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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Os 30 anos de uma zebra: A Crazy Gang do Wimbledon bate o Liverpool e leva FA Cup


Uma das vitórias mais surpreendentes já ocorridas na final da FA Cup completa 30 anos nesta segunda-feira. O Wimbledon, então há apenas 11 anos na Football League e em sua segunda temporada na primeira divisão inglesa, derrotou o poderoso Liverpool (que contava com um dos times mais celebrados de sua história) em Wembley e levantou a taça no momento de maior glória da chamada "Crazy Gang", um grupo de jogadores com perfil totalmente sui generis que seria o responsável por colocar o clube do subúrbio londrino no mapa da bola da Terra da Rainha.


Histórias de clubes que escalam as mais remotas divisões inferiores de uma liga até a elite em poucas temporadas não são raras no futebol – muito menos no europeu, muito menos ainda no inglês. Por esse ponto, a trajetória do Wimbledon emula algumas outras, ainda que talvez poucas tenham se iniciado tão de baixo. Mas o que fez da Crazy Gang um caso tão notável não se resume a sua ascensão meteórica dentro de campo: há todo um contexto comportamental envolvido.


Voltemos a 28 de maio de 1977. O Workington, clube da região de Cumbria, no noroeste inglês, perdeu seu status de clube da Football League que ostentou por 26 anos após votação entre os membros da entidade. Para seu lugar na quarta divisão foi convidado o Wimbledon, que vinha de um tricampeonato na Liga Sulista sob o comando de Allen Batsford. Na nova categoria, porém, o técnico do time debutante não durou muito: caiu em janeiro de 1978, trocado por Dario Gradi.


O primeiro acesso dentro da estrutura principal do futebol inglês – da quarta para a terceira divisão - viria com Gradi em 1979, mas o time durou apenas uma temporada e caiu de volta. Quando se encaminhava para retornar à terceira, em março de 1981, o treinador foi contratado pelo Crystal Palace. Seu assistente Dave Bassett ficou, e entre idas e vindas, iniciou a caminhada definitiva até a elite com mais um acesso à terceira divisão em meados de 1983, na campanha que também delineou o estilo que a Crazy Gang carregaria dentro e fora de campo.


O time que venceu a quarta divisão em 1983. Apenas o goleiro Dave Beasant estaria em Wembley, mas alguns nomes como Glyn Hodges e Kevin Gage (o segundo e o quarto agachados) jogariam pelo clube na elite. Wally Downes, o primeiro em pé, é considerado o inspirador do espírito da "Crazy Gang".

Três anos depois, em 3 de maio de 1986, o clube visitou o Huddersfield, venceu por 1 a 0 com gol do meia norte-irlandês Lawrie Sanchez e celebrou um momento histórico: estava promovido à primeira divisão. Nesse processo, havia se feito (im)popular dentro da liga por seu estilo de jogo duro e direto ao extremo, resumido a tentar chegar ao ataque insistentemente através do maior número possível de chutões para a frente, ou em jogadas ensaiadas de bola parada.


Não chegava a ser novidade, visto que o Watford de Graham Taylor aplicava algo semelhante na elite naquele exato momento com bons resultados. Mas não de modo tão truculento e rústico. Porém, os Wombles (outro apelido do clube, em referência a um grupo de personagens infantis populares a partir do fim dos anos 60 e que, segundo sua história, viviam em Wimbledon), não se incomodavam nem um pouco com as críticas. Com elenco formado por refugos de times grandes, médios e até pequenos misturados a garotos formados na base, havia construído internamente um espírito aguerrido.


Até mesmo o secretário da Football Association, Ted Crocker, chegou a afirmar que o Wimbledon, pela rudeza e brutalidade de seu jogo, sequer deveria ter sido admitido na primeira divisão. Mas o fato é que o clube estava na primeira divisão. E que, embora tivesse perdido o primeiro jogo de sua história na elite (para o Manchester City em Maine Road), chegara ao topo da tabela na quarta rodada, após vencer as três partidas seguintes. Ao fim da temporada, terminariam num excelente sexto lugar, depois de terem derrotado o Manchester United em casa e fora, o Liverpool em Anfield, o Tottenham em White Hart Lane e goleado o Chelsea em Stamford Bridge (4 a 0).


A chegada do clube à elite também fez com que cada vez mais histórias dos bastidores da equipe – e do modus operandi da Crazy Gang – fossem trazidas ao grande público. O lateral Nigel Winterburn teve seus sapatos pregados no chão. O zagueiro Eric Young, então recém-chegado do Brighton, levava sempre para os treinos seu material numa sacola azul do ex-clube. Os novos colegas não gostaram: atearam fogo à bolsa com tudo dentro. Nem o técnico Dave Bassett escapou: numa viagem de pré-temporada, sua cama foi parar na piscina do hotel.


