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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Leeds United 1991-92, o último campeão da velha liga

Atualizado: 12 de abr. de 2018


Bramall Lane, Sheffield, 26 de abril de 1992: o título do Leeds encerrava um período histórico no futebol inglês.

Enquanto tenta se recolocar na elite inglesa através dos playoffs da Championship, o Leeds relembra uma de suas grandes glórias: a conquista do título inglês de 1992, último troféu relevante levantado pelos Whites, após acirrada disputa com o Manchester United de Alex Ferguson. O time de Howard Wikinson reunia experiência, juventude, qualidade técnica e caráter, sagrando-se campeão de modo surpreendente, numa temporada que também marcou a derradeira edição do campeonato de elite a ser organizado pela Football League, sua criadora, mais de um século antes.


ASCENSÃO, DECLÍNIO E RETORNO


O Leeds havia vivido sua Era de Ouro, durante a qual escreveu seu nome na história do futebol inglês, entre a segunda metade dos anos 60 e a primeira da década seguinte. Sob o comando do controverso Don Revie, os Whites viveram sua fase mais vitoriosa. Entre 1965 e 1974, levantaram dois títulos da Liga, ficando outras cinco vezes como vice-campeão. Chegaram a quatro decisões da FA Cup, conquistando o título em 1972, além de vencerem a Copa da Liga em 1968. E se tornaram também uma potência na Europa, vencendo duas vezes a Copa das Feiras e chegando à decisão da Recopa.


O ponto alto, o vice-campeonato da Copa dos Campeões perdendo para o Bayern de Munique em Paris, já sem Don Revie (que assumira a seleção inglesa), acabaria marcando o começo da decadência do clube. Em maio de 1982, o Leeds seria rebaixado, iniciando um período de oito temporadas na segunda divisão, quase sempre no meio da tabela. Pior ainda: o clube assistia ao recrudescimento da péssima reputação de seus hooligans como visitantes, especialmente os jovens da Leeds Service Crew.


O fundo do poço viria no meio da década, com a participação daquele grupo nos incidentes que interromperam o jogo contra o Birmingham City no estádio St. Andrew’s e mataram um torcedor, em 11 de maio de 1985. Na temporada seguinte, os Whites terminaram numa modesta 14ª posição na segunda divisão. Eram sinais claros de que muita coisa no clube precisava mudar.


Em 1986-87, o clube esteve perto do acesso, ao terminar na quarta colocação e derrotar o Oldham no primeiro playoff, mas acabaria derrotado no segundo, caindo na prorrogação de um terceiro jogo contra o Charlton (que se manteria na elite). Mas o passo decisivo viria em outubro de 1988, quando o clube apontou Howard Wilkinson para o cargo. O treinador vinha do rival local Sheffield Wednesday, o qual trouxera de volta à elite em 1984 e levara a um ótimo quinto lugar dois anos depois.


Após ajeitar a casa em sua primeira temporada, na seguinte Wilkinson conseguiria trazer jogadores experientes, formando uma boa base. A volta à elite seria confirmada com o título da segunda divisão em 1989-90, superando o Sheffield United no saldo de gols. Com um elenco tarimbado, o Leeds terminaria numa boa quarta colocação em sua temporada de retorno, atrás de Arsenal, Liverpool e do surpreendente Crystal Palace. Mas o futuro era ainda mais promissor.


A EXPECTATIVA PARA A TEMPORADA


Inicialmente, o Leeds corria por fora na briga pelo título da temporada 1991-92. Os favoritos mais destacados eram o Arsenal de George Graham (embalado pela excelente campanha do título na temporada anterior) e o Manchester United de Alex Ferguson (que depois de acumular vitórias em copas, agora parecia pronto para o título da liga). Os dois, entretanto, tinham compromissos europeus em paralelo – especialmente os Gunners, que seriam os representantes ingleses na Copa dos Campeões.


