio), ao derrotar o Everton por 4 a 3 na prorrogação, no dia 30 de abril. Mas, além da pouca relevância daquele torneio, as celebrações da segunda conquista da temporada também foram eclipsadas pelo triste clima futebolístico no país naquele momento.


1989-90


O Forest, que já tinha sido bicampeão da Copa da Liga em 1978 e 1979, voltou a sê-lo em 1990 depois de ter vencido no ano anterior. A última campanha vitoriosa acabou sendo a mais extensa das quatro, já que, além das partidas em ida e volta previstas no regulamento para a segunda fase e as semifinais, o time de Brian Clough ainda precisou disputar replays em outros dois confrontos, o que também empurraria a decisão para o fim de abril.


Contra o Huddersfield, o primeiro adversário, a equipe teve mais trabalho do que imaginava e avançou pelos gols fora de casa, após empatar em 1 a 1 no City Ground e em um insano 3 a 3 na casa do adversário, que jogava a terceira divisão. Em seguida, seria a vez de enfrentar um rival da elite, o Crystal Palace, que chegaria à decisão da FA Cup naquela temporada. O empate em 0 a 0 em Londres levou a decisão da vaga para o replay no City Ground.


E o Forest atropelou: 5 a 0, quatro gols marcados no primeiro tempo – Steve Hodge, Nigel Clough, Stuart Pearce e um contra de Jeff Hopkins. Na etapa final, Hodge apanhou o rebote de falta batida por Pearce e fechou a goleada. Mais suada foi a vitória sobre o Everton na quarta fase: mesmo jogando em casa, o Forest foi pressionado por boa parte do jogo, e o único gol do jogo só saiu no fim, quando o árbitro marcou sobrepasso do goleiro Neville Southall, e o tiro livre indireto dentro da área do adversário foi escorado por Lee Chapman.


O confronto com o Tottenham pelas quartas seria elétrico. No City Ground, o Forest abriu 2 a 0, mas os Spurs descontaram com Gary Lineker e buscaram o empate com Steve Sedgley a dez minutos do fim. O troco viria em White Hart Lane. O espanhol Nayim marcou para o Tottenham, mas em dois contragolpes Steve Hodge e Nigel Jemson colocaram os visitantes na frente. No segundo tempo, Paul Walsh saiu do banco para empatar novamente o placar. Mas Hodge, que havia passado pelo Tottenham, anotaria de novo para classificar o Forest.


Nas semifinais, outro adversário da elite, o Coventry, em mais um confronto apertado. No City Ground, Nigel Clough abriu o placar num pênalti. Na etapa final, os Sky Blues igualaram com um gol na marra de Steve Livingstone. Mas aos 34 minutos, Stuart Pearce soltaria uma bomba em cobrança de falta e daria a vitória aos donos da casa. Em Highfield Road, o Coventry chegou a acertar o travessão por duas vezes no mesmo lance, e Pearce fez o mesmo pelo Forest em outra batida de falta, mas a partida terminou sem gols.


O Oldham, adversário da final, era a sensação das copas: além de ter chegado às semifinais da FA Cup, perdendo apenas em um replay com prorrogação para o Manchester United, deixou camisas tradicionais pelo caminho na própria Copa da Liga: o Leeds foi vencido em ida e volta, o Arsenal e o Southampton também foram batidos e o West Ham foi surrado por 6 a 0 no primeiro jogo das semifinais. Houve ainda a goleada de 7 a 0 sobre o Scarborough, no qual o atacante Frankie Bunn estabeleceu um recorde ao balançar as redes seis vezes.


Na decisão, depois de um início equilibrado, sem gols, mas com o Forest finalizando mais, o placar seria finalmente aberto aos dois minutos da etapa final, com papel decisivo de Nigel Clough: num contragolpe, ele abriu um passe para a entrada de Nigel Jemson por entre a defesa dos Latics, e o atacante chutou duas vezes para vencer o goleiro Andy Rhodes. Depois, bastou recorrer às boas intervenções de Steve Sutton sob às traves e levar perigo em contra-ataques puxados pelo ponta Franz Carr para controlar o jogo e o resultado.


Seria a última conquista do Nottingham Forest no torneio, mas a equipe ainda voltaria à decisão pela última vez dois anos depois, perdendo para o Manchester United por 1 a 0, num jogo simbólico que marcou o primeiro título de Alex Ferguson na competição, antes de mais tarde igualar-se a Brian Clough em número de troféus. Mas a marca estabelecida pelo comandante do Forest ainda não foi superada, quase três décadas depois.

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