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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Há 50 anos, o Newcastle levantava sua última grande taça: a Copa das Feiras


O capitão Bobby Moncur mostra a taça aos torcedores no desfile dos campeões da Copa das Feiras.

Último título de peso levantado pelo Newcastle até hoje, a vitória na Copa das Feiras de 1969 – que completa 50 anos nesta terça – é também a única grande glória continental do clube de Tyneside, obtida em sua primeira temporada europeia. Beneficiados pelo inusitado regulamento do torneio, os Magpies responderam superando clubes de peso do continente na época, o que valorizou o feito de um time sem astros, mas muito coeso e sólido.


O Newcastle havia feito campanha discreta na liga inglesa em 1967-68. Terminara em décimo, somando mais derrotas (14) que vitórias (13). Também acabara com saldo de gols negativos: balançara as redes 54 vezes, mas fora vazado em 67 ocasiões. Fora de casa, havia somado apenas uma vitória e muitas derrotas pesadas, incluindo dois 6 a 0 nas visitas ao Manchester United e ao Liverpool. Então como conseguiu vaga num torneio continental?


COMO ERA O TORNEIO?


A explicação é o critério um tanto esdrúxulo adotado pelos organizadores, uma adequação ao que vigorava quando da criação da competição, em meados da década anterior. Instituída com o propósito de ser um torneio entre clubes de cidades que sediavam feiras internacionais, a Copa das Cidades com Feiras (ou apenas Copa das Feiras) teve como idealizadores o magnata suíço das loterias Ernst Thommen e os dirigentes Ottorino Barassi e Stanley Rous, o inglês que mais tarde presidiria a Fifa.


Desde o início, por mais que um país pudesse ser representado por vários clubes, havia a exigência de “um clube por cidade” – o que, nas primeiras edições, levou algumas cidades a formarem seleções locais entre jogadores de seus clubes. O vínculo da competição com as feiras foi se desfazendo ao longo dos anos 60, sendo substituído pelo critério de colocação nas ligas nacionais – daí o nome informal de “Runners-Up Cup”, ou “Copa dos Vices”.


Esse já era o formato quando o torneio de 1968-69 começou a ser organizado. O que, para o futebol inglês, deu uma certa dor de cabeça. Ao fim da temporada anterior, o Manchester City havia faturado o título inglês – derrotando inclusive o Newcastle por 4 a 3 dentro do St. James’ Park no jogo decisivo – e, portanto, seria o representante do país na Copa dos Campeões, ao lado do rival Manchester United, que levantara o principal caneco europeu.

Já na Recopa, o concorrente inglês seria o West Bromwich Albion, que vencera a FA Cup de 1968 derrotando o Everton em Wembley (na liga, os Baggies haviam terminado na oitava colocação). Sobraram as quatro vagas do país na Copa das Feiras. Sem critérios restritivos, elas ficariam com Liverpool (terceiro), Leeds (quarto), Everton (quinto) e Chelsea (sexto). Porém, o Everton foi barrado, já que os Reds seriam os representantes únicos da cidade de Liverpool.


O próximo da lista era o Tottenham, sétimo colocado, mas os Spurs também esbarravam na regra, já que o Chelsea era o londrino melhor colocado. E o mesmo se deu quanto ao Arsenal, em nono lugar. Logo, diante das repetidas exclusões, a última vaga caiu no colo do Newcastle, que faria assim sua estreia em torneios continentais. Havia, portanto, a percepção de que era preciso fazer bonito na competição para deixar de lado todas as objeções à sua participação.


Os Magpies haviam sido poderosos no futebol inglês da década anterior, vencendo três vezes a FA Cup (em 1951, 1952 e 1955), mas enfrentavam declínio desde o fim daquele período, o que os levaria ao rebaixamento em 1961, voltando à elite só em 1965. Dois anos depois, escaparam por pouco de nova degola, terminando na antepenúltima posição, uma acima da zona de descenso. Em 1968, porém, estavam no lugar certo na hora certa.


A responsabilidade do Newcastle (e dos demais ingleses) também aumentava pelo fato de o Leeds, após ter perdido a decisão de 1967 para o Dinamo Zagreb, ter levantado a taça em 1968, superando o Ferencváros húngaro numa protelada final. E a concorrência estrangeira era forte: incluía clubes como Juventus, Fiorentina, Napoli, Bologna, Athletic Bilbao, Atlético de Madrid, Valencia, Zaragoza, Hamburgo, Sporting de Lisboa e Feyenoord.


