top of page
  • Foto do escritorEmmanuel do Valle

Há 40 anos, Southampton repatriava Keegan e surpreendia o futebol inglês


A notícia caiu como uma bomba no meio futebolístico britânico naquele 11 de fevereiro de 1980, há 40 anos: o Southampton – então um clube de pequeno porte, mas ambicioso – anunciava a contratação de Kevin Keegan, então o maior astro do futebol inglês, para a temporada seguinte. O atacante retornava ao país após um exílio de três temporadas no Hamburgo. E o clube fazia planos de conquistar o título e se colocar entre os grandes. Relembramos aqui toda a história da transferência e a passagem do camisa 7 pelos Saints.


GRANDES EXPECTATIVAS


Fundado em 1885, o Southampton entrara para a Football League na grande expansão que criou a terceira divisão, em 1920. O clube subiu para a segunda em 1922 e chegou a voltar para a terceira entre 1953 e 1960, até enfim ser promovido para a categoria máxima do futebol inglês em 1966, estreando na elite na temporada seguinte à conquista da Copa do Mundo pelos Three Lions. Rebaixado em 1974, voltaria à primeira divisão em 1978.


Nesse interim, porém, os Saints haviam surpreendido o país pela primeira vez ao levantarem o primeiro caneco de sua história, a FA Cup de 1976. E em grande estilo, batendo o favorito Manchester United por 1 a 0 em Wembley. Seu técnico já era então Lawrie McMenemy, um grandalhão de 1,93 metro e 40 anos de idade cuja carreira de jogador de futebol no pequeno Gateshead havia sido interrompida precocemente devido a uma séria lesão.


McMenemy tinha ambições futebolísticas proporcionais à sua estatura. Queria colocar seu nome na história do futebol inglês entre os treinadores que elevaram clubes de patamar. Que criaram gigantes. O exemplo de Brian Clough, pelo que havia feito no Derby County e especialmente no Nottingham Forest, levando da segunda divisão ao título europeu, estava bem próximo. Os dois treinadores, aliás, se enfrentariam na final da Copa da Liga de 1979.



Aquela final, a segunda dos Saints em Wembley e apenas três anos depois da conquista da FA Cup, foi vencida pelo Forest de Clough por 3 a 2. Na liga, na temporada que marcou o retorno à elite, o clube ficou em 14º lugar, classificação modesta, mas suficiente para se estabilizar e permitir voos maiores. Que já viriam na campanha seguinte, 1979-80, quando o clube terminou em oitavo e teve Phil Boyer como artilheiro do campeonato com 23 gols.


Naquela que era apenas a décima temporada dos Saints na primeira divisão em sua história, o clube terminou à frente de times com potencial de investimento maior, como Leeds, Tottenham, Manchester City e Everton. O elenco era bom, mesclando jovens, alguns poucos remanescentes do título de 1976, outros nomes tarimbados trazidos para encorpar a equipe e até um estrangeiro, artigo raro na época. Mas havia margem para crescer.

A CONTRATAÇÃO QUE CHOCOU O REINO UNIDO


Ninguém, porém, poderia imaginar o que viria pela frente quando McMenemy anunciou uma nababesca coletiva de imprensa marcada para 11 de fevereiro de 1980 no hotel Potters Heron, um três-estrelas situado numa área rural da localidade de Ampfield, próxima a Southampton. Atuando como mestre de cerimônias, o técnico iniciou sua fala recapitulando os progressos vividos pelo clube – então em terceiro lugar na liga – nos últimos tempos.


Até que finalmente, diante da interrogação geral, ele anunciou o verdadeiro motivo da coletiva: apresentar “alguém que terá papel fundamental no futuro do clube”. E, por uma porta lateral da sala de reuniões, entrou Kevin Keegan. O espanto foi tamanho que todos os jornalistas se levantaram e aplaudiram. Ali acabava de ser revelado um dos segredos mais bem guardados da história do futebol inglês. E uma das transferências de maior impacto.



O atacante Kevin Keegan era o maior astro do futebol inglês naquele momento e vencedor do prêmio de melhor jogador da Europa nos dois últimos anos. Revelado pelo pequeno Scunthorpe, foi pescado por Bill Shankly para o Liverpool por uma mixaria em 1972 e conduziria o time no início do período de domínio dos Reds no país, além de levantar suas primeiras taças continentais: a Copa da Uefa de 1973 e a Copa dos Campeões de 1977.