O Wimbledon também trazia de longa data um gosto por surpreender nas copas. Em 1975, ainda na non-league, derrotara o Burnley em pleno Turf Moor pela FA Cup, consagrando-se como o primeiro time de fora da Football League a derrotar uma equipe da primeira divisão no campo do adversário. Em meados da década seguinte, despachara por duas temporadas seguidas o Nottingham Forest de Brian Clough (a primeira na Copa da Liga e a segunda na FA Cup). E em 1987, também na FA Cup, eliminaria o Everton, futuro campeão da liga.


A boa campanha nos dois torneios na temporada de estreia do clube na elite rendeu a Dave Bassett uma transferência bastante simbólica: ele seria o novo técnico do Watford no lugar de Graham Taylor (contratado pelo rebaixado Aston Villa), enraizando o estilo de bola longa no clube de Vicarage Road. Para o lugar de Bassett no Wimbledon veio Bobby Gould, ex-atacante matreiro e rodado que vinha dirigindo o Bristol Rovers.


Para auxiliá-lo, o novo treinador trouxe Don Howe, ex-jogador da seleção que se tornara um dos grandes estudiosos de tática no país e que acumulava trabalhos como treinador ou assistente no Arsenal, Leeds, West Bromwich Albion e Galatasaray. Nem um nem outro, no entanto, teriam carta branca para aplicar seus esquemas e métodos de treinamento, algo do qual tomaram conhecimento assim que foram apresentados aos jogadores.


“Podem parar por aqui”, disseram os atletas. “Sente-se, Bobby. Sente-se, Don. É assim que jogamos e já obtivemos muito sucesso. Não vamos mudar por ninguém”. Não mudaram e, ainda que não fossem sucesso de crítica e público (seu estádio de Plough Lane, um dos mais precários da liga, nunca enchia), obtinham resultados: na segunda temporada na elite, ficaram outra vez na parte de cima da tabela – agora em sétimo. E ainda fariam história na FA Cup.


QUEM ERA QUEM NA “CRAZY GANG”


O time-base para os seis jogos da campanha da copa foi ligeiramente diferente do da liga, mas girou basicamente em torno de um mesmo grupo de jogadores. No gol, o titular indiscutível era o audacioso Dave Beasant, prata da casa que acompanhou toda a ascensão do clube dentro da Football League. No miolo de zaga, jogavam os jovens Andy Thorn (de 21 anos) e Brian Gayle, também formados no clube – ainda que na reta final Gayle tenha perdido o lugar para Eric Young, ex-Brighton e famoso por usar uma faixa na cabeça, que lhe renderia o apelido de “Ninja”.


Na lateral-direita, o discreto Clive Goodyear teve seu único período como titular da equipe naquela campanha, quando ganhou a disputa com John Scales. Ambos eram recém-chegados: Goodyear vinha do Plymouth Argyle e Scales (que teria carreira destacada dali em diante) do Bristol Rovers. Pelo lado esquerdo, no entanto, o dono absoluto era o veloz Terry Phelan, vindo do Swansea, e que mais tarde defenderia a seleção da Irlanda na Copa do Mundo de 1994.


Um dos símbolos do espírito daquela equipe, o volante Vinnie Jones era o primeiro nome do meio-campo. Jogador aguerrido de um modo até um tanto extremado, também era um dos líderes das brincadeiras e provocações dentro do elenco. Ao seu lado, um pouco mais adiantado como um segundo volante, atuava Lawrie Sanchez, meia norte-irlandês de pai equatoriano. Jogador alto (e, portanto, bom no jogo aéreo), tinha estrela para marcar gols decisivos.


Um pouco mais adiantado no meio, aberto pela direita ou quase encostando nos homens de frente, jogava Alan Cork. Atacante de origem, recuara ao longo de sua trajetória bastante longeva no clube. Chegara ao Wimbledon em janeiro de 1978, ainda na primeira temporada da equipe na Football League. Enquanto isso, bem aberto do lado esquerdo, atuava um jogador promissor: meia dinâmico e valente, Dennis Wise marcava e apoiava bem, cobrava faltas e empurrava o time à frente com sua velocidade.