Junto com os Whites, também apareciam com boa cotação o Liverpool dirigido por Graeme Souness (que pagou mais de cinco milhões de libras para trazer do Derby County o zagueiro Mark Wright e o atacante galês Dean Saunders) e o Manchester City (no qual o veterano meia Peter Reid fazia a dupla função de jogador e técnico), enquanto o Tottenham via suas chances serem diminuídas pela lesão de Paul Gascoigne, que ficaria de fora pela temporada inteira.


Perto de Leeds, ali mesmo na região de Yorkshire, havia ainda uma equipe pouco levada em consideração, inicialmente colocada mais como candidata ao rebaixamento, mas que também daria o que falar na temporada: o recém-promovido Sheffield Wednesday, também comandado por um jogador-técnico, Trevor Francis.


O TIME-BASE DOS WHITES

Início de temporada: o elenco posa para a foto oficial de 1991-92.

O time de Howard Wilkinson começava com o experiente goleiro John Lukic, 31 anos completados durante a temporada, revelado pelo próprio Leeds no fim dos anos 70, mas que havia defendido o Arsenal (pelo qual conquistou o título da liga em 1989) e retornara um ano depois a Elland Road, depois de os Gunners contratarem David Seaman, do Queens Park Rangers.


Mel Sterland, bom apoiador e cobrador de faltas e pênaltis, era o lateral-direito. Depois de mais de uma década atuando pelo Sheffield Wednesday, clube que o revelou, havia chegado ao Leeds em 1989, trazido por Wilkinson após rápida passagem pelo Glasgow Rangers. Do outro lado, o dono da posição era o recém-contratado Tony Dorigo, australiano naturalizado inglês que disputou a Copa do Mundo de 1990 pela equipe de Bobby Robson e era igualmente bom no apoio. Revelado pelo Aston Villa, vinha do Chelsea após se desentender com o treinador e a diretoria sobre sua renovação de contrato.


No miolo de zaga, em princípio, um dos titulares era o veterano John McClelland, que completaria 36 anos em dezembro e havia disputado as Copas do Mundo de 1982 e 1986 pela Irlanda do Norte. Ao fim do primeiro terço da campanha, no entanto, ele acabaria perdendo a posição para Chris Fairclough, que chegara ao clube em 1989 (primeiro por empréstimo, depois em definitivo) após passagens por Nottingham Forest e Tottenham.


Intocável mesmo no setor era Chris Whyte, que disputou 41 das 42 partidas da campanha. Zagueiro seguro, bom na antecipação, começara a carreira no Arsenal, onde jogou por sete anos antes de migrar para os Estados Unidos, disputando duas temporadas de futebol indoor. Repatriado pelo West Bromwich Albion, chegou ao Leeds em 1990, sendo titular absoluto nas três temporadas em que defendeu o clube.


Mas o ponto alto daquela equipe era o meio-campo, que tinha David Batty, produto das categorias de base do clube, como verdadeiro cão de guarda, incansável na marcação, embora também tivesse facilidade na saída de jogo. Ao seu lado, pelo centro, jogava o escocês Gary McAlllister, verdadeira referência técnica da equipe. Armador com formidável qualidade no passe e na distribuição de jogo, também era um líder dentro do elenco.


Os meias de lado também tinham muita criatividade e qualidade técnica. E frequentemente trocavam de posições entre eles e com McAllister. O experiente capitão escocês Gordon Strachan, ex-Manchester United, ainda tinha vigor físico aos 35 anos para correr pelo lado direito, enquanto o galês Gary Speed era o dono do setor pelo lado esquerdo. Junto com Batty, eram quatro jogadores de características complementares, dando um dinamismo excepcional ao conjunto e, consequentemente, ao time.


O elenco ainda contava com outra boa opção para o setor: o experiente meia-esquerda Steve Hodge, ex-Nottingham Forest, Aston Villa e Tottenham, e que havia participado das Copas de 1986 e 1990 pela Inglaterra. Apesar do currículo e da inegável qualidade técnica, o jogador acabou relegado à reserva, atuando muitas vezes como um curinga (chegou a jogar pelo lado direito, na meia ou até na lateral), dada a coesão do quarteto titular do meio-campo. Em compensação, marcou sete importantes gols ao longo da campanha, mais do que qualquer um dos quatro titulares.