Keegan não era um jogador naturalmente talentoso. No Scunthorpe, não passava de um ponta-direita de técnica limitada, mas que chamava a atenção por outras qualidades: tinha fôlego e espírito de luta fora do comum. Lapidado pacientemente por Bill Shankly, tornou-se um jogador decisivo. Não dava sossego aos defensores com seus deslocamentos constantes e formou uma parceria goleadora com o galês John Toshack.


Logo depois de ser vencer o principal título europeu com o Liverpool, Keegan anunciou que estava deixando o país, contratado pelo Hamburgo pela soma que bateria o recorde tanto na Inglaterra quanto na Alemanha Ocidental. Após um difícil período inicial de adaptação, ele aos poucos se ambientou aos novos clube e país e conquistou os colegas de time e os torcedores ao vencer a Bundesliga em 1979, encerrando jejum de 19 anos dos hanseáticos.


No Hamburgo: campeão alemão e duas vezes o melhor da Europa.

Em seus dois primeiros anos completos no clube, Keegan seria ainda eleito o Jogador Europeu do Ano, recebendo a prestigiosa Bola de Ouro da revista France Football. Na ocasião, além dele, apenas Di Stéfano, Beckenbauer e Cruyff haviam levado o prêmio por duas ou mais vezes. E em 1980, ele ainda levaria o Hamburgo à sua primeira final da Copa dos Campeões, após eliminar o Real Madrid com uma goleada de 5 a 1 na Volksparkstadion.


Por ironia, ele perderia o título europeu para um clube inglês, o Nottingham Forest. Antes disso, porém, no início de fevereiro, Keegan comunicou aos diretores do Hamburgo que deixaria o clube ao fim da temporada, quando seu contrato expiraria. A causa era sua insatisfação com os rígidos métodos de treino e preparação física impostos pelo técnico iugoslavo Branko Zebec – por quem, esse ponto à parte, o atacante tinha grande respeito.



Um jogador do status de Keegan poderia sair para qualquer gigante europeu. Com efeito, nos anos anteriores a imprensa ventilou propostas do Real Madrid, da Juventus (mesmo ainda com a importação proibida no futebol italiano) e do Washington Diplomats, clube da liga norte-americana em que jogava Johan Cruyff. Mas a vontade do atacante de retornar ao seu país acabou prevalecendo após uma conversa informal com Lawrie McMenemy.


O técnico havia telefonado para o jogador por um motivo aparentemente trivial: tinha interesse em um certo tipo de luminária para sua casa que era fabricado em Hamburgo. Mas de uma ligação para outra foi deixando a ideia de que vinha formando um bom time no Southampton, e que o clube estaria de portas abertas para o atacante, já sabendo que ele havia decidido retornar ao futebol inglês. Aos poucos, Keegan foi se convencendo.


O Liverpool tinha uma cláusula de recompra de Keegan em seu contrato de venda ao Hamburgo. Mas McMenemy procurou o chefe executivo dos Reds, Peter Robinson, que lhe garantiu não haver interesse em trazer o atacante de volta. Afinal, o clube de Merseyside estava plenamente satisfeita com Kenny Dalglish, o substituto que havia trazido em 1977. O caminho estava aberto para a transferência que chocaria o Reino Unido.

A primeira foto de Keegan com a camisa dos Saints.

Avaliada em £420 mil, a transferência foi considerada uma barganha para o futebol inglês, que vinha acompanhado uma vertiginosa escalada de valores desde que o Nottingham Forest havia desembolsado £1 milhão pelo atacante Trevor Francis, do Birmingham, um ano antes. Após a apresentação, Keegan voltaria ao Hamburgo para jogar o resto da temporada alemã, seguindo então para a Itália, onde disputaria a Eurocopa com a Inglaterra.


Além de chocar os jornalistas presentes, o anúncio da contratação trouxe dividendos ao clube, que previa um crescimento exponencial na receita de bilheteria. Várias empresas abordaram o Southampton com o intuito de explorar comercialmente as marcas dos Saints e de seu novo craque. Por fim, a equipe recebeu convites para excursionar pela Holanda, Alemanha Ocidental e Oriente Médio com cota livre, a reboque da presença do astro inglês.


Além de reconhecido como um dos principais jogadores do continente, Keegan também era uma enorme personalidade midiática no Reino Unido, lançando moda com seu corte de cabelo cacheado e cheio ao estilo permanente e se aventurando como cantor, lançando um par de singles que fizeram certo sucesso nas paradas britânicas. Por tudo isso, o impacto da contratação transcendia o meio do futebol e ajudava a popularizar a marca do clube.