Sofrendo com lesões na segunda metade da temporada, o ponteiro Carlton Fairweather fez apenas um jogo na copa. Costumava disputar a posição com Alan Cork, no lado direito do meio-campo, ou então mais avançado, como um atacante de movimentação. Para preencher a lacuna, o Wimbledon chegou a contratar e utilizar o experiente Laurie Cunningham, que brilhara no West Bromwich Albion no fim dos anos 70, antes de se transferir para o Real Madrid, iniciando uma trajetória que o levaria também ao futebol francês e belga.


Terry Gibson cruza a bola, observado por Gary Gillespie.

Contratação considerada surpreendente, já que o veterano ponteiro representava um estilo de jogo diametralmente oposto ao colocado em prática pelo Wimbledon. Mas ainda assim ele teve sua pequena contribuição. Mas o titular da função, naquele período da campanha na copa, foi outro jogador rodado: o baixinho Terry Gibson (1,63 metro de altura), revelado pelo Tottenham e com passagem também pelo Coventry e pelo Manchester United, de onde veio para Plough Lane.


Gibson fazia dupla de frente com John Fashanu, de 1,88 metro. Jogador-símbolo do espírito daquela equipe, ao lado de Vinnie Jones, Fashanu era o alvo dos lançamentos (ou chutões) aos quais o Wimbledon recorria nos jogos. Irmão mais novo de Justin Fashanu (talentoso atacante revelado pelo Norwich que se perdeu na carreira por problemas físicos e disciplinares), não tinha a mesma qualidade técnica, mas não se intimidava. Pelo contrário: costumava irritar os zagueiros com seu hábito de usar os cotovelos para ganhar espaço e levar a melhor nas disputas de bola.


A CAMPANHA


Com esse grupo de jogadores, a participação na FA Cup começou em janeiro, já na terceira fase, como costuma acontecer com as equipes das categorias superiores. No dia 9, os Dons receberam o West Bromwich Albion (então na segunda divisão) em Plough Lane e golearam por 4 a 1 sem dificuldades. E antes do fim do mês, no dia 30, superaram também o Mansfield Town, da terceira divisão, jogando no Field Mill e vencendo por um placar mais apertado: 2 a 1.


A próxima visita, bem mais difícil, era ao Newcastle que, entre outros jogadores experientes, contava com o jovem Paul Gascoigne como o cérebro do meio-campo, além do pioneiro brasileiro Mirandinha como um dos homens de frente. Mas os Dons largaram bem: logo aos seis minutos, o baixinho Terry Gibson desviou de cabeça uma cobrança de falta de Dennis Wise para a área e abriu a contagem. Na etapa final, a mesma jogada gerou o segundo gol, em cabeçada de Brian Gayle.


Um minuto depois, no entanto, o Newcastle voltou ao jogo: em cobrança de escanteio, Neil McDonald teve sua cabeçada defendida por Dave Beasant, mas a bola ricocheteou em Alan Cork e foi parar nas redes. No fim, porém, a bola longa do Wimbledon prevaleceria: um incrível chutão de Beasant da própria intermediária foi afastado de maneira falha pela zaga dos Magpies, e a bola sobrou para Fashanu, que deu um leve toque para encobrir o adiantado goleiro Kelly.



Nas quartas de final, a equipe teria pela frente um clássico suburbano contra o Watford (então brigando contra a degola na liga, mas de boas chegadas recentes na copa). As coisas começaram difíceis: o Wimbledon fez um péssimo primeiro tempo, sofreu um gol numa falha gritante da defesa e ainda teve o zagueiro Brian Gayle expulso por acertar um soco em Malcolm Allen numa jogada boba. Eric Young entrou no intervalo para recompor a defesa. Mas fez mais.


Logo aos três minutos, Terry Phelan foi lançado em velocidade no flanco esquerdo e sofreu falta. Mais uma vez, Dennis Wise levantou a bola na área. E Young, predestinado, subiu mais que toda a defesa para cabecear o gol de empate. A virada chegaria aos 27, depois que John Fashanu disputou e ganhou uma dividida pelo lado direito, desceu até a área e bateu cruzado, vencendo Tony Coton. A vitória levava o Wimbledon pela primeira vez a uma semifinal da taça.



Curiosamente, o adversário seria o maior rival do Watford: o Luton Town, que também viria a celebrar em Wembley naquela temporada, ao conquistar a Copa da Liga com em jogo repleto de viradas contra o Arsenal. No dia 9 de abril, no campo neutro de White Hart Lane, os dois times foram para o intervalo com o placar em branco. Mas logo aos dois minutos da etapa final, o bom e ofensivo time dos Hatters (que já foi tema de texto aqui) saía na frente, com gol de Mick Harford.


