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  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

A curiosa tradição do Tottenham: os títulos em anos terminados em um


O time da dobradinha de 1961 dá a volta olímpica em Wembley (Foto: Evening Standard/Getty Images).

Em 2021, o Tottenham terá a oportunidade de tentar resgatar uma antiga e curiosa tradição do clube com relação ao calendário: levantar algum título importante num ano terminado em 1. A coincidência impressiona mesmo: ao longo do Século XX, as duas conquistas dos Spurs no campeonato inglês da primeira divisão, bem como cinco de suas oito FA Cups (incluindo a histórica dobradinha liga + copa de 1961), além de uma – a primeira – de suas quatro Copas da Liga foram vencidas em anos encerrados por esse algarismo.


Considerando que em 1941 as competições no país estavam oficialmente suspensas em decorrência da Segunda Guerra Mundial, o Tottenham só passou em branco em 1911 e 1931. A coincidência já virou inclusive tema de canção da dupla Chas & Dave, torcedores notórios do clube e compositores de músicas que embalaram outras decisões envolvendo os Spurs. “When The Year Ends In One”, lançada antes da final da FA Cup de 1991, rememora os outros feitos “copeiros” do clube do norte de Londres.


Se após a virada do milênio ainda não houve o que comemorar em anos assim (o mais marcante foi a boa campanha na Liga dos Campeões em 2011), relembramos a partir de agora como foram essas conquistas através da história.


FA Cup 1901


O primeiro título do Tottenham na FA Cup teve a marca do pioneirismo: o clube entrou para a história como o primeiro e único clube de fora da Football League a levantar o prestigioso troféu. Na época, os Spurs faziam parte da Southern League, entidade que reunia a maioria dos clubes de Londres (numa era em que a Football League era dominada por clubes do norte e da região de Midlands) e que teve certo peso até a Primeira Guerra Mundial. E, em sua trajetória, a equipe deixou para trás quatro times da primeira divisão.

O primeiro deles foi o Preston, vencido por 4 a 2 no replay em White Hart Lane, após empate em 1 a 1 em Deepdale. Depois foi a vez de bater por 2 a 1 nada menos que o atual campeão da FA Cup, o Bury (que no ano anterior goleara na final o Southampton, da Southern League, por 4 a 0). Na terceira fase, foi a vez de enfrentar um colega da liga sulista, o Reading, também superado no replay (3 a 0 em White Hart Lane, após o 1 a 1 em Elm Park). Nas semifinais, goleada de 4 a 0 sobre o West Bromwich no Villa Park.


O adversário na decisão no estádio Crystal Palace (sem relação com o clube homônimo) seria o Sheffield United, uma das forças da Football League na época, que conquistara a primeira divisão em 1898 e a FA Cup em 1899. O primeiro jogo atraiu 110 mil torcedores, então o recorde mundial, e terminou em 2 a 2. Fred Priest abriu o placar para os Blades, o Tottenham virou com dois de Sandy Brown – que marcara em todas as fases anteriores – mas sofreu o empate com um gol de Walter Bennett em que a bola não entrou.


Marcado para o Burnden Park, em Bolton, o jogo desempate teve público mais modesto (a companhia ferroviária local se recusou a disponibilizar ingressos mais baratos para os torcedores) e foi disputado sob mau tempo. Mas desta vez nada impediria a conquista do Tottenham, que foi para o intervalo em desvantagem no placar, mas marcou três vezes no segundo tempo – com um de seu jogador-técnico, o escocês John Cameron, um do ponta-direita Tom Smith e outro de Sandy Brown – para virar e vencer por 3 a 1.


De quebra, no jantar de comemoração, o Tottenham (que seria admitido na Football League em 1908) deu início a outra longa tradição do torneio, que persiste até os tempos atuais: a de amarrar fitas com as cores do clube vencedor na taça.


Time da final: George Clawley – Harry Erentz e Sandy Tait – Tom Morris, Ted Hughes e Jack Jones – Tom Smith, John Cameron, Sandy Brown, David Copeland e Jack Kirwan.


FA Cup 1921

Jogadores do Tottenham recebem a copa das mãos do rei George V.