Se não era tão badalado quanto o setor de criação, o ataque se mostrou bastante eficiente, e também formado por peças que se completavam. A dupla contava com o ágil e driblador Rod Wallace atuando aberto pelos lados, e o grandalhão Lee Chapman como homem de área. Contratado no início daquela temporada por 1,6 milhão de libras, Wallace tinha apenas 21 anos e era revelação do Southampton, onde chegara a formar um trio ofensivo com Alan Shearer e Matthew Le Tissier. De contrapeso, também havia aportado em Elland Road seu irmão Ray, lateral-direito, que não chegou a entrar em campo pela liga.


Chapman, por sua vez, era um jogador mais rodado: sua carreira registrava passagens pelo Stoke (onde se profissionalizou), Arsenal, Sunderland, Sheffield Wednesday e o Niort (da segunda divisão francesa), antes de trocar, em janeiro de 1990, o Nottingham Forest pelo Leeds. Era mais um nome daquele elenco a ter trabalhado com Howard Wilkinson em Sheffield. Do alto de seu 1,91m, era exímio cabeceador. Havia marcado 79 gols em 186 jogos oficiais pelos Owls, grande parte em jogadas de bola aérea.


Quando Chapman se lesionou, fraturando o pulso em meados de janeiro e ficando de fora de alguns jogos importantes, Wilkinson precisou ir às compras e resolveu apostar num centroavante estrangeiro, um francês que, sem mercado em seu país pelos constantes problemas disciplinares, havia feito um teste no Sheffield Wednesday, mas acabou não ficando, já que o clube não tinha condições de pagar o que ele pedia. Seu nome era Eric Cantona, e seu contrato com os Whites acabou assinado no dia 6 de fevereiro.

Eric Cantona e Rod Wallace comemoram o gol contra o Sheffield United, no jogo do título.

A participação de Cantona no título do Leeds tende a ser um tanto superestimada: o jogador entrou em uma equipe já pronta e que já brigava palmo a palmo pelo título. Além disso, das 15 partidas em que atuou, foi titular em apenas seis, marcando três gols, todos em vitórias tranquilas. Mas sua habilidade sem dúvida deu um toque artístico, imprevisível, ao estilo de jogo do time, desequilibrando a disputa em favor dos Whites na reta final.


A curiosidade sobre a participação do francês foi a de que em apenas uma das seis partidas que jogou como titular ele vestiu a camisa 9. Em quatro delas, usou estranhamente numeração de defensor (jogou três vezes com a camisa 2 e uma com a 3). No último jogo da campanha, contra o Norwich, entrou com a camisa 14, substituindo Gordon Strachan, o 7, de última hora.


A CAMPANHA


Mesmo em estar na posição de grande favorito, desde o início da temporada o Leeds se impôs como força na briga pelo título. Passou invicto pela sequência inicial de dez jogos, vencendo cinco e empatando cinco, e obtendo resultados convincentes: em Elland Road, derrotou o Nottingham Forest na estreia (1 a 0), o Manchester City (3 a 0) e o Liverpool (1 a 0). E como visitante goleou o Southampton (4 a 0) e bateu o Chelsea (1 a 0), além de arranjar um precioso empate em 1 a 1 com o Manchester United em Old Trafford.


A primeira derrota viria em 1º de outubro, num jogo remarcado diante do bom time do Crystal Palace (terceiro colocado na temporada anterior) por 1 a 0 em Londres. Com o resultado, parecia que o United nadaria de braçadas e não teria concorrentes na briga pelo título que encerraria seu jejum de 25 anos na liga. Os Whites, na segunda posição, somavam seis pontos a menos que os Red Devils tendo um jogo a mais.


