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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

O centenário de Bill Nicholson, lenda do Tottenham em campo e no banco



Bem menos conhecido fora do Reino Unido do que muitos de seus lendários colegas treinadores, Bill Nicholson, que completaria seu centenário neste sábado, ocupa o patamar de gigante dentro do futebol inglês. Sua ligação com o Tottenham atravessou décadas (e inclusive uma guerra mundial) e virou parâmetro, tanto pelo estilo de jogo adotado quanto pelos mais variados títulos conquistados com os Spurs, como jogador e técnico.


À guisa de apresentação, basta dizer que, como jogador, foi peça fundamental na máquina dos Spurs que levantou em sequência os títulos da segunda e primeira divisões no início dos anos 50. E que, como treinador, venceu todos os principais títulos possíveis em seu tempo tanto no país – com destaque para a histórica dobradinha inglesa de 1961, a primeira do século XX – quanto na Europa, exceto a Copa dos Campeões (na qual alcançou as semifinais com os londrinos).


Nascido na cidade litorânea de Scarborough, região de North Yorkshire, em 26 de janeiro de 1919, Nicholson chegou ao Tottenham em 1936 para atuar nas categorias de base, enquanto também trabalhava cuidando do campo de White Hart Lane. No ano seguinte, para adquirir experiência, foi emprestado ao Northfleet United, clube filial dos Spurs, para onde voltaria – agora em definitivo – em agosto de 1938, estreando no time de cima dois meses depois.


A Segunda Guerra Mundial, que interrompeu as competições de futebol em caráter oficial no Reino Unido entre meados de 1939 e 1945, roubou anos preciosos de sua carreira como jogador, na qual atuou como centromédio e mais tarde médio-direito. Mas ele ainda teria tempo de ser peça fundamental num time histórico dos Spurs, na virada dos anos 1940 para os 1950, emendando o acesso à elite com o primeiro título da liga da história do clube.


CAMPEÃO COMO JOGADOR


A campanha do título da segunda divisão, em 1949-50, foi arrasadora. Na virada do ano, os Spurs somavam 20 vitórias em 25 jogos e só uma derrota (para o Blackburn). Estavam invictos há 22 partidas. Para se ter ideia de seu poderio basta dizer que o Sheffield United, que terminaria em terceiro, foi surrado por 7 a 0 ao visitar White Hart Lane, em novembro. O título veio com nove pontos de frente sobre o Sheffield Wednesday, mesmo com certo relaxamento na reta final.


Aquela era a primeira temporada de Arthur Rowe no comando da equipe. Ex-jogador dos próprios Spurs nos anos 30, ele implementou um estilo de jogo revolucionário para o futebol inglês de então, que viria a ser apelidado de “push and run”, ou “empurre e corra”. Era um jogo bastante fluido, calcado na troca incessante de passes curtos, rápidos e precisos, em triangulações que criavam o espaço para as ações ofensivas, quase sempre saídas pelo meio, em vez das pontas.


Bill Nicholson, então já com 30 para 31 anos, era o centro da equipe e um dos responsáveis por essa saída de jogo com qualidade no toque de bola. Era um estilo que agradava aos olhos: além do título, os Spurs também ostentaram a média de público mais alta de todas as divisões da liga. E, mesmo vindo da segunda divisão, cederiam nada menos que quatro jogadores para a seleção inglesa que enfim disputaria uma Copa do Mundo, a do Brasil.


Um deles era Nicholson, que acabaria não entrando em campo. O outro era um certo Alf Ramsey, lateral-direito ofensivo, trazido do Southampton antes do início daquela temporada. Os outros dois eram o goleiro Ted Ditchburn e o meia-atacante Eddie Baily. Todos seguiriam na equipe que levantaria o primeiro título inglês da história do clube logo na próxima temporada (feito que, dali em diante, só se repetiria com o Ipswich em 1962 e o Nottingham Forest em 1978).