O TIME-BASE


E seria exatamente o time de Roterdã o primeiro adversário do Newcastle. A equipe dirigida pelo austríaco Ernst Happel já contava com a base que conquistaria a Copa dos Campeões no ano seguinte, na qual se destacavam o veterano ponta Coen Moulijn, o atacante sueco Ove Kindvall e quatro nomes que integrariam a seleção holandesa na Copa de 1974: o zagueiro Rinus Israël, os meias Wim Jansen e Wim van Hanegem e o atacante Ruud Geels.


O elenco campeão da Copa das Feiras com o técnico Jim Harvey sentado ao centro.

O Newcastle, por sua vez, não tinha grandes astros, mas se destacava por ser um time aguerrido e ofensivo especialmente em seus domínios, além de contar com um punhado de ídolos locais. A começar pelo goleiro norte-irlandês Willie McFaul, considerado um dos grandes da posição em seu tempo na liga inglesa e que só não acumulou mais partidas por sua seleção por ter tido a má sorte de ser contemporâneo do lendário Pat Jennings.


O lateral-direito David Craig também era norte-irlandês, embora revelado no próprio Newcastle, onde atuava desde 1961. Considerado um profissional modelo, acumularia 25 partidas por sua seleção. Na esquerda jogava outro lateral que marcou época no clube (e no futebol inglês): Frank Clark, que chegou ao clube em 1962 e ficou como titular até 1975, quando foi levado por Brian Clough para o Nottingham Forest, onde conquistaria a liga.


Na zaga, atuava outro pilar daquela equipe, o escocês Bobby Moncur, cria do clube que estreou no time de cima em 1963 e ficou até 1974, na maior parte do período como capitão. Fez 16 jogos pela Escócia, mas ficou de fora das duas primeiras partidas do clube na campanha europeia. Ao seu lado, atuava o versátil galês Ollie Burton, vindo do Norwich em 1963 e capaz de atuar em todas as posições da defesa e no meio-campo.


Outro escocês, Tommy Gibb, era o dínamo do meio-campo. Meia batalhador e bom passador, havia chegado naquela temporada, trazido do Partick Thistle. A outra vaga na meia central foi ocupada por vários nomes, entre eles o volante David Elliott, vindo do rival Sunderland. Até que, com a temporada já adiantada, no fim da janela de transferências de março de 1969, o clube contratou um jogador que tomaria conta da posição.


Armador de boa técnica e eficiente nas assistências, o dinamarquês Preben “Benny” Arentoft veio do Greenock Morton escocês. Naquela época, a contratação de jogadores que não tivessem nacionalidade britânica era proibida no futebol inglês. Mas havia um caso excepcional: o atleta em questão deveria residir há pelo menos três anos no Reino Unido. Como Arentoft atuava desde 1965 na Escócia, a permissão foi concedida sem problemas.


Outro nome onipresente na campanha, assim como Gibb, foi o experiente Jimmy Scott, jogador rodado, vindo de uma família de futebolistas, vindo do Hibernian em 1967, e que jogava com igual desenvoltura na meia ou nas pontas. Pelos lados do setor ofensivo, a briga era boa. Havia o escocês John Sinclair (vindo por alto preço do Leicester, mas que não se firmaria) e duas crias da base: o valente Alan Foggon e o habilidoso Geoffrey Allen.


Allen brilharia contra o Feyenoord na estreia. Mas dali a algumas semanas sofreria uma lesão séria que provocaria o fim prematuro de sua carreira aos 23 anos. Foggon era ainda mais jovem: tinha 18 quando do início da campanha e havia estreado no time de cima apenas meses antes, em fevereiro de 1968. Jogador de muita força física e de chute e cabeçada poderosos, foi quem acabou se firmando na posição no desenrolar da caminhada europeia.


Por fim, na frente atuava uma dupla de goleadores idolatrada em Tyneside. Bryan “Pop” Robson foi revelado pelo clube, apesar de nascido na vizinha e rival Sunderland. E marcaria quase uma centena de gols em suas 247 partidas pelo clube entre 1964 e 1971, quando foi vendido ao West Ham. Seu companheiro no ataque era Wyn Davies, centroavante galês raçudo vindo do Bolton. Típico homem de referência área e ótimo no jogo aéreo.


A CAMPANHA COMEÇA


A estreia contra o Feyenoord no St. James’ Park, o primeiro jogo de copa europeia da história do Newcastle, foi inesquecível. Disputada na noite de 11 de setembro de 1968 (curiosamente, no mesmo dia em que Leeds e Ferencvaros faziam a final da edição anterior do torneio), terminou em goleada para os donos da casa. A chuva de gols começou aos seis minutos, quando o ponta Geoffrey Allen cruzou da esquerda para Jimmy Scott concluir.