OS BONS COADJUVANTES PARA UM ASTRO


Em campo, Keegan teria bons nomes para escudá-lo. Na zaga, dois nomes de seleção: o inglês David Watson (ex-Sunderland e Manchester City, e curiosamente também com passagem pelo futebol alemão defendendo o Werder Bremen) e o norte-irlandês Chris Nicholl (ex-Aston Villa). No meio, Nick Holmes (no clube desde 1972) compunha o setor com dois talentos emergentes dos Saints: o dinâmico Steve Williams e Graham Baker.


No ataque, a experiência dava o tom, com os veteranos Mick Channon (considerado um dos maiores jogadores da história do clube, além de um dos melhores amigos de Keegan no futebol), Charlie George (o antigo garoto-prodígio do Arsenal no time da dobradinha de 1971) e Phil Boyer, o artilheiro da primeira divisão em 1980. Somava-se a eles o jovem e explosivo talento Steve Moran, de apenas 19 anos e recém-promovido da base.


Chris Nicholl, Dave Watson, Keegan, Mick Channon e Charlie George: o Southampton esbanjava experiência.

Ainda naquela temporada, o clube contaria mais uma vez com o veteraníssimo meia Alan Ball, 37 anos, ex-Blackpool, Everton, Arsenal e campeão mundial com a Inglaterra em 1966. Era outro nome que provia um toque de bola de qualidade no setor de criação. E o número de não-britânicos no elenco aumentara: além do lateral iugoslavo Ivan Golac, que se tornaria ídolo, o goleiro Ivan Katalinic, seu compatriota, chegara do Hajduk Split.


O Southampton teria início fulminante na temporada 1980-81, com quatro vitórias e apenas um empate (1 a 1 com o Arsenal em Highbury) nos primeiros cinco jogos. O primeiro gol de Keegan sairia na quarta rodada: o terceiro dos 3 a 1 sobre o Birmingham no antigo estádio de The Dell. O clube só não alcançou a liderança do campeonato naquela sequência por ficar atrás, no saldo de gols, de um Ipswich que largara de modo igualmente arrasador.


Keegan, porém, começou a se ver às voltas com problemas físicos, influindo no rendimento da equipe, que começou a perder muitos pontos, somando apenas uma vitória nos 11 jogos seguintes pela liga. Houve ainda uma eliminação vexatória na Copa da Liga, diante do Watford de Graham Taylor, então na segunda divisão: vencedor por 4 a 0 em casa no jogo de ida, o time acabou goleado por 7 a 1, após prorrogação, na volta em Vicarage Road.



Depois de chegar a despencar para a 15ª colocação no início de novembro, o time fez as pazes com uma vitória sobre o Arsenal. Perdendo por 1 a 0 no intervalo, a equipe reagiu com uma ótima atuação no segundo tempo e virou para 3 a 1. E, exceto por uma derrota por 3 a 0 na visita ao Manchester City dali a quatro dias, engrenaria excelente sequência até o começo de fevereiro, com nove vitórias em 13 jogos que levariam o clube ao quarto lugar.


Dentro daquela série, o destaque ficou para as cinco partidas que marcaram a virada do ano, nas quais o ataque dos Saints mostrou todo o seu poder de fogo, balançando as redes nada menos que 18 vezes. Primeiro, o time fez 4 a 2 no Crystal Palace. Na rodada de Boxing Day, foi a White Hart Lane e arrancou um 4 a 4 com o Tottenham. Um dia depois, goleou o Leicester em casa por 4 a 0. Já em janeiro, bateu Leeds e Birmingham fora de casa por 3 a 0.


Keegan ficou de fora dos dois primeiros jogos, mas contribuiu abrindo o placar contra os Foxes e fechando a contagem contra o Birmingham. A boa sequência, no entanto, foi encerrada no fim de fevereiro, quando os Saints empataram em casa com o West Bromwich Albion (2 a 2) e foram batidos por 2 a 0 nas visitas ao Brighton e ao Liverpool – na primeira vez em que o atacante enfrentaria seu ex-clube em Anfield após voltar ao futebol inglês.


O novo ídolo dos Saints se redimiria nos três jogos seguintes, anotando o gol da vitória (1 a 0) sobre o Manchester United em The Dell e os dois do triunfo sobre o Stoke fora de casa (2 a 1), além de abrir o placar nos 3 a 0 sobre o Everton. Uma quarta vitória – 1 a 0 no Middlesbrough, gol de Steve Moran – chegou a levar o time ao terceiro lugar. Mas a derrota para o então vice-líder Aston Villa em Birmingham por 2 a 1 encerrou o sonho do título.