O Tottenham teve começo instável na primeira divisão em 1950-51, mas logo enfileirou vitórias (chegou a oito consecutivas entre 30 de setembro e 18 de novembro) para ser alçado à liderança. Na segunda metade do campeonato, manteve o ritmo e confirmou o título em 28 de abril, ao bater o Sheffield Wednesday por 1 a 0 em White Hart Lane. Na última rodada, fez 3 a 1 no Liverpool, também em casa, terminando quatro pontos à frente do vice Manchester United.


Um ano após o título os papeis haviam se invertido, e os Spurs foram vice-campeões, quatro pontos atrás do Manchester United. Sem conseguir conservar seu ótimo momento, o Tottenham experimentou um acentuado declínio, caindo para o 10º lugar em 1952-53 e para o 16º nas duas temporadas seguintes. Em abril de 1955, Arthur Rowe deixou o comando por motivos de saúde, sendo substituído por Jimmy Anderson, veterano funcionário do clube.


UMA NOVA CARREIRA


Na mesma época, Bill Nicholson enfim pendurou as chuteiras e ingressou na comissão técnica dos Spurs como auxiliar. Nos anos sob o comando de Anderson, o Tottenham oscilou: salvou-se do rebaixamento por apenas dois pontos em 1955-56 para em seguida alcançar um vice e um terceiro posto nas duas campanhas seguintes – ainda que distante dos campeões Manchester United e Wolverhampton. Mas voltou a andar mal no começo da temporada 1958-59.


Após perder cinco de seus primeiros sete jogos, o time era apenas o 17ª no começo de outubro. Jimmy Anderson, que também sofria com problemas de saúde e havia discutido com o capitão do time, Danny Blanchflower, acabou afastado. Nicholson voltava de trabalhar como observador dos adversários da Inglaterra na Copa do Mundo da Suécia (onde dera dicas ao técnico Walter Winterbottom sobre como anular a Seleção Brasileira) e foi alçado ao posto.


A notícia foi recebida por ele horas antes do time entrar em campo para enfrentar o Everton em White Hart Lane, naquele 11 de outubro de 1958. Sem sustos. O Tottenham arrasou os Toffees por incríveis 10 a 4, com quatro gols do centroavante Bobby Smith. No entanto, ainda não seria naquela temporada que os Spurs decolariam sob o comando de Nicholson. Antes, ele sabia, era preciso qualificar a equipe com contratações pontuais – e cruciais.


O ano de 1959 seria marcado pela chegada das quatro peças que completariam a engrenagem da máquina de Bill Nicholson. A primeira delas viria em março: o médio escocês Dave Mackay, jogador forte e combativo contratado ao Hearts. O segundo seria o goleiro Bill Brown, também escocês, trazido do Dundee em junho. Um terceiro escocês, o talentoso meia John White, viria do Falkirk em outubro. Por fim, em dezembro aportaria o atacante Les Allen, do Chelsea.


O quarteto de reforços se juntaria aos laterais Peter Baker e Ron Henry, ao zagueiro Maurice Norman, ao médio norte-irlandês Danny Blanchflower, aos pontas Cliff Jones, galês, e Terry Dyson e ao centroavante Bobby Smith. Mantendo o estilo de toques rápidos do “push and run”, muito mais vistoso que o jogo direto, de bola longa, de contemporâneos como o Wolverhampton de Stan Cullis, Bill Nicholson moldou uma equipe coesa, com jogadores que se completavam.


Parecia que o título viria na temporada 1959-60. Os Spurs tiveram ótimo começo impecável, invictos nos 12 primeiros jogos e com direito a quatro goleadas de 5 a 1: sobre Newcastle no St. James’ Park, Manchester United em Old Trafford, Preston em White Hart Lane e os próprios Wolves, principais perseguidores, também em casa. No começo de fevereiro, ainda aplicariam uma incrível goleada de 13 a 2 sobre o Crewe, da quarta divisão, pela FA Cup, na vitória pelo maior placar da história do clube e também da competição no Século XX.