Na segunda vez em que o Tottenham chegou à decisão da copa em sua história, o contexto já havia mudado. Naquela segunda temporada após o retorno do futebol com o fim da Primeira Guerra Mundial, os Spurs, que haviam terminado o campeonato de elite da Football League em sexto lugar, eram os favoritos contra o Wolverhampton, da segunda divisão. Com seu futebol de toque de bola, o time dirigido pelo visionário Peter McWilliam havia superado muitos de seus oponentes anteriores com goleadas.


Nas primeiras fases, os Spurs bateram o Bristol Rovers (6 a 2), o Bradford City (4 a 0) e o Southend (4 a 1 fora de casa), antes de eliminar o Aston Villa nas quartas de final (1 a 0) e o Preston North End (2 a 1) na semifinal em Hillsborough. Já os Wolves haviam chocado o país ao eliminarem o Everton dentro do Goodison Park (1 a 0) nas quartas de final, mas poucos acreditavam que o time repetisse a surpresa na decisão. Porém, a chuva torrencial que desabou sobre Stamford Bridge, estádio da final, acabou nivelando as coisas.


No gramado enlameado, o Tottenham teve dificuldade de impor seu estilo de jogo. Mas acabou vencendo por 1 a 0 com um gol em que a sorte contribuiu. Aos oito minutos da etapa final, o ponta-esquerda Jimmy Dimmock desceu ao ataque, mas foi desarmado pelo zagueiro-direito dos Wolves, Maurice Woodward. A bola, porém, ricocheteou nas pernas de Woodward e voltou para Dimmock, que arrancou novamente para a área e chutou forte de pé esquerdo. A bola escorregou por baixo do corpo do goleiro Noel George e entrou.


Foi o suficiente para que, ao fim da partida disputada em 23 de abril daquele ano, o time do Tottenham (e seu ataque com quatro “Jimmys”) recebesse a taça das mãos do rei George V.


Time da final: Alex Hunter – Tommy Clay e Bob McDonald – Bert Smith, Charlie Walters e Arthur Grimsdell – Jimmy Banks, Jimmy Seed, Jimmy Cantrell, Bert Bliss e Jimmy Dimmock.


Liga 1951

Com Alf Ramsey e Bill Nicholson (os dois primeiros em pé), os Spurs levaram a liga em 1951 (Foto: Getty).

Trinta anos depois de vencer pela segunda vez a FA Cup, o Tottenham retomou a tradição dos anos terminados em um com uma conquista inédita: a do campeonato da primeira divisão. E faria com estilo, graças a uma equipe histórica, que sob o comando de Arthur Rowe exibiria um modelo de jogo diferente, baseado em rápidas trocas de passes e triangulações. Era o chamado “push and run” (ou “empurre e corra”, algo equivalente a tocar e se deslocar para receber), que retomava o padrão de futebol bem jogado do clube.


O Tottenham tinha vindo direto da segunda divisão, onde demolira seus oponentes na temporada 1949-50, conquistando o título com nove pontos de vantagem e chegando a aplicar uma goleada de 7 a 0 sobre o terceiro colocado Sheffield United. E manteria o ritmo na elite. Uma sequência de oito vitórias entre 30 de setembro e 18 de novembro, que incluiu goleadas sobre Stoke (6 a 1), Portsmouth (5 a 1) e Newcastle (7 a 0), fez o time escalar a tabela, chegando à liderança em 30 de dezembro. De lá, não sairia mais.


A equipe – que havia cedido quatro jogadores à seleção inglesa para a Copa do Mundo de 1950, no Brasil, mesmo vindo de jogar a segunda divisão na temporada anterior ao Mundial – levantou seu primeiro título da elite com um jogo de antecipação ao bater o Sheffield Wednesday por 1 a 0, gol do centroavante Len Duquemin, em White Hart Lane no dia 28 de abril. Na campanha, os Spurs venceram 17 de seus 21 jogos em casa e somaram 60 pontos, quatro a mais que o vice Manchester United e dez a mais que o Blackpool, terceiro.