No entanto, a sequência seguinte reacendeu a briga. Enquanto o time de Alex Ferguson perdia pontos em empates em casa contra Liverpool e Arsenal, o Leeds derrotava o Sheffield United e o Notts County. No dia 26, enquanto invencibilidade do Manchester United no campeonato caía em Hillsborough, com um 3 a 2 a favor do Sheffield Wednesday, o Leeds vencia seu terceiro jogo seguido, batendo o Oldham por 1 a 0 em casa graças a um gol contra do zagueiro Brian Kilcline, e chegava inesperadamente à liderança.


Começava ali a briga acirrada, cabeça a cabeça, entre as duas equipes pelo título inglês, com a liderança constantemente trocando de mãos entre elas. Após a derrota para o Crystal Palace no início de outubro, o Leeds iniciaria uma série invicta de 16 partidas, registrando nesse período pelo menos duas exibições memoráveis como visitante, em jogos que tiveram transmissão ao vivo para todo o país pela ITV. A primeira viria no Villa Park no dia 24 de novembro.


O Aston Villa vinha embalado, com cinco vitórias consecutivas e já se alojando na quarta posição, encostando nos ponteiros. Tinha um time bastante experiente, veloz e forte fisicamente. Mas não foi páreo para um Leeds já consciente de sua força. Os Whites abriram 3 a 0 com gols de Rod Wallace no primeiro tempo e Sterland e Chapman na segunda etapa. O Villa descontou com o jovem Dwight Yorke. Mas de novo Chapman, pairando no ar para emendar de cabeça um cruzamento de Sterland da direita, decretou a goleada de 4 a 1.




A segunda vitória antológica da equipe naquele período veio já em 1992, no dia 12 de janeiro, no clássico de Yorkshire contra o Sheffield Wednesday em Hillsborough. Era um duelo perigoso para os Whites antes de a bola rolar. Além de não contar com David Batty e Gordon Strachan, o Leeds enfrentava a sensação do campeonato: recém-promovidos, os Owls não perdiam há 11 jogos em casa (o último revés havia sido na estreia contra o Aston Villa) e sustentavam há várias rodadas a terceira colocação, logo atrás dos Whites e do Manchester United.


Por falar nos Red Devils, o Leeds também precisava recobrar o ânimo depois de ter sido eliminado da Copa da Liga quatro dias antes com uma derrota categórica de 3 a 1 para o time de Alex Ferguson em pleno Elland Road. Por fim, o fato de ser a primeira visita de Howard Wilkinson a Hillsborough depois de ter trocado o Wednesday pelos Whites em 1988 poderia criar uma atmosfera ainda mais hostil.


Mas desde o início o que se viu foi um passeio do Leeds diante de um Sheffield Wednesday inofensivo, encurralado em seu próprio campo de defesa devido aos constantes ataques dos visitantes. Aos nove minutos, McAllister bateu escanteio, Fairclough aparou de cabeça na altura da marca do pênalti, e Chapman, na pequena área, não teve trabalho para abrir o placar.


O Leeds continuou num ritmo absurdamente intenso, perdendo uma série de chances de ampliar o placar e exigindo grandes defesas de Chris Woods, goleiro titular da seleção inglesa. E pouco depois de Chapman acertar o travessão numa escapada pela ponta-direita, veio o segundo gol dos Whites, numa cobrança de falta perfeita de Tony Dorigo. O Wednesday ensaiou uma reação e descontou graças a um pênalti cavado numa simulação grotesca de Gordon Watson, após disputa com Chris Whyte dentro da área. O meia irlandês John Sheridan bateu, Lukic defendeu, mas a bola tocou a trave, correu por toda a linha e reencontrou no outro canto o pé de Sheridan, escorando para o fundo das redes.


Mas o Leeds não se abalou: praticamente no minuto seguinte marcou o terceiro, outra vez com Chapman escorando cruzamento de Dorigo da esquerda. Na etapa final, o centroavante completaria seu hat-trick num lance curioso: após cobrança de escanteio, Speed cabeceou no travessão e, enquanto se lamentava, Wallace rebateu de cabeça para o centro da área, onde o camisa 9 apareceria para concluir também de cabeça. Em outra cabeçada, o reserva Mike Whitlow marcaria o quinto. E o sexto viria no fim, após jogada de pé em pé que chegou a Rod Wallace entrando pelo meio da defesa dos Owls e tocando na saída de Woods para fechar o massacre.