Porém, logo em seguida o time começou a tropeçar com preocupante frequência, passando a ter a concorrência do Wolverhampton e do Burnley – que surpreenderia e levaria o título, enquanto os Spurs teriam de se contentar com o terceiro posto. Na campanha seguinte, porém, não houve quem impedisse a marcha do timaço de Bill Nicholson rumo às conquistas. E o esquadrão faria história.


A DOBRADINHA HISTÓRICA


Havia então uma mística no futebol inglês envolvendo a dobradinha, isto é, a conquista da liga e da FA Cup na mesma temporada. O Século XX já adentrava sua sétima década e nele nenhum clube havia obtido o feito. O último havia sido o Aston Villa em 1897, tempo em que a primeira divisão contava com apenas 16 clubes e o calendário era mais folgado. Já em 1961, eram 22 equipes na elite, 42 jogos por temporada, mais as partidas da copa, com eventuais replays. Tudo isso com um elenco ainda bastante curto em comparação com os tempos atuais.


Por 11 vezes, outras equipes tiveram a chance de confirmar a dobradinha, mas sucumbiram à pressão e ao desgaste físico. Levaram a liga, mas foram derrotadas na final da taça; ou o inverso; ou mesmo perderam ambas. O caso mais recente vinha justamente da temporada anterior, a de 1959-60, em que os Wolves perderam o título da liga no último jogo, antes de ter como consolo a vitória na FA Cup. A dobradinha era, portanto, tratada como impossível.


Menos para Bill Nicholson, plenamente convicto da possibilidade. E para o time: com as lições tiradas da campanha anterior, o começo da nova temporada foi ainda mais arrasador. Nas 11 primeiras partidas, 11 vitórias – marca até hoje não igualada na elite inglesa. Ao fim do ano, eram 22 triunfos em 25 jogos (com dois empates e só uma derrota). Num tempo em que vitória valia dois pontos, os Spurs abriram dez de frente para o Sheffield Wednesday.


A superioridade era tamanha que em dezembro os apostadores pararam de tomar apostas pelo título inglês. E mesmo que os Spurs tenham relaxado um pouco na segunda metade, a campanha era mais consistente que a do ano anterior e a folga aberta de início bastou para manter a ponta por toda a campanha. Tanto que o título veio ainda com três jogos por fazer, em 17 de abril, com um 2 a 1 sobre o mesmo Sheffield Wednesday em White Hart Lane.


Aquela vitória fechou um sprint de cinco triunfos consecutivos que encurtaram o caminho para o troféu. O Tottenham encerrou a temporada com 66 pontos, oito a mais que os Owls, vice-campeões. E marcou incríveis 115 gols (melhor ataque do campeonato), sofrendo 55 (segunda melhor defesa). E se o time não deu a menor chance a ninguém na liga, na copa não foi diferente, jogando por terra a ideia da dobradinha impossível.


Nas primeiras fases, o time despachou o Charlton e, outra vez, o Crewe (desta vez, por mais modestos 5 a 1). Em seguida, eliminou o Aston Villa vencendo em Birmingham por 2 a 0. Nas quartas de final, o Sunderland segurou o empate em 1 a 1 no Roker Park, mas foi goleado por 5 a 0 no replay em White Hart Lane. E nas semifinais, o Burnley – até ali, ainda detentor do título da liga – foi destroçado no campo neutro do Villa Park por 3 a 0.


Na final, em Wembley, o time nem precisou ser brilhante como havia sido na liga para derrotar um Leicester que teve o lateral Len Chalmers fazendo número em campo após se lesionar aos 20 minutos de jogo. Os Spurs tiveram um gol de Cliff Jones anulado na primeira etapa, mas balançaram as redes com Bobby Smith e Terry Dyson no segundo tempo, arrematando também o outro caneco que disputaram naquela lendária temporada.