Entre os titulares, dois nomes que se consagrariam também como treinadores lendários do futebol inglês: o lateral-direito Alf Ramsey (cujo currículo dispensa apresentações) e o médio Bill Nicholson, de quem falaremos logo adiante.


Time-base: Ted Ditchburn – Alf Ramsey, Harry Clarke e Arthur Willis – Ron Burgess e Bill Nicholson – Sonny Walters, Les Bennett (Peter Murphy), Len Duquemin, Eddie Baily e Les Medley.


Dobradinha (Liga + FA Cup) 1961


Arthur Rowe permaneceu no comando dos Spurs até 1955, quando foi forçado a deixar o cargo por motivos de saúde. Com ele, o time chegou perto do bicampeonato em 1952, mas levou o troco do Manchester United, campeão com os mesmos quatro pontos de vantagem. Em seguida, o Tottenham entrou num curto declínio, do qual saiu em 1957 para ser de novo vice-campeão (novamente atrás dos Red Devils de Matt Busby), emendando com um terceiro lugar em 1958 sob o comando de Jimmy Anderson.


Até que Anderson acabou demitido em outubro de 1958, e em seu lugar entrou Bill Nicholson, o ex-jogador do clube que se tornara integrante da comissão técnica. Embora em sua estreia no comando o Tottenham tenha atropelado o Everton por 10 a 4 num jogo pela liga em White Hart Lane, seu efeito transformador sobre a equipe só seria notado na temporada seguinte, quando os Spurs terminaram em terceiro, a dois pontos do campeão Burnley, depois de terem brigado contra o descenso no ano anterior.

O lendário esquadrão da dobradinha posa com as taças.

O novo Tottenham gravitava em torno do lendário Danny Blanchflower, médio norte-irlandês de estilo elegante e excelente visão de jogo, além de líder em campo e um homem muito articulado fora dele. Mas havia outros trunfos: uma defesa firme, dois pontas muito velozes e dribladores, um sólido cão de guarda em Dave Mackay, um armador dinâmico em John White e uma dupla de goleadores em Bobby Smith e Les Allen. Um time pronto para, na temporada seguinte, entrar para a história do futebol inglês.


Havia na época um mito de que fazer a chamada “dobradinha” (ou seja, conquistar numa mesma temporada o campeonato e a Copa da Inglaterra, as duas principais competições do país) havia se tornado um feito impossível naquele século, devido ao absurdo desgaste físico imposto pelo calendário. A última vez que um mesmo time vencera ambos os torneios havia sido o Aston Villa em 1897. Naquele intervalo de 63 anos muitos clubes chegaram perto, mas fracassaram em uma das frentes. Ou, pior ainda, nas duas.


Aconteceu então de o Tottenham disparar na primeira metade do campeonato. Venceu seus 11 primeiros jogos. Na virada do ano, somava 22 vitórias em 25 jogos, 46 pontos ganhos em 50 disputados. Num tempo de vitória valendo dois pontos, eram dez de vantagem para o vice-líder Wolverhampton. Era uma campanha tão avassaladora que por volta do Natal os “bookmakers” pararam de aceitar apostas no título dos Spurs. E essa enorme diferença permitiu que o time se concentrasse na FA Cup no início de 1961.


Enquanto se permitia oscilar na liga, queimando a gordura acumulada, o time bateu em sequência o Charlton (3 a 2) e o Crewe (5 a 1) em White Hart Lane, foi até Birmingham eliminar o Aston Villa (2 a 0), goleou o Sunderland em casa por 5 a 0 no replay, após empate em 1 a 1 no Roker Park, e em 18 de março bateu o Burnley, então detentor da liga, por um categórico 3 a 0 no campo neutro do Villa Park pelas semifinais. Garantidos na decisão em Wembley, os Spurs já podiam voltar a se dedicar ao campeonato.