Ao contrário do que se imaginava, porém, ao invés de deslanchar no campeonato, o Leeds viveu momentos turbulentos após a goleada em Hillsborough. Três dias depois voltou a ser eliminado pelo Manchester United em casa, agora na FA Cup, com derrota por 1 a 0. E no dia 8 de fevereiro, na tarde de estreia de Eric Cantona, foi derrotado pelo Oldham por 2 a 0 fora de casa e perdeu a primeira posição para o time de Alex Ferguson. E em março, no espaço de uma semana, recuperou a ponta ao vencer o Tottenham em White Hart Lane por 3 a 1, sofreu goleada surpreendente para o Queens Park Rangers em Loftus Road (4 a 1) e goleou o Wimbledon, então invicto há sete jogos, por inapeláveis 5 a 1 em Elland Road.


A oscilação continuou pelas próximas rodadas, com empates contra o Arsenal em Highbury e o West Ham em casa, seguidos por uma desastrosa goleada sofrida diante do Manchester City (4 a 0) em Maine Road, resultados que voltaram a tirar a equipe da liderança no começo de abril. Para a sorte do Leeds, o Manchester United também oscilava (é bom lembrar que o título era disputado por dois clubes que não o conquistavam há mais de 15 anos): após uma primeira metade de campeonato brilhante, venceria apenas sete de seus 22 jogos após o Boxing Day.


E, para piorar as coisas para os Red Devils, o acumulo de jogos adiados em virtude das boas campanhas nas copas começou a cobrar seu preço. Quatro dias depois de vencer o Nottingham Forest e conquistar a Copa da Liga em Wembley, o Manchester United partiu para uma maratona de cinco partidas em 11 dias pela liga, sendo três delas fora de Old Trafford. Venceu apenas a primeira, contra o Southampton em casa. Empatou a segunda, na visita ao ameaçado Luton Town. E perdeu as três seguintes, contra o Forest em seus domínios (num resultado considerado surpreendente), o lanterna West Ham em Londres e, no dia 26 de abril, o Liverpool em Anfield.


Com calendário bem mais folgado, o Leeds guardou forças para um “sprint” final. Enquanto o Manchester United se preparava para decidir a Copa da Liga, os Whites venciam com facilidade o Chelsea por 3 a 0 em Elland Road, com direito a golaço de Cantona, recebendo na corrida uma cobrança de lateral, levantando a bola para um lado e para o outro diante do zagueiro e concluindo em seguida.





O DIA DO TÍTULO


No dia 20, enquanto o United era surpreendido em casa pelo Forest, o Leeds recuperava a liderança vencendo o Coventry por 2 a 0. E seis dias depois, quando os Red Devils já haviam desperdiçado toda a vantagem de jogos a menos na tabela, veio a tarde do título. Apenas duas partidas estavam marcadas para aquele domingo da penúltima rodada. O Leeds, um ponto à frente na tabela, jogaria mais cedo ali perto, em Bramall Lane contra o Sheffield United. Se vencesse, precisaria da derrota do Manchester United, que teria parada dura contra o Liverpool em Anfield, para confirmar a conquista.


O jogo em Sheffield, a bem da verdade, foi um festival de gols bizarros. O time da casa abriu o placar, após um bate-e-rebate na área, encerrado com um chute forte do veterano Alan Cork para as redes. Nos acréscimos do primeiro tempo veio o empate. Rod Wallace recebeu na frente, mas foi travado pelo goleiro Mel Rees. A bola repicada passou por dois zagueiros do Sheffield sem ser rebatida, até que Dave Busst tentou espanar com um chutão. Só que, como num incrível lance de pinball, ela acertou em sequência o tornozelo de Speed e a coxa de Wallace, indo parar no fundo das redes.