O estilo de jogo vistoso, envolvente e ao mesmo tempo dinâmico e objetivo era um dos grandes trunfos da equipe de Bill Nicholson – curiosamente, um homem discreto, franco e modesto. Sua solidez vinha justamente da combinação harmônica entre jogadores de características distintas. Havia a força e a robustez de jogadores como Maurice Norman, Dave Mackay e Bobby Smith, aliada à técnica exuberante de nomes como Danny Blanchflower, John White e Cliff Jones.


“Futebol é um jogo simples, e as crenças e táticas simples são aquelas que trazem as maiores recompensas. Um dos fatores do sucesso do Tottenham em 1960-61 foi eu ter um grupo de jogadores sensatos que gostavam uns dos outros e queriam jogar. Nós éramos um time em todos os sentidos da palavra”, relembrou Nicholson em sua biografia.


DESBRAVANDO A EUROPA


A equipe andou perto de outra dobradinha na temporada seguinte, mas acabou em terceiro na liga. O título ficou com um surpreendente Ipswich, estreante na primeira divisão. Seu técnico, aliás, era um velho conhecido de Nicholson e do Tottenham: um certo Alf Ramsey, que repetiu em Portman Road o feito do qual havia participado como jogador dos Spurs pouco mais de uma década antes, ganhando o campeonato imediatamente após o acesso.


O bicampeonato da FA Cup, porém, não escapou, e seria o primeiro troféu conquistado pelo novo reforço dos Spurs: o centroavante Jimmy Greaves, ex-Chelsea, repatriado pelo valor recorde do futebol inglês de então (£99.999) após rápida passagem pelo Milan. Goleador implacável, ele se tornaria o maior artilheiro da história do clube (266 gols em 381 partidas) pelo qual atuaria até se transferir para o West Ham em março de 1970.


Greaves abriria o placar aos três minutos na decisão contra o Burnley (vice-campeão da liga), em jogo bastante tático e estudado, o que lhe rendeu o apelido de “a final do tabuleiro de xadrez”. O Tottenham – que havia despachado Birmingham, Plymouth Argyle, West Bromwich Albion, Aston Villa e Manchester United – sofreu o empate no início da etapa final, mas passou à frente com gol de Bobby Smith e fechou o placar num pênalti cobrado por Danny Blanchflower.


Naquela mesma temporada, os Spurs chegaram a flertar com o título máximo do continente, em sua primeira temporada europeia. Na Copa dos Campeões, a equipe começou sua trajetória revertendo uma derrota de 4 a 2 para o Gornik Zabrze na Polônia com uma goleada de 8 a 1 em White Hart Lane. Em seguida, bateu o Feyenoord por 3 a 1 na Holanda, empatando a volta em casa por 1 a 1. Nas quartas de final, o forte Dukla Praga de Josef Masopust venceu o jogo de ida por 1 a 0. Mas foram destroçados pelos londrinos com um 4 a 1 na partida de volta.


Até que vieram as semifinais diante do Benfica de Eusébio, atual detentor do troféu. Em Lisboa, os Águias venceram por 3 a 1, mas os Spurs, que marcaram com Bobby Smith, chegaram a ter dois gols anulados por impedimento – um deles especialmente polêmico. Já na volta, José Águas abriu o placar para os lusos e Jimmy Greaves teve novamente um gol anulado. O Tottenham conseguiria virar para 2 a 1, com Bobby Smith e Danny Blanchflower e ainda acertaria as traves por três vezes. Mas não seria o suficiente para ir à decisão.


Pioneiro: o time que goleou o Atlético de Madrid por 5 a 1 na final da Recopa em Roterdã.

A participação na Copa dos Campeões serviu de valiosa experiência para a campanha europeia seguinte, na Recopa de 1962-63. Os Spurs entraram nas oitavas de final e já tiveram o duelo britânico diante dos Rangers pela frente, vencido com facilidade por 5 a 2 em Londres e 3 a 2 em Glasgow. Em seguida, derrotado por 2 a 0 pelo Slovan Bratislava no jogo de ida das quartas de final, o Tottenham simplesmente demoliu o adversário com um 6 a 0 em White Hart Lane.