O Southampton acabaria aquela temporada em sexto lugar, melhor colocação de sua história até ali, somando 50 pontos – apenas um a menos que o Liverpool – e superando o sétimo posto obtido em 1969 e 1971. Seu ataque havia balançado as redes impressionantes 76 vezes – um gol a menos que o do Ipswich, o mais positivo da primeira divisão. E garantira vaga na Copa da Uefa, trazendo o time ao cenário europeu após quase cinco anos.

A SEGUNDA TEMPORADA


O elenco em 1981-82, com o carequinha David Armstrong, e McMenemy (ao centro) ladeado por Keegan e Alan Ball.

Para a campanha seguinte, o time – que havia perdido Phil Boyer, negociado com o Manchester City em novembro de 1980 – também se desfez de Charlie George. Ao longo da temporada, ainda liberaria Dave Watson para o Stoke. Por outro lado, em agosto de 1981 o time quebrara seu recorde de transferências pagando £600 mil ao Middlesbrough pelo armador David Armstrong. Com tantas mudanças, o início foi irregular.


Nos primeiros 12 jogos, o time venceu cinco jogos, empatou dois e foi derrotado em outros cinco – incluindo pesados revezes nas visitas ao West Ham (4 a 2), Coventry (4 a 2) e Birmingham (4 a 0). No início de novembro, porém, a maré começou a virar: a partir de uma vitória por 2 a 0 sobre o Stoke no Victoria Ground, a defesa que até ali vinha ostentando a média de quase dois gols sofridos por partida passou quatro jogos sem ser vazada.


O time goleou o Leeds por 4 a 0 e segurou um 0 a 0 diante dos Wolves no Molineux. Até partir para Anfield, onde Keegan mais uma vez reencontraria sua antiga torcida. Os Saints se defenderam bem durante toda a partida. E a dois minutos do fim do jogo, Keegan encontrou Steve Moran, que venceu a linha de impedimento dos Reds, driblou Bruce Grobbelaar e, mesmo pressionado, tocou para as redes, selando uma vitória histórica.


Ivan Katalinic enfim seria batido por Frank Stapleton logo no começo do jogo seguinte, contra o Manchester United em The Dell. Mas o time reagiria virando com Moran e Keegan, veria os Red Devils empatarem com Bryan Robson, mas de novo venceriam no fim, com gol de Armstrong no último minuto. Em meio ao perde-e-ganha geral na primeira temporada em que a vitória valia três pontos, a sequência positiva foi levando os Saints adiante.


A derrota para o Brighton fora de casa, três dias depois, seria a única pela liga na sequência de 15 partidas entre o início de novembro e meados de fevereiro. Uma vitória sobre um surpreendente Swansea, que fazia ótima campanha, recolocou o time no rumo certo. Os Saints adentraram 1982 empatando com o Everton no Goodison Park (1 a 1) e derrotando o Arsenal em The Dell (3 a 1), antes de viajar para enfrentar o Middlesbrough.


Em Ayresome Park, logo aos oito minutos, Alan Ball fez um belo passe para Keegan por entre a defesa do Middlesbrough. O atacante driblou o goleiro Jim Platt e, mesmo quase sem ângulo, conseguiu tocar para as redes. O Boro teve a chance do empate num pênalti, mas o meia Bobby Thomson chutou para fora. Com a vitória confirmada ao apito final, o Southampton teve ainda outros dois motivos para celebrar.


No Vetch Field, naquela mesma tarde de 30 de janeiro, o Manchester United foi batido pelo Swansea por 2 a 0. Enquanto isso, em Portman Road, o Ipswich foi surpreendido pelo Notts County, sendo derrotado por 3 a 1. Com essa combinação de resultados, um fato inédito se desenhava: pela primeira vez em quase um século de história da liga inglesa o Southampton alcançava a liderança isolada da primeira divisão.


Keegan no jogo em que levaria o Southampton ao topo da tabela, contra o Boro em Ayresome Park.

Nos primeiros jogos após chegar ao topo da tabela, o time obteve resultados consistentes, que reiteravam sua ambição de levantar o título inédito: venceu o Manchester City (2 a 1) e o Nottingham Forest (2 a 0) em casa e chegou a sair na frente com gol de Keegan na partida contra o Aston Villa em Birmingham, antes de os atuais campeões da liga – e a caminho do título europeu – empatarem com Peter Withe.