Na etapa final, depois de Speed acertar o travessão logo nos primeiros minutos, veio a virada do Leeds. McAllister cobrou falta sofrida por Batty na lateral com um balão para a área. O goleiro saiu em falso, e a bola chegou até a segunda trave, onde Jon Newsome, reserva da lateral-direita, tocou de cabeça para o gol. Mas o Sheffield United persistiu e empatou com um gol contra. Após escanteio, Pemberton chutou da linha de fundo, a bola desviou no pé de Chapman e entrou.


Mas o gol mais bizarro seria o da vitória dos Whites. De chutão em chutão, o Leeds conseguiu armar um contra-ataque, mas a jogada parecia ter sido amortecida pela defesa do adversário. Até o zagueirão Bryan Gayle matar a bola meio desajeitadamente com o joelho e recuar de cabeça, sem notar, porém, que o goleiro Mel Rees já havia saído para espalmar. Num erro fatal, o recuo de Gayle encobriu o próprio arqueiro e parou nas redes, decretando a vitória dos visitantes.


Faltava secar o Manchester United. E deu certo: o Liverpool venceu por 2 a 0, e pouco depois do retorno dos jogadores dos Whites, a cidade de Leeds explodiu em festa. No último jogo da campanha, contra o Norwich em Elland Road, a vitória por 1 a 0, com um golaço de Rod Wallace em arrancada sensacional do próprio campo, prosseguiu com as comemorações.


Apesar do desdém de parte da imprensa na época (um jornalista chegou a definir a conquista como “o título que ninguém quis ganhar”), alguns detalhes da campanha merecem ser destacados: o Leeds perdeu apenas quatro de suas 42 partidas Nenhuma em casa. Marca expressiva para um time considerado então não muito confiável. Também é importante lembrar que tratava-se de uma equipe que dois anos antes disputava a segunda divisão, dando um salto de competitividade enorme em bem pouco tempo. Por fim, outro feito a ser destacado pertence a Howard Wilkinson (ou Sargento Wilko, apelido que recebeu dos torcedores pelo estilo disciplinador): o de ter sido o último treinador inglês campeão da liga de seu país.



O técnico Howard Wilkinson celebra a conquista ao lado de Gordon Strachan e de Rod Wallace.

A temporada seguinte, no entanto, revelaria-se um total anticlímax. Na edição inaugural da Premier League, o Leeds fez campanha decepcionante, embora tenha aberto a temporada com uma vitória empolgante sobre o Liverpool por 4 a 3 na conquista da Charity Shield (a supercopa inglesa) em Wembley. Terminaria numa melancólica 17ª colocação, uma das piores já registradas por um detentor de título da liga na história. E ainda assistiria à saída de Eric Cantona, negociado já em pleno andamento da temporada com o rival Manchester United, onde se transformaria em lenda, empilhando troféus nacionais.


Na Copa dos Campeões, a sorte não seria muito diferente: Derrotado por 3 a 0 diante do Stuttgart na Alemanha no primeiro mata-mata preliminar, venceu por 4 a 1 em casa e seria eliminado nos gols fora de casa, mas ganhou uma sobrevida quando se descobriu que o adversário escalara um jogador estrangeiro além do permitido. Com o placar do jogo de volta alterado para 3 a 0 a favor dos ingleses, a Uefa decidiu marcar um jogo extra em campo neutro (o Camp Nou, em Barcelona), e os Whites avançaram com um 2 a 1. Na fase seguinte, porém, caíram com duas derrotas pelo mesmo placar de 2 a 1 no clássico britânico diante do Glasgow Rangers.


O clube passaria quase todo o resto da década se contentando com campanhas medianas, nunca acima do quinto lugar, até recolocar-se como força por um breve período na virada do milênio, alcançando inclusive as semifinais da Liga dos Campeões. Rebaixado em 2004, chegou a enfrentar o calvário na terceira divisão entre 2007 e 2010, com várias trocas de donos e punições administrativas, e agora tenta retornar aos dias de glória.


*Texto publicado originalmente pelo autor no site Trivela em 26 de abril de 2017.



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