Nas semifinais, foi a vez de enfrentar o OFK Belgrado de Josip Skoblar, também batido em ambos os confrontos (2 a 1 na Iugoslávia e 3 a 1 em Londres). Na final em Roterdã, o adversário era o respeitável Atlético de Madrid, que tentava o bicampeonato do torneio. Ficou na intenção: os Spurs esmagaram os colchoneros com um inapelável 5 a 1. E fizeram história: tornavam-se o primeiro clube inglês a conquistar um título europeu.


A RECONSTRUÇÃO


Após a conquista continental, o Tottenham começaria a experimentar um declínio que teve elementos trágicos: Dave Mackay, o motor do meio-campo, sofreu duas fraturas seguidas na mesma perna esquerda, ficando um ano e meio afastado dos gramados. Mas a maior dor foi a morte precoce do meia John White, vitimado por um raio enquanto jogava golfe nas férias, em julho de 1964. Tinha apenas 27 anos.


Na segunda metade da década, os Spurs viveriam um longo período de transição: embora ainda terminassem sempre na metade de cima da classificação, não chegariam a brigar pelo título inglês nem voltariam a arrematar copas – a exceção seria a temporada 1966-67, quando o time ficou em terceiro lugar na liga (quatro pontos atrás do campeão Manchester United e com os mesmos 56 do vice Nottingham Forest) e levantou mais uma FA Cup ao derrotar o Chelsea.


O título era bastante simbólico da troca de gerações: na equipe que derrotou os Blues por 2 a 1, na primeira final entre londrinos da história do torneio, estavam veteranos da dobradinha como o capitão Dave Mackay, Jimmy Greaves, Frank Saul e, na reserva, Cliff Jones. Mas havia nomes que pertenceram a aquele período de transição (como o meia Terry Venables, futuro técnico dos Spurs, e o ponta Jimmy Robertson) e sobretudo alguns que liderariam a geração seguinte.


Faziam parte desta geração forjada por Bill Nicholson nomes criados na base como o goleiro norte-irlandês Pat Jennings (um dos maiores do futebol britânico em todos os tempos), os laterais Joe Kinnear e Terry Naylor, o zagueiro Phil Beal, o volante John Pratt e o meia Steve Perryman, que se tornaria um nome histórico do clube, notado por sua versatilidade e facilidade de atuar em várias posições.


A estes se juntavam reforços pescados com inteligência em outros clubes, como o zagueiro Mike England (Blackburn), o lateral-esquerdo Cyril Knowles (Middlesbrough), o volante Alan Mullery (Fulham), o ponta Ralph Coates (Burnley), o atacante Alan Gilzean (Dundee) e o goleador Martin Chivers (Southampton). E ainda o meia Martin Peters, campeão do mundo com a seleção da Inglaterra em 1966, que veio do West Ham trocado por Jimmy Greaves.


Com esse grupo de jogadores, se não chegou a apresentar o mesmo futebol encantador dos tempos da dobradinha, o Tottenham preencheu sua sala de troféus com três taças em três anos no início dos anos 70. A primeira foi a Copa da Liga de 1971, a primeira da história do clube, batendo o Aston Villa (então na terceira divisão) em Wembley. Dois gols de Martin Chivers nos últimos 12 minutos encaminharam o caneco para White Hart Lane.


No ano seguinte, foi a vez de vencer a edição inaugural da Copa da Uefa, o que deu ao Tottenham outra primazia: o primeiro clube inglês a conquistar duas taças europeias diferentes. Após derrubar o Milan numa semifinal épica – dois gols de Steve Perryman deram a vitória por 2 a 1 em Londres e um petardo de Alan Mullery valeu a classificação no 1 a 1 do San Siro – os Spurs superaram o Wolverhampton numa final inglesa: Martin Chivers marcou duas vezes no Molineux na vitória por 2 a 1 e Mullery voltou a balançar as redes no 1 a 1 em White Hart Lane.