Bryan "Pop" Robson balança as redes do Feyenoord.

Allen ainda acertou um lindo chute no travessão, antes do Bryan “Pop” Robson ampliar aos 26, ao aproveitar o rebote de uma bomba de Wyn Davies que também explodiu na barra. E perto do fim do primeiro tempo veio o terceiro, quando a conclusão de Gibb desviou em Rinus Israël e tomou o caminho das redes. No segundo tempo, foi a vez de Wyn Davies sair de um jejum de 21 partidas sem balançar as redes e fechar a goleada em 4 a 0.


A derrota por 2 a 0 na Holanda no jogo de volta não impediu a classificação do Newcastle para a fase seguinte, quando seria a vez de enfrentar o Sporting de Lisboa. O clube português – que já detinha um troféu europeu, o da Recopa de 1964 – havia eliminado o Valencia na etapa anterior e tinha destaques como os defensores José Carlos, Morais, Baptista e Hilário (remanescentes da Copa do Mundo de 1966) e o goleiro Vitor Damas.


No estádio do Alvalade, na capital portuguesa, os Toons saíram em vantagem no primeiro tempo com gol de Jimmy Scott. Mas acabaram castigados com o empate dos Leões no último minuto, marcado por Morais. Na volta, com o St. James’ Park lotado, um golaço de Bryan “Pop” Robson – num sem-pulo após bola escorada por Wyn Davies – decidiu a parada logo aos dez minutos de jogo e levou o Newcastle às oitavas de final.


O terceiro adversário seria o Zaragoza, equipe que havia se consolidado como uma das forças da competição naquela década, tendo conquistado o título em 1964 e sido finalista dois anos depois, mas que naquela altura já experimentava um certo declínio. Porém ainda contava com bons jogadores e dificultou a tarefa do Newcastle em La Romareda, num jogo curiosamente disputado em 1º de janeiro de 1969 e vencido pelos espanhóis por 3 a 2.


Os Toons foram buscar duas vezes a igualdade ainda no primeiro tempo, com Bryan “Pop” Robson e Wyn Davies, mas não resistiram ao gol de Javier Planas aos dez minutos da etapa final. Ainda podiam, no entanto, jogar por uma vitória simples em casa. Na volta, com menos de meia hora de jogo, já venciam por 2 a 0 com “Pop” Robson abrindo o placar aos dois minutos em chute de longe e cruzando para a cabeçada de Gibb aos 26.


O Zaragoza descontou ainda no primeiro tempo com Armando Martín e pressionou durante a etapa final, mas o Newcastle segurou o resultado que valeu a classificação pelos gols fora de casa. Nas quartas, foi a vez de enfrentar o Vitória de Setúbal, que, embora talvez seja a equipe de menos nome que cruzou o caminho do Newcastle naquela campanha, vivia o começo de uma época gloriosa no futebol português e europeu.


Em meio à neve, Bobby Moncur (de uniforme escuro) cumprimenta o capitão do Vitória de Setúbal.

O jogo de ida aconteceu no St James’ Park em meio a uma forte nevasca, o que levou o campo a ter suas linhas remarcadas em vermelho. Enquanto os jogadores do time português mal podiam se equilibrar em pé, o Newcastle partiu para uma goleada. No primeiro tempo, Alan Foggon e Bryan “Pop” Robson marcaram em dois cruzamentos do lateral-direito reserva John Craggs, e os Toons levaram a vantagem para o intervalo.


Na etapa final, aos 15 minutos, Wyn Davies marcou um terceiro gol bastante contestado pelos lusos, mas confirmado pelo árbitro sueco Curt Liedberg. Aos 30, “Pop” Robson ampliou com um golaço de longa distância. O Vitória descontou com José Maria após grande jogada de Figueiredo, ao 39. Mas no último minuto, Tommy Gibb aproveitou um rebote da defesa e, em outro chute do meio da rua, fechou o placar em 5 a 1.


Na volta, em Setúbal, o Vitória marcou logo aos 27 minutos e animou sua torcida com a chance de reverter a goleada. Mas um gol de Wyn Davies pouco antes do intervalo jogou um balde de água fria nos donos da casa. Na etapa final, os lusos precisavam marcar quatro vezes para levar a decisão para a prorrogação. Mas fizeram só dois gols, com Petita aos 15 e Figueiredo aos 21. Venceram, mas não levaram. E o Newcastle seguiu.


A RETA FINAL


McFaul segura a bola na semifinal contra o Rangers: dois jogos tensos.