A partir de 31 de março, o Tottenham iniciaria a série de cinco vitórias que confirmariam o título da liga. O time de Bill Nicholson bateu duas vezes o Chelsea (4 a 2 em White Hart Lane e 3 a 2 em Stamford Bridge), goleou o Preston em casa (5 a 0), derrotou o Birmingham na visita a St. Andrew’s (3 a 2) e selou a conquista superando em casa seu principal perseguidor, o Sheffield Wednesday, por 2 a 1 (gols de Bobby Smith e Les Allen), abrindo oito pontos de vantagem com apenas três rodadas pela frente.

O Tottenham encerraria sua campanha na liga com 31 vitórias, quatro empates e sete derrotas, estabelecendo o novo recorde de pontos ganhos (66) para um campeonato da primeira divisão com 22 equipes e marcando impressionantes 115 gols, número que não era registrado na elite desde 1935. Mas ainda faltava realizar o sonho da dobradinha. O oponente na final era o bom time do Leicester dirigido por Matt Gillies, sexto colocado na liga e com um jovem Gordon Banks, 23 anos, em grande forma no gol.


Nos primeiros 15 minutos, os Spurs levaram certo sufoco. Mas quando o lateral-direito dos Foxes, Len Chalmers, torceu o joelho numa disputa de bola e teve de continuar em campo apenas fazendo número, as coisas ficaram um pouco mais fáceis. Depois de ter um gol de Cliff Jones anulado por impedimento aos 38 minutos do primeiro tempo, o Tottenham enfim marcaria duas vezes na etapa final com Bobby Smith e Terry Dyson, vencendo a copa, completando a dobradinha e escrevendo seu nome na história.


Time-base da liga e time da final da copa: Bill Brown – Peter Baker, Maurice Norman e Ron Henry – Dave Mackay e Danny Blanchflower – Cliff Jones, John White, Bobby Smith, Les Allen e Terry Dyson.


Copa da Liga 1971


Após um período de transição em meados dos anos 1960 (o qual, a despeito de algumas fracas campanhas na liga, ficaria marcado por mais uma conquista da FA Cup em 1967, sobre o Chelsea), Bill Nicholson pacientemente construiria um novo ótimo time para os Spurs, que deslancharia no início da década seguinte, ao levantar pela primeira vez o título da Copa da Liga (competição instituída dez anos antes), batendo o Aston Villa por 2 a 0 na final em Wembley, disputada em 27 de fevereiro de 1971.

Os capitães Brian Godfrey (Villa) e Alan Mullery (Spurs) aguardam o sorteio inicial.

Os Villains se recuperavam após experimentarem o ponto mais baixo de sua história, ao descerem até a terceira divisão naquela temporada. Mas ainda assim seu time incluía caras conhecidas, como o centroavante grandalhão Andy Lochhead e o armador Bruce Rioch (que mais tarde se sagraria campeão inglês com o Derby em 1975, jogaria a Copa de 1978 pela Escócia e, nos anos 1990, seria o treinador responsável por trazer Dennis Bergkamp para o Arsenal). E vinha de eliminar o Manchester United nas semifinais.


Os Spurs tinham tido um caminho sem sustos, batendo com facilidade, e sempre em White Hart Lane, o Swansea (3 a 0), o Sheffield United (2 a 1), o West Brom (5 a 0) e o Coventry (4 a 1), até serem mais exigidos na semifinal, contra um surpreendente Bristol City. A vaga só foi confirmada com um 2 a 0 na prorrogação do jogo de volta, após empates fora de casa (1 a 1, na ida) e em casa (0 a 0 após os 90 minutos). Na decisão, porém, o clube teria o desfalque de seu imponente zagueirão galês Mike England, lesionado.


Em Wembley, o resiliente Aston Villa segurou o 0 a 0 até os minutos finais, quando Martin Chivers, implacável artilheiro dos Spurs naquela primeira metade dos anos 1970, apareceu para decidir com dois gols em quatro minutos. O título daquela Copa da Liga valeria ainda ao Tottenham a vaga na edição inaugural da Copa da Uefa, em 1971-72, a qual o clube londrino acabaria conquistando em final inglesa contra o Wolverhampton.


Time da final: Pat Jennings – Joe Kinnear, Peter Collins, Phil Beal e Cyril Knowles – Steve Perryman, Alan Mullery, Martin Peters e Jimmy Neighbour – Alan Gilzean e Martin Chivers.