Depois de ter desperdiçado várias chances nos primeiros 45 minutos, com o goleiro Andy Dibble, do Luton, operando milagres, o Wimbledon acabou chegando ao empate justamente numa falha do arqueiro, que deixou escapar uma bola num escanteio e teve de derrubar Terry Gibson para impedir a finalização. Pênalti que Fashanu converteu sem dificuldade. A dez minutos do fim, quando o jogo já parecia se encaminhar para a prorrogação, Alan Cork recebeu uma bola na direita e cruzou forte. Dennis Wise entrou de carrinho e marcou o gol da virada.


Com a inédita vaga na final assegurada, imprensa e público eram unânimes em reconhecer – gostando ou não do estilo da equipe – que o Wimbledon vinha fazendo uma campanha histórica e admirável. Porém, também era consenso que a classificação para a decisão seria o ponto culminante daquela fantástica trajetória, e que não haveria hipótese plausível de ir além daquilo. Os Dons já haviam chegado ao máximo que poderiam. Até porque do outro lado havia um adversário que não deixava margem para qualquer esperança de conquista da taça.


UM RIVAL “IMPOSSÍVEL”


Em 25 de março de 1977, três dias depois de o Wimbledon ter confirmada sua entrada para a Football League, o Liverpool vencia o Borussia Mönchengladbach em Roma e levantava sua primeira Copa dos Campeões. Pelos dez anos seguintes, venceria outras três vezes o título europeu, enquanto consolidava uma hegemonia no futebol inglês: entre 1976 e aquele ano de 1988, havia vencido nove dos 13 campeonatos nacionais disputados.


Naquela temporada, já havia nadado de largas braçadas na liga, vencida ainda no fim de abril, com quatro jogos por fazer e apenas duas derrotas em 40 partidas. Foram dez vitórias nos primeiros 11 jogos, 29 partidas seguidas de invencibilidade a partir do início a campanha (o primeiro revés só viria no fim de março), 87 gols marcados, apenas 24 sofridos e nove pontos de vantagem sobre o vice-campeão Manchester United.


Os números impressionantes se deviam à grande renovação empreendida no elenco após a frustrante temporada 1986-87, na qual os Reds passaram em branco (perderam a liga para o Everton, foram derrotados na final da Copa da Liga pelo Arsenal e caíram ainda nas primeiras fases da FA Cup diante do Luton). Assim, o ídolo Kenny Dalglish, cada vez mais distanciando-se dos gramados para se concentrar no comando técnico, resolvera abrir os cofres do clube.


O processo de renovação começara em janeiro de 1987, com a contratação do atacante irlandês John Aldridge, do Oxford, para o lugar do artilheiro Ian Rush, que seguiria para a Juventus. No mês seguinte, chegava o volante Nigel Spackman, do Chelsea. Mas os dois maiores reforços viriam na intertemporada: o ponteiro John Barnes, do Watford, e o atacante Peter Beardsley, do Newcastle, ambos nomes de seleção inglesa. Por fim, em outubro, seria a vez do meia-direita Ray Houghton, outro irlandês e ex-companheiro de Aldrige no Oxford.


A soma paga pelos cinco reforços chegava perto doa 4,8 milhões de libras, um valor absolutamente astronômico para os parâmetros do futebol inglês da época. Somente por Beardsley o clube desembolsou 1,9 milhão, batendo o recorde nacional de transferências. A meta era ganhar tudo. E, com a liga no papo, o título da copa tornaria o Liverpool o primeiro clube na história do país a fazer duas vezes a dobradinha (já alcançada dois anos antes, em 1986).


A FINAL


Lawrie Sanchez (à esquerda) sobe mais que toda a defesa para marcar o único gol do jogo.

Mas desde os primeiros minutos, o Wimbledon já deixava claro que não pisaria o gramado de Wembley como mero sparring: logo no início do jogo, Vinnie Jones levantou Steve McMahon (seu correspondente em termos de combatividade e dureza nos Reds) com um carrinho forte. Após as duas equipes terem ótimas chances de marcar, Peter Beardsley foi lançado, sofreu falta de Andy Thorn na disputa de bola, mas conseguiu ganhar o lance e tocou por cima de Beasant, para as redes. Porém, o árbitro já havia apitado a infração a favor do Liverpool no início da jogada.