Os jogadores erguem o capitão Alan Mullery, que carrega o troféu da Copa da Uefa.

O Tottenham também se tornaria o primeiro clube a conquistar mais de uma vez a Copa da Liga ao vencer novamente o torneio em 1973. Depois de superar Huddersfield, Middlesbrough, Millwall, Liverpool e Wolverhampton, os Spurs contaram com um gol de Ralph Coates, que saíra do banco de reservas, para bater um surpreendente Norwich (que havia deixado Arsenal e Chelsea pelo caminho) por 1 a 0 em Wembley.


A DESPEDIDA


Um novo título da Copa da Uefa, porém, teve de ser adiado por duas vezes: em 1973, os Spurs caíram nas semifinais, eliminados pelo Liverpool nos gols fora de casa. Já no ano seguinte, o time voltaria à final, mas perderia a taça para o Feyenoord. Em White Hart Lane, o Tottenham esteve por duas vezes à frente no marcador, mas cedeu o empate em 2 a 2. Já em Roterdã, num jogo tristemente marcado por atos de hooliganismo dos torcedores londrinos, os holandeses fizeram um gol em cada tempo e venceram por 2 a 0.


As atitudes dos torcedores do clube na Holanda contribuíram para a crescente desilusão de Nicholson com o jogo naquele momento. Mas o grande motivo para sua decisão de deixar o comando do time e se aposentar, logo no início da temporada 1974-75, foi a influência cada vez maior do dinheiro no futebol e como ela se refletia no trato diário com os atletas, especialmente na negociação de contratos.


“Os jogadores se tornaram impossíveis. Falam o tempo todo em segurança, mas não estão preparados para trabalhar para consegui-la. Não há mais respeito”, vociferou na época. O anúncio de sua aposentadoria veio em 29 de agosto de 1974, embora ele seguisse no cargo por mais duas semanas. Também enfrentou problemas com a diretoria: os nomes sugeridos por ele para o cargo – o meia Johnny Giles, do Leeds, e seu ex-capitão Danny Blanchflower – foram ignorados pelo presidente Sidney Wale, que, para a revolta da torcida, contratou um ex-jogador do Arsenal, Terry Neill.


Sua relação ininterrupta de quase 40 anos com o clube como jogador, auxiliar técnico e treinador foi cortada por uma rápida passagem pelo West Ham como olheiro. Mas logo ele retornaria a sua casa: Terry Neill deixaria o posto em meados de 1976, substituído por Keith Burkinshaw, e o novo treinador fez questão de contar com o “Mr. Tottenham” no cargo de consultor. Nicholson permaneceria no clube até se aposentar definitivamente em 1997.


Bill Nicholson, em casa: toda uma vida dedicada ao Tottenham Hotspur.

Ao longo de sua vida, foram muitas as homenagens. Em 1975, foi condecorado com a Ordem do Império Britânico. Também recebeu um prêmio de mérito pela Associação dos Jogadores Profissionais. E se a diretoria lhe havia negado um jogo de homenagem quando de sua saída em 1974, mais tarde não faltaram a ele partidas-tributo. Mais ainda: em 1999, uma das ruas de acesso ao estádio de White Hart Lane foi rebatizada “Bill Nicholson Way”.


Em março de 2004, ele seria o nome inaugural do Hall da Fama dos Spurs. Sete meses depois, em 23 de outubro, ele viraria saudade aos 85 anos. “O Tottenham Hotspur foi minha vida. E eu amo o clube”, declarou certa vez. Os torcedores também não esquecem o homem que comandou o Tottenham pelo período mais vitorioso de sua história e colocou jogadores e equipes no panteão eterno do futebol inglês.

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