No dia 16 de fevereiro, o time viajou até Portman Road para enfrentar o sétimo colocado Ipswich e voltou de lá com uma pesada derrota por 5 a 2 (o escocês Alan Brazil anotou os cinco dos Tractor Boys). Era um sinal de que o time começava a perder a coesão que o levara à liderança. Duas vitórias seguidas em casa sobre West Ham (2 a 1) e Birmingham (3 a 1) ainda ajudaram a segurar as pontas, mas a equipe logo começaria a desabar.


O time adentrou março com uma boa vantagem na ponta: somava 53 pontos contra 49 do Swansea, 47 do Manchester United, 45 de Liverpool e Arsenal, 44 do Ipswich e 43 do Tottenham. Porém, também tinha feito mais jogos que todos eles – havia cumprido, por exemplo, cinco partidas a mais que os Tractor Boys e os Spurs. Num certame que já contava três pontos por vitória, os perseguidores tinham margem para ultrapassá-lo.



E foi o que aconteceu, agravado pelo fragoroso declínio dos Saints na reta final: nas últimas 14 partidas, o time venceu apenas três e perdeu sete – entre elas, revezes pesados como um 3 a 0 em casa para o Aston Villa e um 4 a 1 para o Arsenal em Highbury na despedida. E o time também passou a acumular atuações absolutamente malucas, oscilando com frequência absurda dentro de um mesmo jogo.


Contra o Tottenham em White Hart Lane, saiu perdendo por 3 a 0 e descontou para 3 a 2. Contra o Stoke em casa, abriu três gols de frente e permitiu o empate do adversário, antes de conseguir salvar os três pontos com um quarto gol nos minutos finais. E também em The Dell, diante do Coventry, viu os visitantes marcarem 1 a 0, 2 a 1, 3 a 2 e 4 a 3 antes de conseguir enfim passar à frente – e logo depois ceder o empate em 5 a 5.


A campanha muito irregular fez com que o time fosse destronado de vez da liderança no começo de abril e fosse despencando tabela abaixo até amargar apenas a sétima colocação, com 66 pontos – 21 atrás do campeão Liverpool. E todos os perseguidores citados com jogos a menos que os Saints no início de março terminariam à frente da equipe na classificação final após as 42 rodadas. E os números deixavam lições.

FIM DE RELACIONAMENTO


Seu ataque seguia acima da média: com 72 gols marcados, foi o terceiro melhor do campeonato, atrás apenas de Ipswich e Liverpool. Mas a defesa se mostrava abaixo da crítica, deixando passar impressionantes 67 gols – só o Notts County sofreu mais. Mesmo os rebaixados Leeds, Wolves e Middlesbrough registraram números menos desastrosos. Essa era uma das grandes frustrações do sempre competitivo Keegan.


Até porque seu desempenho individual havia sido destaque: com 26 gols em 41 jogos, sagrou-se artilheiro do campeonato pela primeira (e única) vez na carreira. No total, balançou 30 vezes em 48 jogos, sendo aquela sua temporada mais prolífica. E ainda foi eleito o Jogador do Ano pela Associação de Jogadores Profisssionais. Com todos esses lauréis, ele embarcaria com a seleção inglesa para o Mundial da Espanha.


Disputar a Copa pela Inglaterra e tentar levar os Three Lions ao bicampeonato mundial era uma das ambições pessoais que haviam motivado Keegan a retornar ao futebol inglês, dois anos antes. Porém, uma persistente dor na coluna que começou a incomodá-lo às vésperas do início do torneio prejudicaria sua participação: ele só jogaria uma partida, saindo do banco no empate em 0 a 0 com a Espanha, no jogo da eliminação inglesa.


Amargando outra frustração, Keegan decidiu que era hora de deixar o Southampton, já que também não vinha se entendendo com Lawrie McMenemy. Em 16 de agosto, em outra transferência surpreendente, o atacante era anunciado como o novo reforço do Newcastle, então na segunda divisão, por uma barganha: £100 mil. Por ironia, nove dias depois o treinador dos Saints enfim reforçaria sua defesa contratando Peter Shilton.

Em 1984, Keegan se despediria do futebol depois conseguir, em seu segundo ano no Newcastle, levar a equipe – que contava ainda com o experiente Terry McDermott e os promissores Chris Waddle e Peter Beardsley – de volta à primeira divisão. Na mesma temporada, coincidentemente, o Southampton de Lawrie McMenemy terminaria o campeonato da primeira divisão como vice-campeão, até hoje sua melhor classificação.



503 visualizações0 comentário
bottom of page