Pouco tempo depois, numa jogada para lá de reincidente, veio o gol do Wimbledon: Dennis Wise cobrou falta levantando a bola na área, e Lawrie Sanchez desviou para as redes, anotando mais um gol decisivo. Em meio à incredulidade geral, o Liverpool tentou responder imediatamente, mas parou numa exibição notável de Dave Beasant. Até que, logo no começo da etapa final, teve a chance de empatar num lance discutível: Clive Goodyear pareceu desarmar John Aldridge na área com um carrinho na bola, mas o árbitro viu pênalti no lance.


Beasant salta para fazer história na final da FA Cup.

Pelo lado de Aldridge, o batedor, uma tradição favorável, mas que também indicava responsabilidade: nunca, em toda a centenária história da FA Cup, um pênalti havia sido desperdiçado numa final do torneio. O atacante irlandês partiu confiante para a bola e chutou bem no canto esquerdo de Beasant. Mas o arqueiro voou e espalmou para escanteio, tornando o feito do Wimbledon ainda mais quebrador de parâmetros.


O Liverpool ainda perdeu chances em cabeçadas de John Barnes e Steve Nicol. Mas o Wimbledon defendia-se bem e também levava perigo nas subidas (houve outra cabeçada, de John Fashanu, além de um chute de Eric Young defendido por Bruce Grobbelaar). No fim, a resiliência dos Dons prevaleceu. E, ao apito final, John Motson, narrador da BBC na ocasião, proferiu seu comentário que marcaria para sempre aquela decisão: “A Crazy Gang derrotou o Culture Club”, numa referência ao estilo de jogo mais técnico dos Reds.



Após a subida das escadarias até as tribunas, mais dois momentos marcantes: Dave Beasant, primeiro goleiro a levantar a taça como capitão na história do torneio, recebeu o troféu das mãos de ninguém menos que a Princesa Diana, numa rara aparição sua a uma decisão da copa no estádio (ela retornaria três anos depois).


O DESTINO DOS DONS


Poucos dias depois de conquistado o título, o time voltou a campo para um jogo em homenagem aos dez anos de Alan Cork no clube. A comemoração irreverente foi mais uma mostra do perfil daquele grupo de jogadores. Depois do sexto lugar na temporada de estreia e do sétimo na seguinte (complementado com o título da taça), o clube ainda seria oitavo colocado em 1989-90, sétimo em 1990-91 e, mais adiante, outra vez sexto em 1993-94, já na era Premier League.


Eric Young, Lawrie Sanchez, Dave Beasant e Terry Phelan festejam com a taça na mão.

Aos poucos, porém, sua identidade mudaria: em 1991, após a publicação do Relatório Taylor sobre segurança nos estádios e sem ter condições de adaptar Plough Lane às novas exigências, o Wimbledon deixou a velha casa para mandar seus jogos no Selhurst Park, dividido com o Crystal Palace. Seis anos depois, o histórico presidente Sam Hammam (homem totalmente inserido no espírito da “Crazy Gang”, ao ponto de escrever obscenidades nas paredes do vestiário do Upton Park após uma vitória sobre o West Ham), vendeu o clube a um grupo de investidores noruegueses.


O elenco também seria desmanchado aos poucos: logo na temporada seguinte, Dave Beasant seria vendido ao Newcastle, seguindo depois para o Chelsea (em 1990, acabaria convocado de última hora para o lugar do lesionado reserva David Seaman na seleção inglesa que disputaria a Copa do Mundo da Itália). Andy Thorn também sairia para os Magpies na mesma época, voltando a uma final da FA Cup em 1990, mas já defendendo o Crystal Palace, junto com Eric Young.


Vinnie Jones seria negociado com o Leeds em 1989, ajudando no retorno do time de Yorkshire à elite. Voltaria ao Wimbledon em 1992, após passar também por Sheffield United e Chelsea. Em Stamford Bridge, quem faria história seria Dennis Wise, vendido pelos Dons em 1990. Ficaria mais de uma década no clube, chegando a ostentar a braçadeira de capitão. Terry Phelan sairia para o Manchester City em 1992, enquanto John Fashanu e John Scales permaneceriam por mais tempo, saindo apenas em 1994 para Aston Villa e Liverpool, respectivamente.


O rebaixamento ao fim da temporada 1999-2000 – com uma derrota para o Southampton bem no dia do aniversário da conquista da FA Cup – levaria a um rápido declínio. A mudança para Milton Keynes, mais ao norte, anunciada logo em seguida seria a pá de cal no velho Wimbledon. Insatisfeitos, os torcedores fundaram o AFC Wimbledon, que subiria das divisões inferiores inglesas até a terceira, enquanto o antigo mudaria de nome para Milton Keynes Dons em 2004. Aquele clube responsável por uma das maiores zebras na final da taça não existe mais.



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