A “batalha britânica” contra o Glasgow Rangers era o que aguardava os alvinegros nas semifinais. E o jogo de ida, em Ibrox, seria talvez o mais difícil de toda a campanha. Sob pressão constante dos donos da casa, o Newcastle teve de contar com uma atuação soberba de Willie McFaul sob as traves e de Bobby Moncur e do grandalhão zagueiro reserva John McNamee (substituto de Ollie Burton) para sair de campo com um 0 a 0.


McFaul inclusive defendeu um pênalti, cometido por ele próprio sobre o atacante sueco Örjan Persson e cobrado pelo meia Andy Penman. O resultado foi fundamental para o jogo de volta, disputado sob uma atmosfera de rivalidade e confusão. Na etapa inicial, além de muitas faltas duras e por vezes desleais, ainda houve a briga envolvendo Wyn Davies e o zagueiro Ron McKinnon, que provocou uma invasão de campo pelos torcedores escoceses.


O Newcastle abriu o placar pouco depois da volta do intervalo quando Tommy Gibb deu um belo passe por entre a defesa para Jimmy Scott aparecer sozinho e tocar para as redes. Aí foi a vez dos torcedores da casa invadirem o campo para celebrar. Com muito custo, a partida foi reiniciada e, a 13 minutos do fim, os Toons marcaram de novo quando Ollie Burton cobrou falta para a área, Wyn Davies escorou e John Sinclair tocou para o gol.


Torcedores do Rangers invadem o campo na tumultuada semifinal no St James' Park.

Logo em seguida, houve nova invasão por parte dos torcedores do Rangers, desta vez tentando partir para a briga com os do Newcastle, e o jogo foi suspenso com o árbitro e os dois times descendo para os vestiários. Quando voltaram, a fatura já estava liquidada. A vitória por 2 a 0 levou o time de Tyneside à final na primeira competição europeia de sua história. E, como no ano anterior, ingleses contra húngaros – neste caso, o Újpest.


Considerada pelo então técnico do Leeds, Don Revie, a “mais forte da Europa”, a equipe do Újpest mesclava talentos experientes e jovens. Nomes como o goleiro Antal Szentmihalyi, o defensor Benõ Káposzta e o atacante Ferenc Bene – este, seu maior destaque – haviam estado na Copa de 1966. Já os novatos Antal Dunai e László Fazekas haviam sido cruciais para a conquista da medalha de ouro da Hungria nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968.


A DECISÃO


Além de disputar sua primeira final europeia (havia chegado às semifinais da Recopa em 1962), o time do Újpest iniciava naquele ano de 1969 uma sequência de sete títulos húngaros. Era de fato um grande esquadrão. Mesmo assim, o Newcastle dominou as ações na partida de ida, em 29 de maio, no St James’ Park. Jogando um futebol veloz, encurralou os magiares, mas não tirou o zero do placar. Até ser salvo por um herói improvável.


Bobby Moncur já ostentava a braçadeira de capitão praticamente desde que chegou ao time de cima do Newcastle, em 1963. Tinha inclusive um perfil bastante semelhante ao do técnico Joe Harvey quando fora jogador e capitão do time entre o fim dos anos 1940 e meados dos 1950. Só não havia feito uma coisa em todos esses quase seis anos de titularidade e mais de 140 partidas vestindo a camisa alvinegra: marcado gols.


Mas a chance surgiu quando Bryan “Pop” Robson foi derrubado perto da área, aos 18 minutos da etapa final, e o Newcastle teria uma cobrança de falta para fazer. Tommy Gibb levantou a bola e encontrou Wyn Davies do outro lado da área. O chute do galês foi travado pelo goleiro húngaro, mas a bola sobrou no meio da área para Moncur. E o capitão dominou e encheu o pé no rebote para enfim vencer Szentmihalyi e enlouquecer o estádio.


E não ficou nisso: nove minutos depois, o capitão dos Toons apanhou uma bola perdida na linha do meio-campo, avançou, tabelou com Arentoft e seguiu adiante. Depois de uma tentativa falha de corte por um zagueiro húngaro, ele recuperou a bola, ajeitou no peito e bateu rasteiro, da entrada da área, no canto do goleiro. Era o segundo gol do Newcastle. Dois de seu capitão. Dois do zagueiro que nunca havia balançado as redes.


Aos 38 minutos, o Newcastle chegaria ainda ao terceiro gol: Jimmy Scott desceu em velocidade na diagonal vindo da meia direita, tabelou com Arentoft e recebeu na frente, conseguindo mesmo marcado tocar na saída do goleiro. O estádio de St James’ Park pulsava. A vantagem obtida na ida era considerável. Os Toons tinham uma mão na taça. Mas antes de enfim levantar o caneco, o time levaria um susto no jogo de volta.