FA Cup 1981


Bill Nicholson deixou o Tottenham em 1974 e o clube viveu rápido declínio até o descenso em 1977, já com Keith Burkinshaw no comando. Mesmo com a queda, o técnico seguiu no cargo, trouxe os Spurs de volta logo no ano seguinte e começou a remodelar a equipe, tendo como referências o jovem talento do armador Glenn Hoddle, além de dois argentinos contratados logo após vencerem a Copa do Mundo: Osvaldo Ardiles e Ricardo Villa. E o trio passou a formar, do meio-campo, o pilar de sustentação da equipe.

O elenco que recolocou os Spurs no caminho das conquistas nos anos 1980.

E a primeira chance real de recolocar os londrinos no caminho das conquistas veio na FA Cup de 1981, quando o time deixou pelo caminho Queens Park Rangers, Hull, Coventry e Exeter antes de uma semifinal épica diante do Wolverhampton: o 2 a 2 em Hillsborough, com o gol de empate dos Wolves saindo de pênalti no último minuto, levou a decisão da vaga a um replay em Highbury, casa do arquirrival Arsenal. O elétrico atacante Garth Crooks anotou dois antes de Ricky Villa marcar um golaço e fechar o 3 a 0.


Na decisão, o oponente seria o Manchester City, que também parecia entrar nos trilhos após um período de oscilações. Em julho de 1979, o clube havia trazido de volta o técnico Malcolm Allison, aquele que, junto com o lendário Joe Mercer, comandara o clube em sua era de ouro, quando conquistou quatro taças em três anos entre 1968 e 1970. Porém, a volta de Big Mal se revelaria um desastre, com talentos da base sendo negociados, jogadores medianos trazidos a peso de ouro, campanhas fracas e eliminações vexatórias.


Allison seria demitido em outubro de 1980, com o ex-técnico do Norwich, John Bond, assumindo o posto e levando o time à decisão. E o City andou muito perto de levar a taça: vencia por 1 a 0, gol de Tommy Hutchinson de cabeça, até a 12 minutos do fim, quando Ardiles tomou uma bola na intermediária e arrancou até ser derrubado perto da área. Hoddle bateu a falta contornando a barreira, a bola pegou no ombro do mesmo Hutchinson e desviou totalmente do goleiro Joe Corrigan, tomando o rumo das redes.


O replay aconteceria novamente em Wembley, no dia 14 de maio, uma quinta-feira (cinco dias após a primeira partida). E Villa, que deixara o gramado insatisfeito ao ser substituído no sábado, acabaria se tornando o grande personagem do jogo. Primeiro, o argentino pegou a sobra de um lance confuso na área para abrir o placar. Mas o City empatou com um gol maravilhoso de Steve MacKenzie, acertando de primeira um voleio de fora da área, e virou no início da etapa final com Kevin Reeves cobrando pênalti.

O Tottenham, porém, não se deu por vencido e empatou na metade do segundo tempo, com Crooks se esticando para completar uma jogada de Steve Archibald. E aos 31 minutos, Villa voltaria a aparecer: o meia argentino recebeu de Tony Galvin e arrancou para fazer um carnaval na defesa do City. Passou por Tommy Caton e Ray Ranson, cortou para dentro para driblar Caton novamente e tocou na saída de Corrigan para marcar o que seria eleito em 2001 o “Gol do Século de Wembley”. Uma volta por cima e tanto.


Time da final: Milija Aleksic – Steve Perryman, Paul Miller, Graham Roberts e Chris Hughton – Ricardo Villa, Glenn Hoddle, Osvaldo Ardiles e Tony Galvin – Steve Archibald e Garth Crooks.


FA Cup 1991


O Tottenham levaria o bi da FA Cup em 1982 e levantaria a Copa da Uefa em dramática decisão nos pênaltis com o Anderlecht em 1984. Mas a saída repentina de Keith Burkinshaw ao fim daquela temporada deixaria os torcedores perplexos. Nos seis anos seguintes, apesar do bom desempenho na liga (segundo lugar empatado em pontos com o Liverpool em 1985 e terceiro em 1987 e 1990), os Spurs perderiam pela primeira vez uma final da FA Cup em 1987 ao caírem para o Coventry na prorrogação.


A velha tradição copeira só retornou na FA Cup de 1991, bem num momento em que o clube enfrentava delicada situação financeira. E se Ricky Villa foi o motor do título de dez anos antes, desta vez o grande inspirador – pelo menos na caminhada até a final – seria o meia Paul Gascoigne. A campanha começou com uma vitória apertada fora de casa diante do Blackpool (então na quarta divisão) por 1 a 0, gol de Paul Stewart. Mas já a partir do jogo seguinte, contra o Oxford United, Gazza começou a brilhar.

Gascoigne com Lineker: dupla campeã nos Spurs em 1991.

O meia, que vinha de se destacar na Copa do Mundo de 1990, marcou duas vezes e participou dos gols de Gary Mabbutt e Gary Lineker na vitória por 4 a 2 em White Hart Lane. E nas duas etapas seguintes ele voltaria a ser decisivo: primeiro marcando os dois gols da virada sobre o Portsmouth (2 a 1) em Fratton Park. Depois, anotando nos minutos finais o gol da vitória em outra virada por 2 a 1, agora diante do Notts County em White Hart Lane. E então veio a semifinal diante do arquirrival Arsenal, em Wembley.


Era a primeira vez que um jogo anterior à final da FA Cup era disputado no maior palco britânico. Os Gunners, então com o título da liga praticamente assegurado, buscavam a dobradinha. Mas Gascoigne abriu o placar com um golaço de falta até hoje lembrado. Depois, Lineker só cutucou para dentro uma bola mal espanada pela defesa e ampliou. Alan Smith, de cabeça, descontou para o Arsenal, mas Lineker apareceu outra vez para definir o placar com um chute cruzado que David Seaman não conseguiu segurar.


Depois da atuação memorável nas semifinais, os Spurs enfrentariam na decisão um bom time do Nottingham Forest, ainda treinado por Brian Clough e vindo de um bicampeonato na Copa da Liga em 1989 e 1990. Com os olhos voltados para Gazza, o meia começou o jogo estranhamente “pilhado”: deu duas entradas feias, uma em Garry Parker e outra em Gary Charles, e poderia ter sido expulso. Mas esta segunda comprometeria sua presença em campo: uma grave lesão no joelho sofrida no lance acabaria por tirá-lo do jogo.


A perda de seu principal criador de jogadas detonaria uma incrível sequência de situações desfavoráveis ao Tottenham. Na cobrança da falta de Gascoigne em Gary Charles, Stuart Pearce abriu o placar com um petardo. Em seguida, Lineker teve um gol muito mal anulado por impedimento. E logo depois, o mesmo Lineker entrou na área e foi derrubado pelo goleiro Mark Crossley quando ia driblá-lo. Mas o artilheiro veria seu chute da marca da cal ser defendido pelo arqueiro do Forest. Tudo isso ainda no primeiro tempo.

O time dirigido por Terry Venables (meia-armador da equipe campeã da FA Cup em 1967) se recompôs no intervalo e conseguiu o empate logo no início da etapa final, num chute cruzado de Paul Stewart. E o placar de 1 a 1 persistiria até o fim do segundo tempo, levando a decisão para a prorrogação. E a senha para a virada chegaria numa cabeçada de Paul Walsh que acertou o travessão, antes de ser colocada para escanteio pela defesa do Forest. Na cobrança do córner, o zagueiro Des Walker mergulhou e marcou contra.


Com sua oitava conquista, o Tottenham se tornaria de maneira isolada o maior vencedor da competição mais antiga do mundo, desempatando com o Aston Villa e o Manchester United (que havia levantado seu sétimo caneco justamente no ano anterior).


Time da final: Erik Thorstvedt – Pat Van Den Hauwe, Steve Sedgley, Gary Mabbutt e Justin Edinburgh – Paul Allen, David Howells, Paul Gascoigne (Nayim) e Vinny Samways (Paul Walsh) – Paul Stewart e Gary Lineker.

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