O time do Újpest, dirigido pelo experiente Lajos Baróti (que havia comandado a seleção húngara nas três últimas Copas do Mundo e voltaria ao cargo no Mundial de 1978) pisou o gramado do seu Dozsa-Stadion, em Budapeste, ciente de que tinha totais condições de reverter a derrota no primeiro jogo. E, de fato, esteve bem perto disso: Ferenc Bene abriu a contagem aos 31 minutos e János Göröcs ampliou aos 44. Faltava só um gol.


“Por 45 minutos eles absolutamente nos pulverizaram”, relembrou o lateral Frank Clark falando à revista Four Four Two em 2015. No vestiário, o técnico Joe Harvey tentou acalmar os jogadores: “Tudo que vocês precisam fazer é marcar um gol”, disse o treinador a seus atônitos comandados. Mas até que deu certo. De novo pelos pés de seu capitão, logo no início da etapa final, o Newcastle começaria a se safar.


Com um minuto do segundo tempo, os Toons ganharam um escanteio. Sinclair cobrou, o goleiro rebateu e a bola voltou para o ponteiro, que alçou de novo para a área. Bobby Moncur então esticou a perna, mesmo marcado por dois defensores, e conseguiu desviar o cruzamento num quase voleio para as redes. O gol esfriou completamente o ímpeto dos húngaros, que agora precisariam marcar mais três gols em vez de só um.


E o Newcastle tomou conta da partida. Quatro minutos depois já viria o gol de empate, quando Benny Arentoft aproveitou uma bola que ricocheteou na defesa e emendou de primeira. A essa altura, o time do Újpest já estava entregue, com sua torcida em silêncio. O Newcastle controlava inteiramente a partida, de novo com a defesa mostrando a mesma solidez de outros jogos. E o golpe de misericórdia viria aos 29 minutos.


Uma bola longa vinda da defesa foi desviada de cabeça por Wyn Davies e encontrou Alan Foggon correndo em direção ao gol. O ponteiro disparou ganhando na corrida dos beques e chutou da entrada da área. O arqueiro Szentmihalyi ainda espalmou para o alto, mas a bola fez a curva e bateu no travessão. Mas o jovem atacante foi mais esperto e chegou antes, tocando para o gol vazio e decretando a virada.


Curiosamente, a única vitória como visitante do Newcastle no torneio veio justamente na final, e de virada. Mas o mérito era incontestável: a equipe havia derrotado todos os seus adversários no St James’ Park e administrado os resultados fora de casa. Mesmo sem jogadores considerados de primeiro escalão no futebol inglês, soube superar rivais de maior cartaz com um futebol ofensivo, vigoroso, raçudo e solidário.


De lá para cá, os Toons ainda esperam retomar o hábito das conquistas. Mesmo tendo contado com jogadores de renome do futebol inglês como Kevin Keegan, Paul Gascoigne e Alan Shearer, nunca mais levantariam uma taça importante, embora tenham vencido outros títulos menores e esquecidos: a Copa Texaco (duas vezes), disputada entre equipes inglesas e escocesas, e a Copa Anglo-Italiana.


Os campeões da Copa das Feiras de 1969 desfilam em meio aos torcedores.

Na década seguinte ao caneco europeu, o Newcastle perderia a final da FA Cup para o Liverpool em 1974 e a da Copa da Liga para o Manchester City em 1976. Na velha Football League, sua melhor posição seria um quinto lugar na temporada 1976-77. Na era Premier League, chegaria duas vezes ao vice-campeonato, em 1996 e 1997 (em ambos atrás do Manchester United), e também seria batido na final da FA Cup em 1998 e 1999.


A defesa do título da Copa das Feiras na temporada 1969-70 pararia nas quartas diante do Anderlecht. Mas o clube demoraria a se firmar no cenário continental: entre 1971 e 1994, disputaria só uma vez uma taça europeia, a Copa da Uefa em 1977-78. De 1969 em diante, embora chegasse a vencer a Inter de Milão e o Barcelona, o mais longe que alcançaria seria a semifinal da Copa da Uefa em 2004, perdida para o Olympique de Marselha.


A Copa das Feiras acabou descontinuada em 1971, depois de 13 edições, e substituída pela Copa da Uefa, organizada (como o novo nome indicava) pela União Europeia de Futebol. Embora a entidade tenha se manifestado contrária ao critério de “um time por cidade”, ele só foi abandonado de vez para apontar os representantes ingleses em 1975. Em 2009, a Copa da Uefa foi rebatizada como Liga Europa, nomenclatura atualmente utilizada.

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